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9.11.22

LENDAS DE PORTUGAL - A MOURA ENCANTADA DE SALIR


 A Moura Encantada de Salir 


A terra Algarvia já era quase toda portuguesa. Faltava Loulé e pouco mais. E ali nas terras fronteiriças ao Castelo de então imponente Castalar, D. Paio Peres Correia, o incansável conquistador do Gharb, esperava apenas a chegada D’El-rei D. Afonso III para atacar um dos últimos abrigos dos Mouros . Do alto das ameias, o alcaide do Castelo, Aben-Fabilla, olhava para o exército forte e disciplinado que se espalhava pela planície em frente e que ele sabia não poder vencer. Para mais, sentia que a confusão começava a estabelecer-se em seu redor. Não havia possibilidades de resistência. Quanto muito, possibilidade de fugir. E, mesmo assim, seria necessário não perder tempo… Aben-Fabilla percebeu que a batalha estava perdida, ainda antes de começar. Alguns dos seus homens tinham já começado a debanda. Que esperava ele então? Decidiu-se. Voltou costa s ao mar alto de guerreiros e voltou aos seus aposentos. Assim que o viu, sua filha, que era também o seu grande amor, correu para ele. - Que faremos meu pai? Aben-Fabilla baixou a cabeça. Vencido. Desanimado. - Parece bem grande a provação que nos espera, minha filha! Decerto é desejo de Alá que percamos este Castelo e toda esta terra! - Acha que não os podemos vencer? Ele limitou-se a abanar tristemente a cabeça. E a limparem os olhos doridos de não quererem chorar. Depois respirou fundo e disse: -Só nos resta fugir! - Filha! Corre aos teus aposentos, junta as tuas jóias e vai-te reunir às outras mulheres que já estão a sair em direção ao monte. É a nossa única possibilidade de salvação. Lá nos encontraremos depois. E não a olhou mais. Se a tivesse olhado, ficaria com medo… Mas, o alcaide só pensava em esconder a sua fortuna, enterrando-a antes de abandonar o Castelo. Um dia voltaria para recuperar esse tesouro que agora não podia levar consigo… Entretanto á em baixo, na planície, notava-se um movimento estranho… os cristãos tinham descoberto a fuga dos Mouros e D.Paio Peres Correia dera ordens para atacar sem demoras. A escalada do Castelo começou imediatamente, no meio do alarido e confusão. Subia com os cristãos o clamor da vitória! Mas quando transpuseram as ameias do Castelo, uma grande surpresa os aguardava. Conforme nos conta a lenda: não viram um único Mouro! Apenas havia uma linda Moura, ajoelhada, orando fervorosamente, como alheada de tudo e de todos. Era a filha de Aben-Fabilla. A única pessoa que ficara no Castelo, esquecida dos que fugiram em grande alvoroço. O Jovem e corajoso D. Gonçalo Peres, um dos homens mais corajosos das hostes _Senhora! Que fazeis aqui? -Estava orando, Senhor. -Senhora, escutai-me… Castalar é nossa. Todos os seus companheiros fugiram. Entredentes, a Moura murmurou, numa mistura de desolação e raiva: - Salir! Salir! Foi essa a ordem que lhes deram…é tudo o que sabem dizer. -É o que vós tendes a fazer também, senhora! Sair… ou Salir, como vós dizeis. Não percas tempo… sereis capturada ou morta, se vos apanharem! Compreendes? Cabeça erguida, rosto imperturbável. Uma única resposta: - Prefiro morrer… a Salir! Então, o jovem cavaleiro enervou-se. -És ainda muito nova para morrer. Muito Nova e muito Bela. Foge também! Sai por essa porta que dá para o Monte…por essa porta por onde saíram os outros… Mas depressa, senhora, depressa!... Dentro em breve, meus companheiros estarão aqui! E poderão pensar que fiquei encantado por ti… -Encantado? A pergunta soou como um desafio. E ela ergueu os braços. Numa atitude de prece, ou talvez de vitória. Conta a lenda que nesse preciso momento, transtornado pela falta da filha que não encontrava em parte alguma, o velho Aben-Fabilla subiu ao ponto mais alto do monte e ditou umas palavras misteriosas- e tudo se consumou no mesmo instante… Entretanto, no Castelo, a Moura olhava D. Gonçalo Peres dizendo-lhe que não era ele que estava encantado, mas sim ela… Ao dizer isto, a Moura ficou hirta quem nem uma estátua. Logo a seguir chegavam os companheiros do soldado português… - Que bela estátua!- gracejou um deles – até parece viva! -E não estará mesmo viva? - perguntou outro, em ar de brincadeira. Foi a Vez de D. Gonçalo Peres reagir: - Calai-vos! Não vêem que ela é de pedra? A sua voz porém, tremia. Os outros entreolharam-se admirados. – Nunca vi nada semelhante na minha vida! Confessou um deles. – Deve ser uma das tais Mouras encantadas! – disse outro. D. Gonçalo voltou-se para eles e disse: - Deixemo-la em paz! É uma castelã de pedra… temos de revistar o resto do Castelo…Vamos! D. Paio Peres Correia escutava satisfeito os ecos da vitória. Castalar estava em poder dos portugueses. Agora restava apenas Loulé. Depois, o Algarve ficará definitivamente cristão. Quando os portugueses voltaram novamente ao local onde estava a Moura, já lá não encontraram nada…Diz a lenda que esta Moura encantada ainda hoje pena, nos restos do muro do velho Alcácer e guardada por um enorme leão. E nas noites de tempo agreste ouve-se murmurar entre as árvores o som tristíssimo do lamento da última filha do Alcaide Mouro de Salir.

8 comentários:

chica disse...

Passando pra deixar um beijo e desejos de tudo de bom, lindo dia! chica

Tintinaine disse...

Mulher bonita tem que ser moura? Pobres das loiras!
Haja alegria!

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Mais uma lenda interessante sobre a história de Portugal.

JR

Maria João Brito de Sousa disse...

Que bonita, esta lenda da Moura Encantada de Salir!

Saúde e um grande abraço, Elvira!

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Uma lenda muito bonita!
Gostei imenso.
Um beijinho e saúde.
Ailime

Teresa Isabel Silva disse...

Conheço uma lenda idêntica... Mas a bem da verdade existem várias lendas com mouras encantadas!

Bjxxx
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aluap disse...

Bela lenda, como todas as do nosso país tão rico em tradições.

Um abraço e continuação de boa semana.

Cidália Ferreira disse...

Todas as suas lendas são autênticos ensinamentos! Obrigada
.
Voltei ao lugar, onde o passado foi uma vida
.
Beijo.
Boa noite...