A buraca da moura
No tempo em que as forças cristãs procuravam desalojar os últimos núcleos mouriscos instalados na margem direita do Tejo, ainda algumas famílias sarracenas se encontravam refugiadas nos montes vizinhos da Ribeira de Eiras, portanto, muito próximo da Ortiga.
Entre essas famílias, diz a Lenda, vivia, numa gruta sobranceira ao Ribeiro dos Lavadouros, uma moura encantada, que seria uma última descendente daqueles refugiados e que permanecia misteriosamente nessa gruta a que o povo chamava “a Buraca da Moura”.
Um certo dia, uma modesta pastorinha que trazia o seu gado a pastar por aqueles sítios, deparou com aquela linda mulher, sentada junto do ribeiro a guardar um grande estendal de roupa e a pentear a
sua longa e reluzente cabeleira cor de azeviche, com um pente de ouro que cintilava à luz do Sol.
A pastorinha, ao ver aquela tão linda criatura, como seus olhos nunca tinham visto, ficou embasbacada e foi incapaz de articular palavra.
Então a moura chamou-a e perguntou-lhe:
— Olha pastorinha, do que é que tu mais gostas? Do meu cabelo? Do estendal da roupa? Ou do meu pente?
A pastorinha, hesitante e a medo, disse que gostava mais do pente, atraída pelo seu aspeto e provável valor.
Então a moura, entristecida e molestada na vaidade que tinha na sua cabeleira, disse:
— Foste infeliz na tua escolha, Se tivesses dito que gostavas mais dos meus cabelos, dar-te-ia o meu pente, que é de ouro, e toda aquela roupa. O meu encantamento terminaria hoje e tu e a tua família, com estes meus haveres, sairiam da pobreza em que vivem.
Findas estas palavras, a formosa moura desapareceu e, com ela, o seu valioso pente e também toda a roupa que se encontrava estendida.
E desapareceu, para nunca mais ser vista.
FONTE:
ORTIGA CONCELHO DE MAÇÃO NO TEMPO E NO ESPAÇO, Leonel Raimundo Mourato, pág. 176
E com esta lenda termino uma longa lista de lendas. Espero que tenham gostado. Pessoalmente eu gosto imenso. E há centenas delas por todo o país.