Ao acordar ao som do
despertador, sorri de alegria por ter que esperar só mais um dia.
Saí da cama e vesti-me
com as primeiras roupas que apanhei. Revistando a cozinha à procura de algo
para o pequeno-almoço, decidi-me por uma taça de cereais e umas sobras de pizza
da noite anterior. Depois de ver desenhos animados, jogar alguns jogos de vídeo
e conversar on-line com alguns amigos, ocorreu-me de repente que não tinha
comprado um presente para a minha mãe. Era véspera de Natal e as lojas iriam
fechar dentro em breve. Enfiei uns sapatos, agarrei na minha prancha de skate e
lá fui eu para o centro comercial.
Abri a pesada porta de
vidro para entrar no centro comercial e defrontei-me com uma visão
inacreditável. As pessoas corriam em pânico por todo o lado, tentando encontrar
o presente perfeito para os seus entes queridos. Era a loucura total. Decidi
começar a abrir caminho através da multidão, quando um homem de casaco preto se
dirigiu a mim e, com uma voz desesperada, me disse que tinha perdido a
carteira. Antes que eu pudesse dizer uma só palavra, pôs na minha mão um
cartão-de-visita cinzento.
— Por favor,
telefone-me para o número que está no cartão se, por acaso, a encontrar —
pediu.
Olhei para ele,
encolhi os ombros e respondi:
— Está bem, assim
farei.
O homem virou-se para
abordar outra pessoa e eu fui tentar encontrar o presente para a minha mãe.
Procurei por todo o lado, mas sem sorte nenhuma. Finalmente, quase mesmo no fim
do centro, vislumbrei uma pequena loja de antiguidades e artigos de arte em
vidro. Pareceu-me que poderia ter algo de interessante — algo diferente do que
eu tinha visto em todas as outras lojas. Como não tinha nada a perder, entrei.
Havia papéis e caixas
por todo o lado, arremessados por pessoas em busca da prenda perfeita. Enquanto
tentava abrir caminho através daquela pilha de coisas, tropecei numa caixa no
corredor e caí. Quando peguei na caixa para a repor na prateleira, reparei numa
embalagem verde e plana escondida por trás do papel de embrulho. Abri-a e
encontrei um belíssimo prato de vidro com a imagem de um presépio. Ali estava
ela, a prenda perfeita, atirada para o meio do lixo à espera de que eu a
encontrasse.
Sorri abertamente,
agarrei no objeto e dirigi-me à caixa. Enquanto a empregada registava a minha
compra, pus a mão no bolso para tirar o dinheiro. O meu bolso estava vazio!
Comecei a remexer em todos os bolsos quando me apercebi de que tinha deixado a
carteira em casa. Esta era a minha última oportunidade de arranjar uma prenda
para a minha mãe! O centro comercial fechava dentro de dez minutos e eu levaria
vinte minutos para ir até casa e voltar. Comecei a entrar em pânico.
Fiz, então, a única
coisa de que me lembrei naquele momento: corri para fora da loja e comecei a
pedir dinheiro às pessoas. Algumas olharam para mim como se eu fosse louco;
outras ignoraram-me. Finalmente, desisti, e atirei-me para cima de um banco,
sentindo-me totalmente derrotado. Ao reparar que um dos meus sapatos tinha os
cordões desatados, baixei-me para os apertar.
De repente, vi uma carteira castanha mesmo ao
lado da perna da frente do banco. Pus-me a pensar se poderia ser a carteira que
o homem de casaco preto tinha perdido. Abri-a e li o nome que constava na carta
de condução. Sim. Era dele. Quando descobri lá dentro trezentos dólares, a
minha boca abriu-se de espanto.
Sem qualquer
hesitação, procurei um telefone público e fiz uma chamada a pagar no destino
para o número no cartão-de-visita cinzento. O homem atendeu e disse que ainda
se encontrava no centro comercial. Feliz e aliviado, perguntou se eu podia ir
ter com ele a uma sapataria que, por acaso, era precisamente ao lado da loja de
antiguidades. Quando lá cheguei, o homem estava tão entusiasmado que me
agradeceu vezes sem conta, enquanto verificava se o dinheiro e os cartões de
crédito ainda lá estavam dentro.
