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9.12.19
CONTOS DE NATAL - A PASSAGEM DE UM ANJO
As luzes cintilavam, brilhantes e coloridas, enfeitando o centro da pequena cidade. Quando a noite caía, o manto negro da lua estendidos sobre a localidade, realçava a brancura da neve e as decorações festivas. Os habitantes, bem resguardados do frio, passeavam calmamente admirando a beleza do lugar e a alva dádiva da natureza que se acumulava nos telhados e muros das casas, nas bermas dos passeios, assim como na escultura de pedra no centro do jardim. A mercearia ainda estava aberta, o sapateiro continuava a pregar solas novas nos sapatos, a livraria publicitava a última obra do escritor da terra e a loja dos brinquedos estampava no rosto das crianças o misto da surpresa, da alegria e desejo de receber uma prenda. Era Natal!
- Toni, sou o Toni...para facilitar! dizia com graça e humildade de quem se habituou a pedir. O metro e oitenta de outros tempos esfumaram-se no corpo encolhido para se defender do frio, das pernas dobradas para mendigar e no peso dos anos que se iam adicionando. Já ninguém lhe perguntava o nome mas ele dizia, falando consigo próprio e ao seu companheiro ursinho, um boneco usado, de orelhas redondas e castanhas, os olhos negros, dois simples botões, um pregado e o outro descosido
tombando sobre uma das faces como uma lágrima corrida.
Nessa noite, o frio redobrara de intensidade, os flocos de neve amontoavam-se sobre a já existente e Toni, para se defender da agreste temperatura, espremeu o corpo contra uma das paredes de pedra da escultura no centro do jardim. Pegou no ursinho e poisou-o no espaço livre da escultura, virado de costas para ele. Na escuridão da noite lançou a corda sobre um dos braços da escultura e prendeu-a com firmeza. Subiu para o pedestal de pedra da escultura e enfiou o laço ao redor do pescoço. Olhou para o ursinho que de costas voltadas não via as lágrimas que lhe humedeciam as faces. - Adeus meu amigo!, disse num tom triste. Respirou fundo e fez um apelo ao desespero que é a coragem de quem nada mais tem.
Nesse instante, o latir assanhado de um cão invadiu o silêncio. Direcionara o focinho para o mendigo e ladrava violentamente com as pernas da frente esticadas para diante, num gesto de denúncia. Toni ficara especado, não ousara mover-se, incrédulo com a atitude do cachorro de olhar esgaziado que não parava de latir. O mendigo tirou o laço do pescoço e o animal soltou então um gemido dócil esfregando o focinho entre as patas. - Boa noite meu amigo..., disse tremelicando a voz. O cão agitou vibrante a cauda e desapareceu na noite enquanto o dono caminhava no seu encalço.
Vendo o mendigo que se expunha agora à luz de um candeeiro, saudou-o com um aceno erguendo o braço e dizendo:
-Boa noite, senhor...?
O mendigo sorriu apertando o ursinho contra si.
-Toni, sou o Toni..., para facilitar!
- Feliz Natal senhor Toni!
ADRIANO CENTENO in Chiado Editora "Natal em Palavras" coletânea de contos de Natal
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12 comentários:
Este não conhecia e gosto!!! Bj
Gostei deste belo conto minha amiga.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Muito bonito....
Os Contos de Natal são muito comoventes
Beijinhos
um conto muito belo
e muito bem escrito.
gostei, de verdade.
abraço.
(muito grato, Elvira
pela seu olhar sobre o "Perfil dos Dias")
Mais um conto bem escolhido. Em Dezembro podemos refletir mais sobre a vida e o Amor Verdadeiro... É tempo de sonhar e planejar passos novos...
Uma boa semana, querida. Muita saúde p vocês...
Obrigada Elvira por pesquisar e partilhar contos tão, tão lindos.
Este, de Adriano Centeno, é encantador.
"Feliz Natal, senhor Toni!"
Beijo. Boa Semana.
Oi Elvira
Que belo conto!
Adorei Bjs
Lua Singular
Mais um Divino conto!! Amei :)
-
--> O meu paraíso nublado ...
Beijo e uma excelente semana.
Que palavras lindas, num cenário perfeito, não fosse um Toni sem abrigo nem esperança. Mas o céu enviou-lhe um amigo.
Beijinhos, uma linda semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
Bonito conto.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Coisas do destino. Belo conto!
Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.
Nunca é tarde para se ter um pouco de felicidade. Belo conto Elvira. Mais uma ótima escolha.
Abraços,
Furtado
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