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25.4.21

25 DE ABRIL SEMPRE

 




Ontem da minha varanda, assisti ao espetáculo pirotécnico no Seixal, sinal de que se iniciaram as comemorações do 47º aniversário do 25 de Abril

Há 47 anos atrás, o 25 de Abril e a revolução dos cravos entrou na minha vida quando ainda era uma jovem cheia de sonhos. Em África onde me encontrava a acompanhar o marido que era militar, eu sonhava com a Liberdade com o fim da guerra e sobretudo com uma vida melhor e mais igualitária para todos. Oriunda de uma família muito pobre, nasci numa barraca sem água e sem luz, e dividi com dois irmãos mais novos, uma infância onde não havia nada que uns pais a trabalhar arduamente e a sofrer, com medo de um dia não terem a uma sopa, e um pedaço de pão para nos matar a fome. Com onze anos, depois de ter completado a 4ª classe, fui trabalhar. Fazia recados, tocava o gado na nora, da quinta do ti’ Pereira, para que a água não faltasse na rega e carregava padiolas de estrume que vinham pelo rio em fragatas para adubar as terras. Mais tarde aos 14 anos fui trabalhar para a Seca do Bacalhau. Como quase toda a gente que vive assim, o meu maior sonho na altura era viver numa casa de pedra, com água e luz e uma casa de banho com uma banheira, pois sempre tomávamos banho na selha, onde a mãe lavava a roupa.
Quando casei concretizei enfim esse sonho, e vivi outros que nunca me atrevera a ter. Quando aconteceu o 25 de Abril pensei que a vida dos portugueses ia enfim tomar um novo rumo. Com a Liberdade não íamos mais olhar o nosso vizinho com desconfiança cada vez que desabafávamos sobre as dificuldades da vida, já que até aí muitos iam presos um ou dois dias depois de certos desabafos. Pensei também que com o fim das guerras coloniais, a vida dos jovens portugueses ia melhorar muito. Iam deixar de ser obrigados a partir para a guerra, iam deixar de voltar estropiados, física e mentalmente. Íamos enfim ter um País mais justo, mais igualitário. Íamos dar aos nossos pais uma velhice digna e aos nossos filhos um futuro melhor do que o nosso. E uma parte desses sonhos concretizaram-se com a democracia é verdade. Ninguém mais foi preso por pensar diferente do regime e a guerra colonial acabou.
Somos um país melhor do que naquela época.
Mas está longe daquilo que o povo sonhava. Porque passaram quarenta e sete anos, e os nossos filhos continuam a ser obrigados a procurar em terras estranhas, o futuro que o país lhes nega. Ou então amordaçam os sonhos e a esperança e limitam-se a sobreviver. Os mais velhos que trabalharam duramente toda a sua vida, chegam à velhice, com o permanente dilema de escolher entre comer, ou pagar a medicação quase sempre necessária à medida que os anos aumentam, e a saúde escasseia. Porque as reformas de miséria, que grande parte dos idosos recebem pouco ultrapassa os 300 € mensais. Somos um País cada vez mais idoso, e as esperanças do 25 de Abril nos darem uma velhice mais digna já se esbateram há muito. A democracia está meio adormecida, anestesiada pela corrupção que cresce como erva daninha.
Dos sonhos de há quarenta e sete anos, resta-nos a Liberdade, sem dúvida a maior conquista de Abril. E a vida sem Liberdade não faz sentido é verdade. Mas pergunto:
-E a Liberdade sem pão, faz?
É URGENTE ACORDAR A DEMOCRACIA, antes que aqueles que nunca a quiseram, acabem com ela de vez.

17 comentários:

Anete disse...

Uma reflexão e tanto, querida Elvira. Gostei de novamente ler sobre a sua caminhada...
Que o seu domingo seja alegre e comemorativo. Grande carinho...

chica disse...

Lindas reflexões e questionamentos, Elvira! 47 anos já! Gostei de ler! Ótimo dia por aí! bjs, chica

Tintinaine disse...

Posso fazer "copiar e colar" e terei o relato da mina vida do antes do 25 da Abril. O país está bem melhor, mas há coisas que continuam bem mal.

Emília Pinto disse...

Belo texto, querida Elvira, onde me revi em muito do que contas. Um bom Domingo de Abril, com SAÚDE e esperanças de que a nossa democracie melhor, principalmente com pão para todos. Beijinhos e obrigada pelo texto!
Emilia

aluap disse...

É preciso vigilância, a democracia, não sendo um sistema perfeito (porque não os há!), carrega defeitos que a podem pôr em perigo. A corrupção, é um deles. Parece mesmo que temos que dizer às elites: "tenham juízo"!
Mas já conquistamos muito...

