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22.12.15

UMA HISTÓRIA DE NATAL



Era uma vez um burro. Velho e cansado como todos os burros que viveram  anos e anos, dia após dia, sempre carregando no lombo, pesadas cargas. Agora, no fim da vida, ele só esperava que o seu dono o deixasse morrer em paz. Mas parecia-lhe que não era essa a intenção do seu dono, quando nessa manhã de Inverno o levou para a feira. O burro, que não era tão burro quanto o seu nome dizia, percebeu que o dono, a quem servira toda a vida, se ia desfazer dele, porque achava que não tinha mais préstimo.  E embora ele reconhecesse que até já não tinha forças para grande coisa, doía-lhe a ingratidão do dono. 
Esperaram por mais de três horas na feira. De vez em quando aparecia alguém que parecia interessado no burro, mas ao analisá-lo de perto concluía que era demasiado velho para o que precisavam, e depressa se desinteressavam. 
Um dos que se aproximaram para o ver, dissera mesmo ao dono. "Está velho. Já não tem préstimo. Devia abatê-lo"
O velho burro estremeceu de terror. E pensou que os homens eram animais perigosos. Serviam-se dos outros animais, enquanto eles podiam, executar por si as tarefas mais difíceis, e quando estavam velhos, matavam-nos. Pensou se eles fariam o mesmo aos da sua espécie. Mandariam abatê-los quando estavam velhos?
Ao findar do dia, quando o dono se preparava para fazer o regresso, e o pobre burro, não pensava noutra coisa que não fosse a frase cruel ouvida de manhã, sem conseguir descortinar no seu dono se era ou não isso que ele ia fazer, um homem alto e magro de ar calmo e bondoso aproximou-se do burro e do seu dono.
Examinou-o e perguntou o preço. 
-Muito alto para um burro velho, -disse.
Voltou a examinar o burro. Passou-lhe a mão pelo lombo. O burro estremeceu. Sentiu os calos na mão do homem, e no entanto aquela mão, transmitiu-lhe uma tal doçura, que o pobre do burro não habituado a isso, ficou maravilhado.  Ah! Se ele soubesse rezar, decerto teria rogado ao Deus do homem,  para que ele  o comprasse, de tal forma o desejou. Mas ele era apenas um burro.
-Dou-lhe metade, -disse o homem
O dono regateou. E o homem virou costas decidido a partir. O burro ficou triste. Tão triste, que uma lágrima turvou o seu olhar cansado.  Mas então o dono, perdida já a esperança de melhor preço, chamou o homem.
Este voltou atrás e fez a compra.
O homem pegou o burro pela arreata, e dirigiu-se para casa. Pelo caminho falou como se soubesse que o burro o entendia:
-Estás velho amigo. Vamos a ver se consegues ajudar-nos.  Para te ser sincero, preferia um animal mais novo. Mas não vi nenhum. E ainda que visse, talvez não tivesse dinheiro suficiente para o comprar. Espero que dês conta do recado e nos ajudes na viagem.
A palavra viagem, não agradou ao velho burro, que  já se sentia fraco das patas. Mas entre uma viagem e a morte,  que decerto o esperava na volta para casa do seu antigo dono, a escolha era óbvia. 
Relinchou tentando dar ao novo dono, uma confiança de que ele próprio duvidava.
Nessa noite, foi o burro muito bem tratado, em palavras, e ração, pelo que adormeceu feliz da vida.
Na manhã seguinte, eis que o homem se apresenta com a esposa, e uma carga que lhe põe no lombo, e os três empreendem a tal viagem. De vez em quando, o burro olhava a mulher, que se apresentava em adiantado estado de gravidez, e pensava que ela não ia aguentar muito tempo a caminhada. Em breve teria que a carregar.  Temia não ter forças para isso.
A meio do dia, fizeram uma pausa.  Tiraram-lhe a carga e deixaram-no livre, para que pastasse algumas ervas que por ali espreitavam entre o gelo do inverno, enquanto o casal se sentava sobre um pedaço de rocha e comia alguma coisa. 
Pouco tempo depois, o homem pegou o burro pela arreata e levou-o até junto da mulher que se mostrava visivelmente cansada. O burro percebeu que tinha chegado o momento tão temido. E se ele não fosse capaz de levar a mulher? Que seria do casal, perdido no descampado ermo, em pleno inverno?
O homem ajudou a mulher a montar e pegando na carga até aí transportada pelo burro colocou-a às costas e os três recomeçaram a viagem.
Mal retomaram a marcha, o velho burro abriu ainda mais os seus grandes olhos, espantado. Que milagre era aquele? Porque não sentia qualquer peso no lombo?  Será que a pobre mulher tinha caído? No seu estado? Virou a cabeça, para constatar que ela seguia bem sentada no seu lombo.
Então porque ele não sentia qualquer peso? Seguia sem esforço, caminhando melhor que nos anos da sua juventude. E assim seguiram os três até que à noitinha chegaram à cidade. O burro reconhecia aquela cidade. Várias vezes lá fora com o antigo dono. Até já ficara num estábulo numa daquelas ruas, uma vez que o dono pernoitara na cidade. Por isso, quando depois de percorrerem várias estalagens, não encontraram lugar para pernoitar, e o casal já desanimava,  o burro, ansioso por mostrar a sua gratidão ao casal, tomou o rumo do estábulo que ele conhecia bem.

