-Sente-se.
Vou preparar umas torradas, ou prefere outra coisa? – perguntou Luísa enquanto
abria o saco do pão.
-
Não se incomode, não tenho fome.
Ela
voltou-se e olhou-o. Tinha o rosto entre as mãos e parecia não se encontrar
bem. Aproximou-se.
-
Não se está a sentir bem? -perguntou
-
Parece que a cabeça me vai explodir a qualquer momento.
- Se
está assim, não devia ter-se levantado. Deve ter apanhado demasiado frio, ontem
pode estar a ficar com gripe. Volte para a cama, eu vou preparar um chá e já
lho levo. Entretanto na casa de banho há um termómetro. É melhor ver se tem
febre.
Ele
não respondeu. Levantou-se e saiu da cozinha.
“Devia
levá-lo ao hospital. Pode estar com uma pneumonia, ou quem sabe um traumatismo.
Deve ter batido com a cabeça, para ter aquela ferida no rosto. Oxalá não me
esteja a meter em problemas.” - pensou Luísa enquanto preparava o chá.
Lá
fora a chuva continuava a cair sem dar tréguas, embora a tempestade já não se
fizesse sentir como na noite anterior. Pelo menos o vento parecia ter amainado.
Pôs
o chá num tabuleiro com umas bolachas e dirigiu-se ao quarto.
A
porta estava aberta e o homem estava em cima da cama, completamente vestido e a
tremer de frio.
- Pôs
o termómetro? – perguntou poisando o tabuleiro sobre a mesa de cabeceira.
-Ele
meteu a mão dentro da camisa e retirou-o. Estendeu-lho.
-
Não admira que esteja com frio, está com quase quarenta graus. Vamos despir
e meter debaixo da roupa, disse baixando-se e tirando-lhe os sapatos e as meias.
Depois ajudou-o a sentar-se na cama e tirou-lhe
o casaco que colocou nas costas da cadeira.
-Veja
se consegue despir o resto, enquanto eu vou buscar um antipirético a ver se baixamos
essa febre – disse saindo do quarto.
Demorou
um pouco mais do que o necessário, esperando que ele se conseguisse despir
sozinho. Não se sentia à vontade para ter de o despir.
Quando
voltou ao quarto, as calças e a camisa estavam em cima da cama e ele estava
debaixo das mantas.
- Muito
bem, agora vamos beber o chá que já está quase frio e tomar estes dois
comprimidos. Se até ao final da manhã não melhorar, chamo a ambulância e vai
para o hospital – disse enquanto o ajudava a sentar e lhe chegava aos lábios a
chávena de chá.
- Por
favor, senhora, hospital não – disse agarrando-lhe o pulso com força fazendo
com que quase entornasse o chá.
-
Porque não? Não compreende que pode estar mal? Ter feito um traumatismo craniano, ou estar com uma pneumonia. Por muito boa vontade que tenha, não sou médica, nem
enfermeira, não tenho conhecimentos para saber a gravidade do seu estado. Além
disso diz que não sabe quem é não se lembra de nada. Precisa de cuidados
médicos.
-Não.
Isto vai passar. Não quero ir para o hospital. Por favor, prometa que não me
manda para lá…
-Não
posso prometer-lhe isso. Se melhorar e a febre passar tudo bem, caso contrário não
quero arcar com a responsabilidade do que lhe possa acontecer – disse saindo do
quarto antes que ele voltasse a protestar.
13 comentários:
Bom dia
A situação está a tornar-se um pouco complicada para todos, inclusive a Luísa que sem querer tem nas mãos um bico de obra .
JAFR
É que todo o cuidado é pouco!!! Bj
Por que terá o Gil Gaspar tanto receio de ir ao hospital?
Forte abraço, Elvira.
Infelizmente não tenho acompanhado mas gostei desta parte.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
O não querer ir para o hospital pode ser uma fobia... ou algo que esconde...
Em todo o caso, ele teve muita sorte com quem calhou... não é fácil colocar-se um estranho em casa, para mais estando ela sozinha e isolada.
Estou a gostar muito e na expectativa de saber o que se vai passar a seguir
Abraço e bom início de semana
Uma boa segunda-feira, Elvira!...
Acompanhando para descobrir Os Sonhos de Gil Gaspar... Suspense!
Bjs
Este caso está complicado!
-
Choram as nuvens...
Beijo e uma excelente semana!
Boa tarde Elvira,
Vá lá um pessoa ser boa tentando ajudar o próximo!
Ela até já arriscou e confiou muito.
Muita inspiração e criatividade como sempre.
Um beijinho e boa semana.
Ailime
Cada vez a história se reveste com contornos mais misteriosos.
Se o homem não se lembra nem do seu nome, algo lá bem no fundo do seu subconsciente o faz sofrer e recear hospitais.
O que se terá passado? Em breve o saberemos, espero!
Um abraço e uma boa semana.
Muito estranho. Dessa agora é que eu não esperava. Porque será que o Gil não quer ir ao hospital?
Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.
Passei para por a leitura em dia
Estou a gostar
Bjs
Kique
Hoje em Caminhos Percorridos - Jardim Botânico Tropical
Que suspense, Elvira! Isto lê-se num trago. Venham depressa novos capítulos.
Alguma coisa no inconsciente dele acendeu com relação a hospital, haja suspense!
Beijos!
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