O sol brilhava radiante no azul do céu, no dia em que Luísa teve alta hospitalar. Porém nem a beleza do dia, animava a jovem, que só de pensar em ter de entrar novamente na casa onde vivera os últimos catorze meses, se sentia doente e sem forças.
Marta, a sua boa amiga Marta, fora buscá-la ao hospital, e convenceu-a a ir para sua casa uns dias até estar melhor.
Iriam as duas a casa de Luísa, e trariam o que ela precisasse para aqueles primeiros tempos. Luísa agradeceu. Na verdade ela já tinha pensado ir viver para a casa paterna, que pela morte do progenitor era agora sua, e pôr à venda a quinta e a casa de Álvaro. Mas precisava de ir buscar roupas e objetos pessoais, à casa que partilhara com o marido. Esteve a viver na casa da amiga, até retirar o gesso do braço, e iniciar a fisioterapia.
Depois regressou à casa onde vivera toda a sua vida até ao casamento.
Pôs à venda os bens do falecido marido. Inicialmente tinha pensado doar todo o dinheiro com a venda, para instituições de caridade. Marta acabou por convencê-la a não fazê-lo. O dinheiro era dela, sofrera muito às mãos daquele canalha, merecia cada tostão. Iria precisar de tratamento psicológico, durante sabe-se lá quanto tempo. Podia entrar para a Universidade, ou quem sabe montar um pequeno negócio. Era uma asneira desfazer-se do dinheiro, a vida estava cada dia mais difícil, ninguém sabia o dia de amanhã.
Como sempre, Luísa deixou-se levar pela lógica da amiga. Assim, matriculou-se na faculdade de letras, e entregou-se de corpo e alma aos estudos, apesar de não descurar o acompanhamento com a psicóloga, Fátima Candeia, com quem criou uma relação de grande amizade, que se estendeu ao longo dos anos, mesmo depois de Luísa ter terminado o tratamento, após mais de cinco anos de consultas, mais ou menos regulares.
De resto Marta e Fátima, eram as duas únicas amigas de Luísa, que se fechou para todas as amizades e divertimentos próprios da idade. Ela só tinha um desejo. Acabar o curso e dedicar-se ao ensino, já que adorava crianças e com tudo o que passara, pensar em casamento, e em ter filhos seus, estava fora de questão.
Fátima, explicara-lhe, que ela fora vítima de sadismo sexual, uma forma de parafilia, que consiste em que um dos parceiros, não obtém prazer da cópula, mas do sofrimento físico ou psicológico, que infringe ao outro. Também lhe disse, que quando a vítima não consegue fazer a denúncia que o leva à prisão, quase sempre a prática reiterada, leva a um descontrolo do sádico que acaba muitas vezes por matar a companheira.
Apesar das muitas sessões de psicoterapia, ela sentia que nunca mais seria capaz de partilhar a cama com um homem. Então dedicar-se-ia com todo o seu coração, aos seus alunos. Eles seriam os filhos que nunca teria.
Os anos foram passando, ela terminou o curso, tirou a carta de condução e comprou um pequeno carro utilitário. Candidatou-se a uma vaga no ensino oficial e conseguiu entrar.
Durante alguns anos andou de escola em escola, primeiro dois anos em Albufeira, depois em Beja, e em Viseu, até que no ano anterior, conseguira enfim um lugar numa escola perto de casa.
Durante alguns anos andou de escola em escola, primeiro dois anos em Albufeira, depois em Beja, e em Viseu, até que no ano anterior, conseguira enfim um lugar numa escola perto de casa.
Por vezes, na solidão da sua casa, pensava em Nuno. Por onde andaria ele, como estaria? Por certo era feliz, já que trabalhar no meio dos desprotegidos da sorte, sempre fora o seu sonho. Mas teria casado? Teria filhos?
Tinham-se passado dezasseis anos desde que obrigada pelo pai terminou o namoro. Recordava o dia em que lhe dissera que pensara melhor, e decidira que era muito nova para enfrentar um casamento, queria desfrutar da juventude e divertir-se.
Ele levantou-lhe o queixo e obrigara-a a olhar para ele, pedindo que repetisse o que acabara de dizer, olhando-o. Sentindo-se a morrer de tanta dor, ela repetiu cada palavra sem desviar o olhar.
11 comentários:
O reencontro de duas almas perdidas adivinha-se.
Boa semana
Por aqui vou passando para reavivar a memória deste conto.
Boa semana e esperemos que o S. Pedro tenha pena de nós e não deixe secar as nossas torneiras!
Agora é hora de recomeços para Luisa que ainda bem, tem a ajuda de amigas e vai conseguir um novo amor e se dar bem, como merece! beijos, linda semana, chica
Sim, já se adivinha esse reencontro... :)
Um grande abraço e muita saúde, Elvira!
Ora muito bem!!
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Existe um silêncio que grita
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Beijos, e uma excelente semana.
Tudo a correr bem, boas decisões tomadas com o apoio da amiga, só falta o reencontro com o amor de Nuno.
Excelente história, Elvira!
Beijo, boa semana.
Boa noite Elvira
Continuando a acompanhar com muito interesse esta bela história.
Beijinhos e boa semana.
Ailime
Elvira, hoje não vim por causa da história que me agrada muito, mas vi no blog da Janita que as suas meninas estão com covid, ou melhor, ainda não sabe o que se passa com a Margarida e então vim deixar-lhe o meu abraço e desejar que tudo passe depressa. Olhe, a minha mais pequenina, a Beatriz, com 3 anos, já está de novo sem ir ao infantário; muito constipada e com tosse, mas sem febre. A mãe dela também está, mas, como é professora , tem de fazer testes e não é covid. A Bia, não sabemos, mas tb pode ser. Com isto tudo, tem de ficar aqui, com a vovó e, claro, o meu blog não avança; mas, primeiro está ela e depois o resto. O Lucas e a Eduarda, já não ocupam a vovó, ele já tem 14 e ela 12 e, apesar dos casos na escola têm escapado, se calhar por terem já as duas doses. Amiga, não se preocupe, porque tudo vai correr bem. Dê noticias, sim? Um beijinho
Emilia
Reencontro que já aconteceu, sem que houvesse uma aproximação. Não vai ser fácil, mas como na mente da nossa contista nada é impossível...
Um abraço e saúde. Elvira.
Que tudo corra pelo melhor.
Agora, caminhar, lutando para vencer os traumas!
Abraços fraternos!
Eu acredito no amor e acredito que há um futuro feliz em potência. Pela vida que levou, por tudo o que sofreu, se ela não o merece… mais ninguém merece e não há salvação para este mundo (sorrisos)
Tudo isto para dizer que a autora vai fazer sofrer quem lê e demorar muito certamente a oferecer este final que se quer feliz, mas acredito que vai acontecer.
Uma vez mais, repito que a Elvira não tem medo de retratar temas difíceis e que exigem estudo e sensibilidade.
Abraço e bom fim de semana
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