Feliz Natal

24 comentários:

Blog da Gigi disse...

Abençoado Natal, Elvira!!!!!!!!!! Beijos

Os olhares da Gracinha! disse...

Que delícia de texto!
Natal feliz e um 2016 excelente!

Roselia Bezerra disse...

Olá ,querida Elvira
Se nós soubéssemos como é a outra parte, na certa, trataríamos a bem todos racionais ou não...
Bjm fraterno

Odete Ferreira disse...

Gostei imenso deste conto, amiga.
Apesar de tudo, é preciso que a crença não nos abandone!
Tudo de bom nesta quadra.
Bjo, com carinho :)

Andre Mansim disse...

Lindo minha amiga! Quase chorei aqui!!!!!
Tenha um lindo Natal!

Janita disse...

O resto já todos conhecemos! Não sabíamos era a origem do burrito,
Muito linda e bem contada esta história de um Natal visto sob um novo prisma, Elvira.
Foi Deus que lhe deu este dom, de nos saber tocar o coração com os seus belos contos! Obrigada a Ele e a si.
Um abraço e Bom Natal.

Janita

Anete disse...

História bem contada e elaborada. Imaginação construtiva, Elvira!
Um Feliz Natal! E que em 2016 estejamos na blogosfera oferecendo o nosso melhor... Gostei de conhecê-la em 2015...
Um abraço grande neste domingo.

Edum@nes disse...

Um burro velho e feliz,
tanto medo tinha sentido
mas, o destino assim quis
que a bom dono fosse vendido!

Tenha amiga Elvira, uma boa noite de domingo, um abraço.
Eduardo.

paideleo disse...

Quen sabe ?. Ao millor foi así.
Boas festas !.

AFlores disse...

Depois de ler este texto e para acabar as minhas leituras neste final de domingo, último antes da noite de Natal, só me apetece enviar à minha amiga um forte e fraterno abraço com o desejo de um Feliz Natal e BOM ANO.

Tudo de bom.

Luis Eme disse...

Quem bom lê-la, Elvira.

abraço e Feliz Natal.

Unknown disse...

Quando comecei a ler lembrei-me de uma história dentro destas linhas.
Não consigo rever o Natal sem um Presépio nem um Presépio sem animais.
Muita ternura.
Se os homens entendessem como os animais entendem, este mundo seria mais justo.

Isa Sá disse...


A passar para acompanhar mais uma história e desejar um Feliz Natal junto daqueles a quem mais ama.

Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um belo texto minha amiga.
Um abraço e boa semana.

Bell disse...

Adorei a história!!

Parabéns querida, e um feliz Natal regado da Paz do Jesus!!

bjokas=)

Laura Santos disse...

Um belo conto de Natal, com muita magia e originalidade. Muito comovente.E muito bem escrito, como sempre.
Feliz Natal, Elvira.
xx

Fátima Pereira Stocker disse...

Que história tão bonita. Tão bonita!

Um grande beijo e os meus votos de boas-festas.

aluap disse...

Sobre o nascimento de Jesus conta-se muita e variadas histórias com a figura do burro e faz parte do imaginário dos miúdos e graúdos o estábulo onde nasceu, mas creio que presentemente não é muito bem aceite pela igreja católica os animais no presépio, mas não estou muito à vontade para falar deste assunto.
Gostei muito de ler. Parabéns pelo conto em época natalícia!
Feliz Natal e Próspero Ano Novo para a Elvira e seus familiares.

Majo disse...

~~ººº~***~ººº~***~ººº~***~ººº~***~ººº~***~ººº~

Dias de excelente disposição e muito carinho,

o maior sucesso nos seus doces tradicionais

e que o Menino faça que não se sinta cansada.

~ Dias de intensa luz para si e todos os seus.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

~~~ Abraço amigo ~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Poções de Arte disse...

Lindo conto, Elvira!
O burrinho teve um trabalho cheio de honra!

Dói saber da ingratidão dos seres humanos em relação aos animais, pois muitos ainda os veem como objetos.

É um conto que traz reflexões importantes.
Também li a biografia daquela autora e entrei no seu blog, fiquei curiosa para ler os versos dela com os dois outros autores, com quem ela fez duplas conhecidas.

Abraços esmagadores.

TheNotSoGirlyGirl disse...

tão bonita :) adorei!

beijinho

Rogério G.V. Pereira disse...

Devia ser lido nas escolas
não para ilustrar o milagre da leveza de Maria
mas para uma definição
de gratidão

para que não seja um predicado exclusivo dos burros

(voltei ao meu presépio e coloquei o burro mais à frente!)

António Querido disse...

Chegou ao estábulo e lá estava a vaquinha, que iriam servir de ar condicionado naquela noite, aquecendo o menino!
Gostei deste conto de natal*****!

Feliz Natal amiga.

Pedro Coimbra disse...

Votos de um Santo Natal para si e família.