Virei-me para sair do
centro comercial e regressar a casa, quando senti uma mão no ombro.
— Acho que nunca encontrei
um miúdo como tu, que devolvesse todo esse dinheiro quando podia ter ficado com
ele e ninguém se teria apercebido — disse o homem.
Depois, abriu a
carteira e estendeu-me quatro notas de vinte dólares, agradecendo-me de novo.
Agradeci-lhe, excitado, e disse-lhe que tinha que me apressar para comprar a
prenda da minha mãe antes que o centro fechasse.
Comprei o prato de
vidro e fui para casa. De repente, fez-se luz na minha cabeça e compreendi que
tinha sido uma espécie de anjo do Natal para o homem que tinha perdido a
carteira, e que ele tinha sido o mesmo para mim quando eu tinha esquecido a
minha. “Anjos a dobrar!” pensei. Tinha a certeza de que nunca iria esquecer
aquela véspera de Natal enquanto fosse vivo.
Na manhã seguinte, a
minha mãe abriu a minha “prenda milagrosa” e o seu olhar revelou o quanto tinha
gostado dela. Contei-lhe tudo o que tinha acontecido quando tentava encontrar a
prenda ideal e a história ainda tornou o prato mais especial. Guarda-o ainda
hoje.
O prato fá-la lembrar
de mim, claro, e continua a lembrar-me de que podem acontecer coisas espantosas
quando menos esperamos. Especialmente durante essa época especial chamada
Natal.
David Scott
13 comentários:
aprendi essa lição ainda menino - pede o que quiseres, nunca tires.
Mesmo que esteja perdido no chão, se não te pertence não guardes.
Abraço
Mais um lindo conto de Natal! Ótimo dia! bjs, chica
Mais um conto que não conhecia, confesso que também não conheço muitos, por isso estou a adorar estas publicações!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Mais um bonito conto de natal
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Gostei muito do conto, Elvira, mesmo muito.
Também eu já perdi a carteira no Shopping, há cerca de 40 anos,
com todo o meu 13º mês de ordenado que se destinava às compras
de Natal...
Não foi na véspera, mas pelo dia 12, sábado, muita gente...
Que aflição, que susto! Tinha-a deixado num canto do balcão da
cafetaria e alguém entregou-a ao empregado...
Inesquecível...
Saúde e tudo de bom.
Abraço
~~~~
¡Hola, Elvira!
Fantástico relato para estas fiestas navideñas,amiga. Yo no la perdí, me la robaron hace ya muchos años de esto, en el mercado de abastos.
Me ha encado el cuento, gracias.
Un abrazo, mi inmensa gratitud y estima.
Feliz Navidad y bendiciones.
A recíproca é sempre verdadeira. Quem planta o bem, colhe o bem. Belo conto amiga. Mais uma ótima escolha.
Abraços e muita saúde e paz para ti e para os teus.
Furtado
Um conto lindíssimo que enaltece a honestidade.
Abraço Elvira
Ps. Estava com alguma dificuldade em comentar
Elvira... que aflição ler teu belo conto! !Você conseguiu me deixar ansiosa, até encontrar a carteira do homem, amiga!
Isso é ser boa contista.
Um beijo, e eu que ainda não comprei quase nada?! Estou começando a entrar em pânico.
Que conto bonito e cheio de significado num altura como esta. Abraço Elvira
É por isso que eu continuo a dizer que «Natal» tem de ser todos os dias...
(emocionei-me com este conto... sou uma lamechas inveterada)
Ainda hoje em conversa entre colegas de trabalho falei sobre a minha fé no meu anjo da guarda. 😊
Beijinhos de Fé
(^^)
Crescemos mas a verdade é que não devemos tirar a magia do Natal... a mensagem a esperança que o mundo consegue ser melhor... mais justo... mais bondoso e quem sabe, fazer por manter esta bela mensagem prolongada no tempo.
Abraço
Elvira, aplaudo a escolha e partilha deste belíssimo conto de David Scott.
Realmente, "podem acontecer coisas espantosas quando menos esperamos".
Beijo.
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