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21.4.20

À MÉDIA LUZ - PARTE VII


Sentaram-se. Ela voltou o rosto para a pista, para não ter de o olhar. Ele irritou-se. Inclinou-se para a frente e vociferou.
-Vais ou não falar, raios! Que diabo te passou pela cabeça para ires para o escritório, armada em camafeu? Para me ridicularizares?
- O regulamento da empresa, é omisso quanto a vestuário. Além disso fui contratada como secretária e sempre exerci exemplarmente a minha função.
- Olha para mim, Sandra. Quero entender o que se passa. Estás há seis meses como minha secretária. Sabes tudo o que se passa naquela empresa. E hoje descubro, por acaso, que me tens andado a enganar. Quem és tu? Uma espia comercial? Que diabo pretendias? Roubar algum dos meus projetos? E quem está por trás de ti?
-Espia comercial? O senhor não está bom da cabeça - disse nervosa.
Ele sorriu. Mais do que um sorriso parecia um esgar.
- Então é isso. Não negues, ficaste nervosa. Como é, queres falar agora, ou chamo a polícia e denuncio-te? - disse tirando o telemóvel, como se pretendesse fazer uma chamada.
Sentiu um nó na garganta, e um aperto no peito, como se toda a dor daqueles quase quatro anos, em que o pai estava preso, aí se tivessem concentrado.
- Faça como entender. Mais um, menos um pouco importa. Mandar inocentes para a prisão, deve ser mesmo o maior dos seus projetos – disse com raiva. 
Todos os músculos do homem se tornaram rígidos com o insulto. A sua voz soou cortante. 
- Levanta-te. Sem fitas nem escândalo. Vamos até ao jardim. Aqui está muita gente.
-E se eu não quiser ir?
- Tu não tens limites, pois não? Primeiro insultas-me, depois desafias-me.  Queres mesmo que te mostre do que sou capaz?
Ela não respondeu. Levantou-se e dirigiu-se ao jardim, seguida de perto por ele.
Afastaram-se da porta, procurando um local mais sossegado.
- Senta-te e fala. Que indireta, foi aquela lá dentro?
- Que indireta? Não me lembro.
As mãos dele cravaram-se como garras nos ombros femininos, apertando com tal força, que as lágrimas lhe chegaram aos olhos.
- Por favor, - suplicou. Está a magoar-me.
Afrouxou a pressão.
- Não brinques comigo, Sandra. Aquela firma, é toda a minha vida. Lutei muito por ela, e privei-me de muita coisa para que chegasse ao que é hoje.  Não vou permitir que ninguém me roube o que é meu. Não estou para brincadeiras. Quero saber, quem te paga, e o que é que tinhas que dar em troca. Agora, ou chamo a polícia e denuncio-te.
- Ninguém me paga, para que eu revele seja o que for da sua maldita empresa. Sou uma espia, sim.  Mas trabalho por conta própria. Há seis meses que tento encontrar uma coisa muito importante na sua empresa. Infelizmente sem o conseguir.
Exausta, ocultou o rosto nas mãos e desatou a chorar.



21 comentários:

redonda disse...

Estou me a lembrar enquanto leio e agora ocorreu-me que poderia dar para se fazer uma série incrível com esta história (estou a seguir no Youtube uma série turca dobrada para castelhano, Pajaro Sonador que é também um romance)
um abraço e uma boa semana

Pedro Coimbra disse...

E agora vai tudo ficar em pratos limpos.
Dos dois lados.
Abraço

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Maria João Brito de Sousa disse...

Sei que encontrará forma de dar a volta à repugnância que esse empresáriozeco me inspira, mas não faço a menor ideia de como o conseguirá, Elvira...

Forte abraço e continuação de uma boa semana

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está a ficar emocionante.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Adorando reler, com emoção aumentando a cada capítulo! bjs, chica

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- E agora? Como vão ser os próximos capítulos? Como vai ele reagir a esta surpreendente - para ele . revelação? Será que a vai despedir? Será que ela lhe vai dizer toda a verdade sobre a prisão do pai? Como irá ele reagir a essa declaração?

A Estória está a ficar muito interessante. Vamos acompanhar
.
Saudações poéticas

Teresa Isabel Silva disse...

Estou a gostar de acompanhar...

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

aluap disse...

Um camafeu também pode ter os seus sentimentos!
Boa semana Elvira.

Edum@nes disse...

Gabriel armado em mandão/poderoso/arrogante. Considerando que Sandra é o elo mais fraco. Ao ponto de a ameaçar com a polícia. Como se a polícia fosse algum papão.

Tenha um bom dia de Terça-feira, amiga Elvira. Um abraço.

João Santana Pinto disse...

E pronto, penso que o próximo texto irá dar início à apresentação do verdadeiro Daniel… Será?

Até aqui temos Sandra, a lutar pela inocência do pai, pelos valores que acabam por pautar os textos da autora, o valor, inocência, bondade, justiça, bondade.

Um Gabriel cheio de defeitos inicialmente e neste último texto, um lado também dedicado e com uma missão.

Abraço, espero que esteja bem, votos de uma boa semana

Cidália Ferreira disse...

As coisas estão a aquecer!

-
Ventos que me beijam o pensamento.
-
Beijos e uma tarde feliz!

Alexandra disse...

Vou começar a ler do princípio.

Abraço :)

noname disse...

Ai que a coisa está a dar para o torto, como vai ela sair disto...

Boa tarde, Elvira

Pedro Luso de Carvalho disse...

Mais um ótimo capítulo, o sétimo de “À média luz”, da nossa amiga Elvira Carvalho, escritora de grande talento. Parabéns!

Uma boa semana com os necessários cuidados com o coronavírus. Elvira.

Um abraço.
Pedro

Mila Noronha disse...

A Sandra é maliciosa. Será que tem razão?humm.rsrs
Bj

Tintinaine disse...

Hoje tive um dia esquisito, só cheguei aqui há uns minutos, mas ainda a tempo de comentar.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
A Elvira é, na verdade, uma grande escritora.
A sua obra merecia ser conhecida do grande público.
Este capítulo é fabuloso.
Beijinhos,
Ailime

Os olhares da Gracinha! disse...

Emoções ao rubro!
Bj Elvira

teresa dias disse...

Não acredito que tudo vá ser revelado já...
Mas estou curiosíssima!!!
Beijo.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Jesus que capítulo cheio de emoções fortes e um atiçador para nossa curiosidade, correndo para o próximo capítulo.......
Beijinhos!