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18.1.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE VII

 



Uma hora depois, Anabela saía de Lagos em direção à capital. Enquanto conduzia, as recordações dos últimos doze anos, passavam-lhe pela mente como uma fita cinematográfica. Lembrou de quando finalmente conseguiu o emprego na clínica. Acabara despedindo-se de dona Ema e do marido com tristeza, pois nos dez meses que levara na sua casa, o seu coração sedento de carinho, fora conquistado pelo trato familiar com que os idosos sempre lidaram com ela.

Infelizmente, o emprego não lhe permitia continuar a dar-lhes a assistência que eles precisavam, mas permitiram que ela ficasse lá em casa até que arranjasse um quarto, coisa que aliás conseguiu rapidamente, pois três dias depois, no seu novo emprego.

 Em conversa com Paula, a colega da receção, soube que esta vivia num apartamento que dividia com uma enfermeira, e uma estudante de enfermagem.

 Porém no mês anterior, Joana, a enfermeira, casara e fora-se embora. E a renda ficara  mais onerosa, para as duas. Por isso preparava-se para pôr um anúncio para alugar o quarto livre. Claro que Anabela imediatamente aproveitou a oportunidade, e no fim de semana seguinte despediu-se do casal e mudou-se para o apartamento.

Porém durante os anos seguintes, enquanto o casal foi vivo, Anabela não deixou de os visitar, pelo menos uma ou duas vezes por mês. Porque ela era agradecida a todo o carinho com que sempre a trataram.

 Na nova morada, rapidamente se ajustou com a rotina de uma casa habitada por três pessoas, sem outros vínculos, que o companheirismo. A empatia entre ela e a colega Paula foi quase instantânea. Com Matilde a jovem estudante de enfermagem, foi um pouco mais demorada, mas ao fim de seis meses, as três eram amigas e confidentes. Matilde terminou nesse ano os estudos e pouco depois estava a trabalhar num hospital particular.

Anabela gostava do seu trabalho, mas queria mais. Gostaria de passar da receção para o tratamento das pessoas. Depois de falar com alguns colegas, e saber tudo sobre o curso, decidiu matricular-se na Universidade, no Curso pós-laboral pensando dedicar-se de alma e coração aos estudos.

A meio do terceiro ano do Curso de Fisioterapia, a agência imobiliária conseguira finalmente vender a casa, precisamente a uma empresa que se dedicava ao turismo rural.

Quando assinou a escritura e se viu dona de tanto dinheiro, ela que nunca tivera nada, decidiu aplicar uma boa parte desse dinheiro em ações de empresas que lhe garantiam um bom ganho, bem como em títulos do tesouro. O restante deixou numa conta à ordem, decidida a iniciar o Curso de enfermagem no próximo ano letivo.

Afinal a saúde era a sua área de preocupação, e tratar dos outros a sua vocação. No ano seguinte acabaria o Curso de Fisioterapeuta, os dois cursos tinham algumas disciplinas iguais e se ela não trabalhasse e se dedicasse inteiramente aos estudos, poderia iniciar o Curso de enfermagem diurno ao mesmo tempo que terminava o outro de noite. Afinal nos testes ao QI que a “avó” Arminda insistira para ela fazer, no último ano do Secundário, não lhe disseram que o seu QI era de 140?

Contou os seus sonhos às duas amigas e companheiras e tanto Paula, quanto Matilde a encorajaram a realizá-los.

10 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Nunca é tarde.
O meu pai é a prova viva dessa realidade.

Tintinaine disse...

Estudar quanto mais melhor, o saber não ocupa lugar e virá um dia que servirá para alguma coisa!
Bom dia e cuidado com frio que pode trazer alguma gripe com ele!

Emília Pinto disse...

A acompanhar, como sempre, Amiga. E a tua saúde como está? Espero que estejam todos bem. Um beijinho
Emilia

chica disse...

Que ela realize seus sonhos e não desista! beijos, chica

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história e desejar um ótimo dia!
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Continuando a acompanhar o desenvolvimento desta bela história que mostra uma Anabela muito corajosa e cheia de genica.
Beijinhos e saúde.
Ailime

A Nossa Travessa disse...

Querida Elvirinhamiga
Decorre com a normalidade possível o curso da narrativa com o ritmo e a clareza a que nos habituaste. É bom encontrar quem trate por tu a nossa língua que bem o merece, mas que, infelizmente, tem vindo a sofrer agressões a torto e a direito – em suma inqualificáveis.
Anabela vai-se definindo ao longo da escrita em busca da solução que mais lhe convenha. Retratas assim a vida, a vida normal quotidiana e aí reside o principal mérito da tua obra. Muito boa; muito bem. Continuarei a seguir com redobrado interesse.
Beijos & queijos
Henrique

Janita disse...

Grande, Elvira! 👍
Grata pela compreensão.

Um forte abraço, amiga.

Jaime Portela disse...

Para já está a correr tudo bem...
Continuação de boa semana, amiga Elvira.
Um beijo.

teresadias disse...

Decidida e despachada esta Anabela, personagem muito bem construída.
Beijo.