Luísa encontrava-se no meio de uma floresta desconhecida. Há horas que tentava sair dali e ia parar sempre no mesmo sítio. Ficava com a sensação de que andava em círculos. Estava cansada e aterrorizada. De vez em quando, chegava até ela um som de passos. Amedrontada, recomeçava a correr, na busca de uma saída. Sentia que o mato lhe rasgava a roupa. Alguns espinhos cravavam-se-lhe na carne infringindo-lhe uma dor terrível. Mas não podia parar. Sentia que quem a perseguia estava cada vez mais próxima. Numa clareira olhou para trás e reconheceu o homem. Era Nuno Albuquerque, com a sua bata branca e o estetoscópio ao pescoço.
Cansada, parou para o esperar. Mas então à medida que ele se aproximava, o seu rosto foi-se transformando, a bata branca desapareceu, o estetoscópio transformou-se numas tiras negras, e o rosto abriu-se-lhe num sorriso odioso, quando levantou a mão direita com o cigarro aceso. Gritou alucinada, e acordou com o rosto banhado em suor, e o corpo a tremer.
Saiu da cama e dirigiu-se à casa de banho. Despiu a camisa transpirada que meteu no cesto da roupa para lavar, abriu a torneira e meteu-se no duche.
Deixou que a água lhe percorresse o corpo, enquanto pensava que tinha de telefonar a marcar uma hora com a psicóloga. Há mais de cinco anos não tinha pesadelos com o falecido marido.
Parecia que tinha conseguido ultrapassar aquela fase da sua vida, afinal ele morrera há catorze anos. Mas o pesadelo daquela noite não agoirava nada de bom. Lembrou de como eram aterradoras as noites de pesadelo que sofreu durante anos, do acompanhamento psicológico da doutora Fátima, e até de duas consultas com um psiquiatra. Houve uma época em que o medo dos pesadelos era tão grande que só conseguia dormir à base de soníferos. Por fim, os medicamentos e o acompanhamento psicológico acabaram surtindo efeito e os pesadelos acabaram. Porque teriam voltado agora? E porquê Nuno aparecia no pesadelo?
Terminou o duche. Enrolou o corpo numa toalha, ligou o secador e começou a secar o cabelo. Depois passou o hidratante no corpo e vestiu-se.
Dirigiu-se à cozinha e preparou uma taça de cereais, que engoliu de pé. Tinha tanto que fazer, e sentia-se tão nervosa.
Passou a taça por água e enfiou-a na máquina. Foi à casa de banho, escovou os dentes e o cabelo. Voltou ao quarto, fez a cama, pegou no telemóvel que estava sobre a mesa-de-cabeceira, verificou o estado da bateria, meteu-o na mala e saiu.
Ainda era cedo, mas como no dia anterior tinha deixado o carro na escola, tinha que apanhar o autocarro e não sabia quanto tempo ele demoraria a chegar ao estabelecimento de ensino.
10 comentários:
Os choques que fazem reviver todas as memórias.
Bfds
Pesadelos fazem estremecer...Mas espero um bom SONHO reservado esteja pra ela! beijos, chica
Lá vamos cantando e rindo! Prometeram chuva para o fim de semana, é hora de dar graças a Deus e acender uma vela no altar de S. Pedro, o santo da minha terra!
Os grandes traumas ficam-nos por muitos anos gravados na pele...
Saúde e um grande abraço, Elvira!
Um episódio tenso!! :))
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Sonhos moribundos
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Beijos, e um excelente fim de semana!
Boa noite Elvira,
Lendo e apreciando este belo episódio.
Beijinhos e bom fim de semana com saude.
Ailime
A passar por cá para acompanhar a história!
Nada falha nas descrições pormenorizadas...
Muito bom, Elvira.
Beijo
O passado negro invadiu seus sonhos, mas Nuno é a esperança de a libertar de tudo.
Abraços fraternos!
Inconscientemente, ela tem pensamentos a querer o que acabou por nunca ter com ele, sendo normal que os fantasmas do passado acabem por trazer medos de voltar a repetir a má experiência.
Após tudo o que ela passou, não vai ser fácil voltar a confiar.
Abraço e bom início de semana
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