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12.2.20

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XXXVIII



Luísa acordou com a cabeça pesada. Dormira pouco e mal, preocupada com o desconhecido, levantando-se algumas vezes durante a noite para verificar o seu estado.
Saltou da cama, tomou um duche vestiu-se e foi à cozinha, precisava de uma dose de cafeína que a despertasse por completo. Depois iria ver como estava o doente. O doutor Fonseca dissera que voltava de manhã e decerto o faria antes de ir para o seu consultório.
Fez um café bem forte e bebeu-o deliciada. Nada na vida lhe dava mais prazer do que um café bem forte pela manhã. Especialmente quando se levantava com dores de cabeça, como era o caso.
Depois foi ao quarto ver como estava o doente. Encontrou-o muito melhor e a querer levantar-se. Era como se com a transpiração que tivera de noite, tivesse expulsado a doença. Pôs-lhe o termómetro e verificou que não tinha febre.
- Graças a Deus está bem melhor. Pregou-me um susto. Mas não se vai levantar enquanto o doutor Fonseca não vier vê-lo, vou preparar-lhe o pequeno almoço para que possa tomar a medicação.
Torradas e café, ou prefere outra coisa?
- Uma torrada está bem. Na verdade, não sinto fome.
- Teve febre alta, é normal que não lhe apeteça comer, mas precisa fazer um esforço. Daqui a pouco o doutor Fonseca está aí e fica zangado se eu lhe disser que não comeu.
Com efeito pouco passava das nove e meia quando o doutor chegou. Depois de um cuidadoso exame ao doente disse:
- Meu amigo, estou francamente admirado. Nunca vi um doente no seu estado que tivesse recuperado antes de três a cinco dias. Estou em crer que o meu primeiro diagnóstico estava incorreto. Apesar dos seus sintomas serem em tudo semelhantes aos de uma gripe, o problema seria antes um resfriado, agravado pelo stress emocional da perda de memória. Só assim se explica o desaparecimento de todos os sintomas em tão curto espaço de tempo.
- Quer dizer que não corro perigo se sair desta cama?
- Talvez. Mas diga-me, continua sem se lembrar de nada?
- Nada, doutor. É como se uma borracha tivesse apagado toda a minha memória.
-E dores de cabeça, náuseas, tonturas, visão dupla. Sentiu?
- Dores de cabeça, ontem até meio da noite. Hoje já não.
- Muito bem. O período mais perigoso para um possível traumatismo craniano já passou, mas até que faça as 72 horas, quero que avise imediatamente a Luísa, se sentir algum desses sintomas. Entretanto pode levantar-se e fazer a sua vida normal. Continue a medicação mais um dia, por precaução. 
O homem esboçou um esgar trocista. Ele sabia lá o que era a sua vida normal. Ele nem sequer sabia qual era o seu nome!
- E continuo a pensar que devia ir ao hospital, e fazer alguns exames para tentar descobrir o que lhe provocou essa amnésia - disse o clínico ao despedir-se.
Saiu, e ele levantou-se em seguida. Precisava com urgência de um bom duche que lhe tirasse do corpo aquele cheiro a suor, que parecia ter-se entranhado na pele. Ouviu que o médico falava com a dona da casa. Ela não era uma grande beleza, mas o seu rosto redondo, os cálidos e expressivos olhos castanhos, a boca bem desenhada, o nariz ligeiramente arrebitado, o corpo pequeno, mas bem proporcionado tornavam-na uma mulher bonita e interessante. Todavia, não era apenas o aspeto físico que a tornavam tão atrativa. Era qualquer coisa de sublime, que transparecia no seu olhar e que ele não sabia identificar, mas que sentia, lhe ia direto ao coração.



17 comentários:

Janita disse...

Oh, que maravilha!
Parece que o homem sem memória já despertou para a vida. Só o facto de reparar na Luísa, com os olhos do coração, é sinal de que as emoções se estão a reacender.

Uma boa noite.

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Não queria passar por uma situação destas , mas que deve ser fascinante para quem segue de perto uma pessoa neste estado , lá isso deve .
Este conto está a criar uma grande espectativa em relação ao seu final .

JAFR

Tintinaine disse...

Já vi que vem aí romance!!!
Bom dia e até sexta-feira!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está bastante interessante.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Maria João Brito de Sousa disse...

O nosso amigo Gil Gaspar começa a recuperar e até já repara nos encantos da mulher que o salvou :)

Forte abraço, amiga Elvira.

noname disse...

ui. ui.... de pois da febre uma paixão? eheheheh

Bom dia, Elvira

isabel disse...

Que belo enrredo minh aquerida Elvira!
Obrigada pela partilha

AC disse...

É o que eu já aqui disse, a Elvira está mais que pronta para ser argumentista duma televisão qualquer.
Venham de lá os próximos episódios.

Um beijinho :)

silvioafonso disse...

Onde se compra o ingresso
pro último ato, hein?
Tô roendo as unhas...

Marina Filgueira disse...

¡Hola, Envira!

Nos dejas un precioso relato que pinta súper interesante como tantos que vendrán luego. veremos cómo se desenvuelve esa relación entre el amnésico y La dulce luisa.
Eres una gran escritora, Elvira, y te felicito, da gusto leerte.

Un abrazo, mi gratitud y bendiciones.
Se muy, muy feliz.

Edum@nes disse...

O amor não se conquista. O amor acontece. Se calhar é o que vai acontecer com Gil e Luisa?

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Teresa Isabel Silva disse...

Parece que as poucos ele vai recordando!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

Kique disse...

Esta historia está cada vez mais interessante
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Gelado, sorriso, hummm

Anete disse...


Acompanhando a falta de memória do Gil Gaspar...

Um abraço grande...

Ailime disse...

Bom dia Elvira,
Devagar, devagarinho Gil vai despertando também o amor pela sua cuidadora.
Beijinhos,
Ailime

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Não recuperou a memória, mas, os sentidos que levam sensações ao coração está bem desperto.
Beijos carinhosos!

João Santana Pinto disse...

A vida não é só "cor de rosa", mas a verdade é que lhe faz falta a cor... e este texto tem as cores todas, nas suas melhores variações.

Fez-me sorrir na parte em saber lá ele o que era a sua vida normal (pois claro), achei um ponto muito bem pensado.

A última parte é um encanto para todos aqueles apaixonados pela vida e com um sentido mínimo de romantismo…

Vou ver o próximo