Maternidade
Olho-te: és negra.
Olhas-me: sou branca.
Mas sorrimos as duas
na tarde que se adianta.
Tu sabes e eu sei:
o que ergue altivamente o meu vestido
e o que soergue a tua capulana,
é a mesma carga humana.
Quando soar a hora
determinada, crua, dolorosa
de conceder ao mundo o mistério da vida,
seremos tão iguais, tão verdadeiras,
tão míseras, tão fortes
E tão perto da morte...
que este sorriso de hoje,
na tarde que se esvai,
é o testemunho exato
do erro das fronteiras raciais.
Dos nossos ventres altos,
os filhos que brotarem
nos chamarão com a mesma palavra.
E ambas estamos certas
– tu, negra e eu, branca –
que é dentro dos nossos ventres
que germina a esperança.
Glória de Sant'Anna,
In Um Denso Azul Silêncio, 1965
13 comentários:
Bonito poema!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Muito bonito e tão verdadeiro!
Beijos e um bom dia!
Um poema auténtico que fala a verdade que moit@s não querem ouvir: que tud@s somos seres humanos sujeitos ás mesmas visicitudes, boas e malas.
Gostei ler, amiga.
Tsmbém, muito obrigada pela visita.
Beijinho
Esplêndido poema, este MATERNIDADE de Glória de Sant`Anna!
Um grande e grato abraço, Elvira!
Boa tarde Elvira,
Um poema muito belo.
Mãe não tem cor. É amor.
Beijinhos e saúde.
Ailime
Gostei.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Excelente partilha, Elvira.
Este poema, feito de versos singelos, exige leitura atenta.
Beijo.
Confesso que não conhecia autora!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Maravilha, mostra tantas verdades
que emociona e ao mesmo tempo entristece...
Preconceitos, racismo, é um câncer nas sociedades.
Uma feliz semana, Elvira! Paz e saúde a todos os teus.
Beijo.
Grande Glória de Sant'Anna. Bela e muito acertada a tua escolha Elvira. Parabéns!
Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.
Furtado
Muito belo, tão bem conseguida a expressão sobre o tema.
Bom dia de paz, querida amiga Elvira!
Convém gritarmos sempre o mal enraizado numa sociedade preconceituosa.
Tenha dias abençoados, com saúde!
Beijinhos
Para tirar o chapéu. Na singeleza, na simplicidade da linguagem.
Abraços, Elvira!
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