Seguidores

28.2.22

ARMADILHAS DO DESTINO - PARTE XVIII

 

- Conta-me o que sabes sobre a Luísa, pai.
- Em dezasseis anos nunca quiseste saber nada dela, nem mesmo quando eu te escrevi a dizer que tinha enviuvado. A que vem esse interesse agora? Encontraram-se?
- Há quase um mês no hospital. Era uma das professoras daquele autocarro de miúdos, lembras-te? De resto era quase impossível não a encontrar, já que está a morar na casa que era do pai, e portanto relativamente perto de mim.
- Há quase um mês? E só hoje te chegou a curiosidade? – perguntou João, fitando o filho com curiosidade.
- Encontrámo-nos hoje no supermercado. Convidei-a para jantar.
- Olha Nuno, fui testemunha do teu sofrimento há dezasseis anos, quando ela te deixou. Nunca tinha visto alguém sofrer tanto por amor. Suponho que foi esse amor que te impediu de refazeres a tua vida, junto de alguma das mulheres que certamente conheceste, em todos estes anos.
- Não foi por amor, sim por ódio. Ela espezinhou os nossos sonhos, matou tudo o que de bom havia em mim.
- Sabes que não é verdade. Continuas a ser um bom homem, um idealista que a vida toda trabalhou em prol dos mais desfavorecidos. Isso é o que de bom havia e há em ti, meu filho. Depois, quantas vezes o ódio não é apenas uma máscara do amor?
- Não quero discutir os meus sentimentos, pai. Até porque hoje já não tem interesse, eu nunca mais posso aspirar ao amor de uma mulher, não seria capaz de olhar nos seus olhos e ver pena em vez de amor. Mas ainda não me disseste nada sobre ela.
-Desiludes-me filho. O que te aconteceu não te torna menos homem. Olha para ti. És ainda jovem, tens saúde, e és um excelente profissional. Não tens porque te sentires diminuído, nem temer sentimentos de compaixão, que só existem na tua cabeça.  Mas voltando à Luísa, o que sei, foi a Lucinda, a amiga da tua mãe que lhe contou. Como sabes ela é vizinha da jovem. Parece que o pai da rapariga, a obrigou a casar com um vizinho que tinha uma quinta, onde passava grandes temporadas. Depois de casada, foram viver para a quinta, e só vinha à cidade para ver o pai, que entretanto adoeceu com cancro, e morreu uns meses, depois. Só a vi uma vez durante esse tempo e confesso-te que fiquei impressionado. Estava muito magra, pálida e parecia muito assustada. O marido não a deixava sozinha, estava sempre a seu lado. Ele era muito mais velho, já era viúvo, e dizem que morreu, porque a Luísa se atirou do carro em andamento, e ele perdeu o controlo do carro. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, ele morreu e ela nunca contou a ninguém, pelo menos que a gente saiba.
- Não sei que tanto vocês têm para conversar. – Disse Arminda, a mãe de Nuno. E acrescentou. – O almoço está na mesa.



13 comentários:

Pedro Coimbra disse...

A curiosidade matou o gato.
Boa semana

Tintinaine disse...

Bom dia! Deixemos os apaixonados encontrarem o seu caminho, o que sempre acontece!

chica disse...

Pouco a pouco, aumenta a curiosidade dele em dela saber e assim a roda da vida fundiona... Vamos aguardando! beijos, chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um excelente capitulo.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Maria João Brito de Sousa disse...

A história avançou enquanto estive impossibilitada de ler, mas em breve terei recuperado a leitura dos episódios que falhei...

Não me vai custar nada, é só andar uns dias para trás e ler um por dia :)

Forte abraço, Elvira.

PS - Afinal a minha consulta hospitalar é na quarta-feira. Só ontem reparei que o Carnaval é já nesta terça...

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Um belo capitulo que vai despertando cada vez mais a curiosidade pelo desenrolar da história.
Beijinhos e uma boa semana.
Ailime

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a historia e desejar uma otima semana.

Cidália Ferreira disse...

Episodio maravilhoso.. Curioso!
-
Mas, o que importa o carnaval lá fora?

Beijos e uma excelente semana.

João Santana Pinto disse...

O Nuno é um pouco dramático… o Pai, João, bem mais moderado talvez pela experiência de vida… (sorrisos)
Em todo o caso, o pormenor final que retrata a forma como era acabou por ficar viúva é uma “delicia” (apesar da violência)
Uma vez mais a autora chega ao fim do texto e puxa o leitor para a página seguinte…
Um abraço e bom fim de semana

teresadias disse...

Seguindo... e gostando das palavras do pai do Nuno.
Elvira, a sua escrita é viciante.
Beijo, boa semana.

João Santana Pinto disse...

E o pai a salvar a situação e a ação e ainda dizem que os homens não sabem tudo o que se passa… estar na reforma deve ajudar… (sorrisos)
O personagem Nuno tem essa caraterística (que já vem de trás) não ultrapassou a situação e revela imaturidade (é normal ficar o ressentimento, mas os sentimentos dele são excessivos, como mostra e bem a maturidade e razoabilidade dos argumentos dados pelo pai).
Com um conhecimento que até aqui não tinha, Nuno vai poder escolher outro caminho.
Abraço e boa semana

Rosemildo Sales Furtado disse...

O mundo dá muitas voltas. O melhor é aguardar.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Agora, já sabe que ela casou obrigada, vai amenizar seus planos de vingança.
Abraços fraternos!