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11.1.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE IV



Antes da partida, sabendo que não teria dinheiro para alugar uma casa na cidade onde as rendas eram caríssimas, e viver até conseguir um emprego, procurou na Internet algum anúncio que lhe permitisse ter um local para viver sem gastar muito, enquanto procurava emprego e a agência não conseguia vender a casa.

Acabou por ter sorte ao encontrar um anúncio de um casal idoso, que ofereciam um quarto, em troca de pequenos serviços como acompanhá-los ao médico, ir ao supermercado fazer as compras, ir à farmácia etc.

Telefonou para casa do casal, e depois de uns minutos de conversa, combinou uma ida lá a casa, pois a senhora não se queria comprometer sem conhecê-la pessoalmente e ter algum tipo de referência.  Na aldeia toda a gente a conhecia, assim Anabela falou com o padre, seu confessor desde criança e ele escreveu-lhe uma carta de recomendação para o casal. Com ela na mão apanhou o comboio para a cidade e dirigiu-se à casa, uma moradia nos arredores, onde teve uma longa conversa com a senhora que ficou muito impressionada depois de ler a carta do pároco e a aceitou.

Depois de combinarem todos os pormenores, voltou à terra fez a mala, entregou as chaves de casa na agência, despediu-se do padre e de duas jovens amigas com quem tinha frequentado a escola, primeiro na aldeia, depois na vila até terminarem o secundário. Fora uma amizade de anos, mas sempre souberam que em breve se separariam, mesmo que a “avó” Arminda não tivesse falecido, pois Olga e Olívia iam para a Universidade em Coimbra para continuarem os estudos e ela iria procurar um emprego na vila, que a tornasse menos “pesada” para a idosa. Despediram-se, pois, prometendo manter contacto, mas as três sabiam que as vidas diferentes que levariam daí para a frente, fatalmente acabaria por as afastar.

Nos primeiros dias em casa do casal, Anabela tentou conhecer as suas rotinas e suas necessidades de modo a organizar o tempo para que pudesse dirigir-se ao Centro de Emprego e inscrever-se. Também soube que o supermercado local, aceitava jovens para trabalhos temporários aos fins de semana e assim foi lá e preencheu os impressos para se candidatar.

Durante dez meses Anabela dividiu o seu tempo entre acompanhar o casal ao centro médico ou às compras e em fazer alguns trabalhos de limpeza mais pesados, (que verdade seja dita, dona Ema, a idosa, gostava de ser ela a cuidar da casa,) os trabalhos de fins de semana no supermercado, e os cursos no Centro de Emprego. A casa na aldeia ainda não fora vendida e Anabela acreditava que dificilmente o seria, ninguém queria ir viver para um sítio, onde não haviam outros meios de sobrevivência, que o trabalho agrícola. Ela sabia que a única hipótese de venda seria para algum emigrante, que terminada a sua vida profissional quisesse voltar à terra onde nascera.

Se ela tivesse dinheiro suficiente, talvez investisse no turismo rural. A casa era grande e de boa construção além do espaço enorme que tinha nas traseiras que podia ser aproveitado para duas ou três cabanas individuais. O clima era ótimo e a serra e o rio a poucos metros de distância, proporcionavam bons e agradáveis passeios. Mas para isso era preciso muito dinheiro que ela não tinha.

E com este pensamento finalmente adormeceu.

 



12 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Onde vai agora buscar o dinheiro para realizar o sonho?

Ailime disse...

Bom dia Elvira,
Passando para acompanhar esta tão bela história, com um enredo muito rico.
Beijinhos e saúde.
Ailime

chica disse...

Lindo capítulo e o dinheiro quando falta sempre pode trancar a realização de sonhos ou dificultá-los.

beijos, lindo dia! chica

Tintinaine disse...

Vou pôr-me a adivinhar, a casa não vai ser vendida e ainda vamos assistir ao florescer de um novo negócio.
Bom dia (hoje sem chuva)!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei deste capitulo.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Cidália Ferreira disse...

Tenho andado doente e não tenho acompanhado nada. A ver se começo a por as coisas em dia.
.
Quando um gesto de carinho surpreende...
.
Beijos. Boa noite.

Teresa Isabel Silva disse...

Cheguei agora e já estou a gostar... ver ler o que perdi!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

noname disse...

Passei, já pus a leitura em dia
e agora venho desejar-lhe uma noite descansada.

Janita disse...

Então e os Bancos? Anabela poderia pedir um empréstimo dando a casa como garantia, fazia as obras e aí estava ela, feita empresária no ramo do turismo rural.
Parece que a vida vai melhorar...

Um abraço, Elvira.
Tenha uma boa noite

Jaime Portela disse...

A partir daqui quase tudo pode acontecer.
Aguardo com expectativa o desenrolar da história.
Continuação de boa semana, amiga Elvira.
Um beijo.

teresadias disse...

Anabela, mulher decidida que sabe o que quer.
Aplauso, Elvira.
Beijo.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Ela é forte, inteligente e vai conseguir o que deseja, mesmo à custa de sofrimentos, mas há de vencer!
Abraços afetuosos!