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11.2.22

ARMADILHAS DO DESTINO - PARTE XII

 

Luísa encontrava-se no meio de uma floresta desconhecida. Há horas que tentava sair dali e ia parar sempre no mesmo sítio. Ficava com a sensação de que andava em círculos. Estava cansada e aterrorizada. De vez em quando, chegava até ela um som de passos. Amedrontada, recomeçava a correr, na busca de uma saída. Sentia que o mato lhe rasgava a roupa.  Alguns espinhos cravavam-se-lhe na carne infringindo-lhe uma dor terrível. Mas não podia parar. Sentia que quem a perseguia estava cada vez mais próxima. Numa clareira olhou para trás e reconheceu o homem. Era Nuno Albuquerque, com a sua bata branca e o estetoscópio ao pescoço. 
Cansada, parou para o esperar. Mas então à medida que ele se aproximava, o seu rosto foi-se transformando, a bata branca desapareceu, o estetoscópio transformou-se numas tiras negras, e o rosto abriu-se-lhe num sorriso odioso, quando levantou a mão direita com o cigarro aceso. Gritou alucinada, e acordou com o rosto banhado em suor, e o corpo a tremer.

Saiu da cama e dirigiu-se à casa de banho. Despiu a camisa transpirada que meteu no cesto da roupa para lavar, abriu a torneira e meteu-se no duche.  
Deixou que a água lhe percorresse o corpo, enquanto pensava que tinha de telefonar a marcar uma hora com a psicóloga. Há mais de cinco anos não tinha pesadelos com o falecido marido. 
Parecia que tinha conseguido ultrapassar aquela fase da sua vida, afinal ele morrera há catorze anos. Mas o pesadelo daquela noite não agoirava nada de bom. Lembrou de como eram aterradoras as noites de pesadelo que sofreu durante anos, do acompanhamento psicológico da doutora Fátima, e até de duas consultas com um psiquiatra. Houve uma época em que o medo dos pesadelos era tão grande que só conseguia dormir à base de soníferos. Por fim, os medicamentos e o acompanhamento psicológico acabaram surtindo efeito e os pesadelos acabaram. Porque teriam voltado agora? E porquê Nuno aparecia no pesadelo?

Terminou o duche. Enrolou o corpo numa toalha, ligou o secador e começou a secar o cabelo. Depois passou o hidratante no corpo e vestiu-se.
Dirigiu-se à cozinha e preparou uma taça de cereais, que engoliu de pé. Tinha tanto que fazer, e sentia-se tão nervosa.
Passou a taça por água e enfiou-a na máquina. Foi à casa de banho, escovou os dentes e o cabelo. Voltou ao quarto, fez a cama, pegou no telemóvel que estava sobre a mesa-de-cabeceira, verificou o estado da bateria, meteu-o na mala e saiu.
Ainda era cedo, mas como no dia anterior tinha deixado o carro na escola, tinha que apanhar o autocarro e não sabia quanto tempo ele demoraria a chegar ao estabelecimento de ensino.


10 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Os choques que fazem reviver todas as memórias.
Bfds

chica disse...

Pesadelos fazem estremecer...Mas espero um bom SONHO reservado esteja pra ela! beijos, chica

Tintinaine disse...

Lá vamos cantando e rindo! Prometeram chuva para o fim de semana, é hora de dar graças a Deus e acender uma vela no altar de S. Pedro, o santo da minha terra!

Maria João Brito de Sousa disse...

Os grandes traumas ficam-nos por muitos anos gravados na pele...

Saúde e um grande abraço, Elvira!

Cidália Ferreira disse...

Um episódio tenso!! :))
.
Sonhos moribundos
.
Beijos, e um excelente fim de semana!

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Lendo e apreciando este belo episódio.
Beijinhos e bom fim de semana com saude.
Ailime

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

teresadias disse...

Nada falha nas descrições pormenorizadas...
Muito bom, Elvira.
Beijo

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

O passado negro invadiu seus sonhos, mas Nuno é a esperança de a libertar de tudo.
Abraços fraternos!

João Santana Pinto disse...

Inconscientemente, ela tem pensamentos a querer o que acabou por nunca ter com ele, sendo normal que os fantasmas do passado acabem por trazer medos de voltar a repetir a má experiência.
Após tudo o que ela passou, não vai ser fácil voltar a confiar.
Abraço e bom início de semana