Ainda o sol não tinha nascido, quando Anete acordou. Levantou-se, e ao encaminhar-se para a casa de banho, reparou no vestido, que largara de forma negligente em cima de uma cadeira. Olhá-lo, recordou-lhe o jantar do dia anterior, e o homem que a levara a jantar.
Não havia dúvida de que Salvador era um homem muito
interessante. Havia um não sei quê de mistério nele que a atraía e a repelia ao
mesmo tempo. Aquela história sobre a cunhada e a confusão gerada, tão depressa
lhe parecia autêntica como completamente inverossímil. E se na véspera a
possibilidade de saber mais sobre ele no jantar a tinha entusiasmado, a verdade
é que o jantar fora nesse aspeto uma desilusão. Ele levara-a a falar da sua
vida, quase sem ela se aperceber, enquanto ele não dissera mais do que o que
lhe tinha dito de manhã. Tinha sido educado, gentil mesmo, mas ela não conseguira
decifrar a expressão dos enigmáticos olhos cor de âmbar, que por vezes
escureciam e se assemelhavam ao doce chocolate.
Trocaram números de telefone, passaram a tratar-se por
tu, e despediram-se com a promessa verbal de voltarem a sair juntos outro dia. Mas
será que isso iria acontecer? Os sentimentos de Anete eram muito confusos. Ela
gostaria de voltar a sair com ele. O seu toque quando lhe segurou no braço, pôs-lhe
o corpo a tremer e fez-lhe sonhar com coisas nunca experimentadas. Mas ao mesmo tempo, temia o aprofundar
daquela amizade. Para desastre já lhe bastava o anterior casamento. Tinha vinte
e oito anos, gostaria de formar uma família, ter filhos. O seu ideal de vida sempre fora, ter três filhos como a sua mãe. Mas os anos passaram
rapidamente, e dentro de poucos anos o seu relógio biológico deixaria de
funcionar. A natureza não fora benéfica para as mulheres. Era uma injustiça, que os homens pudessem ser pais em qualquer idade, e as
mulheres estivessem limitadas a tão poucos anos. Enquanto tomava duche, pensou
que se estava a afastar daquilo que naquele momento era a sua prioridade.
Conseguir um emprego. Tinha amealhado algum dinheiro, mas uma boa parte já se fora, na compra da mobília, loiças e eletrodomésticos. Montar uma casa, ainda que simples e pequena como a dela, sai caro, e não queria ter que
recorrer aos pais, para a sua subsistência.
Anete não tinha um curso superior. Dera os estudos por terminados
no fim do secundário. Gostava muito de artesanato, e antes do casamento
trabalhara nisso com algum sucesso. Agora gostaria de algo diferente. Gostava
do contacto com pessoas, pelo que uma loja talvez fosse o ideal. Mas a agência tinha-lhe proposto outra coisa.
Acabou de se arranjar e olhou-se no
espelho. A imagem devolvida agradou-lhe. Procurou a carta que lhe tinham dado
na agência de emprego, meteu-a na mala, e saiu, dirigindo-se ao metro. Uma conhecida clínica esperava-a.
16 comentários:
A passar para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Continuo a acompanhar a história com todo o interesse.
Um abraço, boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Conhecer a Anete ... é importante! Bj
Bom dia
E aqui estou, já à espera do episódio seguinte :-)
Gostando desse desenrolar dos fatos e esperando sempre mais! bjs, chica
Continuo por aqui passando, para saber mais novidades. Quanto tempo estará faltando, para se descobrirem as verdades? Não foi desta que fiquei sabendo. Agora vou andado, estou dizendo. Para ler o próximo capitulo, aqui estarei voltando!
Tenha uma bom dia amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Bom dia querida Elvira!
Gostando muito da estória, beijinhos.
Só um momento, vou ver se encontro a Anete por aí já volto!
BOM FERIADO, ABRAÇOS.
Uma Anete que está se fazendo conhecida... Gostando de conhecer a sua história...
Abçs e carinho
Passando por aqui para seguir mais um pouco da história.
Gostei de saber aspectos da Anete.
Bj e até amanhã.
Estou mesmo a ver que esta história vai ficar com o título " Sem Titulo " e também não há problema nisso. Parece-me que vai haver aqui um final muito interessante, duas irmãs que se encontram e dois irmãos felizes. Vamos ver!!? Um bom feriado, Elvira! Beijinhos
Emilia
Quando falou em loja ainda pensei que pudesse ir trabalhar para a loja de desporto do irmão do Salvador, mas clínica???
Abraço.
Ele foi muito "advogado" e conseguiu a informação toda que queria. Poderia ter sido mais generoso e dar alguma informação pessoal de volta. Mas ainda vai a tempo. Para já foi um cavalheiro (exceptuando o episódio em que a confundiu com a cunhada, haha).
Beijinho Elvira
Ela parece ser uma pessoa muito positiva, gosto dela
Voltei e continuo gostando.
Abraços,
Furtado
Vamos ver o próximo capitulo.
Bjs!
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