Dias depois, Quim foi convocado pelo advogado dos tios para a leitura do testamento. Os tios tinham-lhe deixado tudo. A sua casa, o restaurante e um bom dinheiro. Excetuando uma pequena quantia que destinaram à empregada, e uma cláusula em que determinava que eles deveriam continuar a mantê-la na casa, já que era quase como família.
O casal, mudou-se então para a casa, que fora dos tios, por cima do restaurante. Quim continuou a ser o chefe, Sofia, tratava de todos os assuntos relativos à gerência. O negócio ia bem, a conta bancária aumentava. Três anos depois, nasceu a pequena Catarina. E quando esta estava prestes a completar um ano, aconteceu em Portugal, a tantas vezes sonhada revolução, que depôs o regime fascista e colonialista. Era Abril, os cravos floriram e com eles a libertação de um povo, martirizado pela fome e pela guerra. As imagens correram mundo, e eles viram-nas pela televisão e renovaram as esperanças de poderem voltar a Portugal.
Se a guerra colonial acabasse, Quim podia voltar. Era o sonho comum do casal. Voltar à terra que os vira nascer, rever parentes e amigos. E então aconteceu. A independência das colonias tornou-se irreversível, mas a paz tão sonhada não. Angola, Moçambique e Guiné, as três maiores colónias, tinham vários movimentos de libertação, e todos queriam o mesmo. Ser o seu movimento aquele que assumiria o poder, e isso teve como consequência que a guerra recrudesceu, levando os muitos portugueses lá residentes a fugiram para Portugal. Mais de meio milhão de portugueses, muitos deles nascidos naquelas possessões africanas, chegaram a Portugal, sem emprego, sem dinheiro, sem outros bens, que não a própria vida. Enquanto o governo procurava dar resposta, aquela avalanche de gente, a precisar de pão, roupas, casa, enfim do básico para sobreviver, alguns acolhiam-se ao abrigo de familiares, ou com algum sacrifício, emigravam para outros países, certos que estavam de não terem futuro em Portugal.
Quim e Sofia, que na altura planeavam vender a casa e o restaurante, e regressar à terra que os vira nascer, e onde tinham os seus familiares, no intuito de se estabelecerem na terra-mãe, receando que a conjuntura do país naquele momento difícil, não lhes fosse favorável, adiaram a decisão.
Porém poucos meses depois, Sofia voltou a ficar grávida, e eles ficaram sem outra opção. Se queriam realizar o sonho do regresso, era aquela a ocasião. Quim e Sofia, não queriam que o nascimento do novo bebé ocorresse em França. Acreditavam que os filhos, iam crescer e sentir que a França era a sua terra, o seu país. Mais velhos, não quereriam ir viver para uma terra que embora fosse a dos seus pais, eles não conheciam, nem sentiam como sua. E os pais, fatalmente iriam ficar onde os filhos estivessem. Por isso era urgente o regresso. Venderam tudo, transferiram para Portugal o seu dinheiro e os três acompanhados de Idalina, a empregada, chegaram à aldeia no mês de Agosto do ano da graça de mil novecentos e setenta e seis.
Porém poucos meses depois, Sofia voltou a ficar grávida, e eles ficaram sem outra opção. Se queriam realizar o sonho do regresso, era aquela a ocasião. Quim e Sofia, não queriam que o nascimento do novo bebé ocorresse em França. Acreditavam que os filhos, iam crescer e sentir que a França era a sua terra, o seu país. Mais velhos, não quereriam ir viver para uma terra que embora fosse a dos seus pais, eles não conheciam, nem sentiam como sua. E os pais, fatalmente iriam ficar onde os filhos estivessem. Por isso era urgente o regresso. Venderam tudo, transferiram para Portugal o seu dinheiro e os três acompanhados de Idalina, a empregada, chegaram à aldeia no mês de Agosto do ano da graça de mil novecentos e setenta e seis.
E continua...
11 comentários:
Quantos Quim e Sofia existiram!!!
Bfds
Que reviravolta interessante :)
Bom dia, Elvira
A descolonização foi muito mal feita. A falta de experiência dos governos, como era normal, dificultou a transmissão de poder. Muitos ficaram sem nada e regressaram a Portugal. Muitos morreram quando lhes ocuparam as quintas e as casas. Enfim. Nem é bom recordar por um lado, mas muito bom recordar por outro. Era uma guerra imbecil, imprópria, injusta.
Continuando a aconpanhar.
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Cumprimentos poéticos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Telefonei ao compadre Eduardo. Ele está um pouco doente (esqueleto e coluna) e muito desanimado. Além disso tem alguma dificuldade de visão.
A PDI não perdoa!
Apanhados pelas convulsões políticas da colónia, tinham mesmo que regressar a Portugal.
Continuo a gostar da história e da sua escrita. Continue...
Bom fim de semana, querida amiga Elvira.
Beijo.
E está a continuar em beleza, este "Casamento por Procuração"!
Forte abraço, Elvira!
Mas que volta a vida destes dois levou, Elvira! Lembro muitissimo bem desta época e foi em 1976 que eu e minha familia emigramos para o Brasil. Época feliz , por um lado, e por outro, muitos problemas econômicos, falta de empregos, empresas a fecharem e tantos, tantos a virem para cá, fugindo a novas guerras. Vamos lá ver se os nossos amigos não se arrependem. Beijinhos e um bom fim de semana, com SAÚDE
Emilia
As voltas que a vida dá! :)
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Gotículas celestiais ...
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Beijo e um excelente fim de semana.
Boa tarde Elvira,
Um episódio muito bonito que nos traz muitas recordações dum momento tão importante na História do nosso País!
Adorei!
Um beijinho e saúde.
Ailime
Belo capítulo!!!
Eu cheguei a Lisboa em Março de 1975, grávida de 4 meses.
Beijo.
Continuo acompanhando e gostando desse Casamento Por Procuração. Acredito que tenham tomado a decisão certa ao voltarem para Portugal.
Abraços,
Furtado
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