Até 24 de Abril
Censura
Opressão
Guerra, jovens mortos ou feridos ou marcados pela Guerra
Partido Único
PIDE
Aldeias, sem luz, sem água, sem esgotos
Casas sem frigorifico, sem televisão, etc...etc...etc...
Idosos sem reforma, nem assistência médica, nem quaisquer descontos nos medicamentos
Não havia instituições de apoio à 3ª Idade
Número reduzido de jovens que iam estudar e se ficavam pela 4ª Classe (quando ficavam)
As famílias não tinham carro, quanto mais dois ou três?
Tanta coisa mudou...

A partir do 25 de Abril
Liberdade de expressão
Liberdade partidária
Fim da Ditatura
Paz
Democracia
Etc...etc...etc...
Continua a haver desigualdades? Continua.
Continua a haver ricos e pobres. Continua.
A sociedade actual é a ideal. Não. Mas quanto caminho andado...

Bom feriado Elvira.
Viva o 25 de Abril, Viva Portugal.

Maria João Brito de Sousa disse...

Claro que não li as suas memórias de infância que tão bem
revelam a urgência da Revolução de Abril; entrei na publicação anterior...

Li agora este seu belo texto e mais uma vez lhe desejo um Festivo 25 de Abril, segura de que, em muitos de nós, os cravos nunca murcharão!

Graça Pires disse...

Memórias de quem teve uma vida difícil para chegar onde chegou. O 25 de Abril resolveu algumas coisas, mas falta cumprir tanta coisa ainda, como refere nesta sua excelente crónica.
Um dia 25 de Abril bom para si, minha Amiga.
Cuide-se bem.
Um beijo.

Edum@nes disse...

A guerra colonial contribuiu para o aumento do ódio entre a raça branca e a raça negra. E só a devolução do seu a seu dono poderia pôr fim à sua continuidade. Não falo só por falar. Falo com conhecimento. Ninguém me disse eu vi como alguns brancos tratavam os negros abaixo de cão.

Portanto, não se atribuam as culpas ao 25 de Abril. Mas sim a quem antes não quis ou não teve inteligência para dialogar com os lideres dos movimentos nacionalistas que lutavam pela independência dos territórios que por, legítimo, direito lhes pertencia.

Bom Domingo amiga Elvira, e viva 25 de Abril. Um abraço.

brancas nuvens negras disse...

Presto-lhe homenagem pelo caminho que fez até aqui chegar. Está do lado certo da vida.
O 25 de Abril abriu as portas do caminho para uma sociedade mais justa. Esse caminho foi barrado por alguém que entendia a liberdade de uma forma que só beneficia os poderosos, esse personagem que se passeava como pai da democracia bloqueou e arrastou todos os que detestavam o 25 de Abril até chegarmos aqui.
O futuro justo pode ser longínquo mas chegará, é inevitável, até lá deixará muitas vítimas pelo caminho.
Um abraço.

" R y k @ r d o " disse...

Também nasci numa casinha muito pobre em que o WC era o campo. Sem água ( o meu pai fez um poço com tijolo ) e sem luz elétrica. Hoje felizmente vivo numa casa com todas as comodidades. Era um jovem quando aconteceu o 25 de Abril.
Direi 25 DE ABRIL SEMPRE...
.
Domingo feliz … Saudação poética
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.

" R y k @ r d o " disse...

Com o devido respeito deixo aqui uma pergunta:

Alguém sabe porque o 25 de Abril de 1974, aconteceu no mês de Abril e não noutro mês do ano? Será que esse mês se consegue associal a algo?

Maria Dolores Garrido disse...

O seu testemunho, Elvira, emociona, porque, como lhe disse há dias, mesmo com todas as dificuldades de início de vida, é uma lutadora e vencedora.
Há ainda muitas imperfeições, o caminho ainda está muito por andar, mas se houver empenhamento de todos, as coisas podem melhorar. Confiemos que sim, sem cruzarmos os braços para mostrarmos que estamos vivos, com deveres e com direitos.
Um abraço e bom 25 de Abril!

São disse...

Dado o atraso que Portugal tinha, o caminho percorrido até agora é espectacular.

Temos que rever algumas coisas? Sem dúvida!

Porém, apesar dos pesares, VIVA ABRIL !


Beijinho, tudo de bom.

Cidália Ferreira disse...

Maravilhoso de ler! 25 de Abril, sempre!
*
Quero que leias esta carta rabiscada
-
Beijo e um excelente final de Domingo!

Joaquim Rosario disse...

Boa tarde
Depois de ter este post só me resta dizer:
Só não chora quem não tem coração

JR

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Uma crónica majestosa sobre a data que hoje celebramos.
Estive no Carmo naquele já longínquo dia.
A sua história é um exemplo vivo e real do que era Portugal no tempo do fascismo.
Este artigo devia ser lido nas escolas para quem ainda não sabe como era o antigamente.
Apesar de ainda faltar a concretização de muita coisa, o País levou uma reviravolta que muito me orgulha.
25 de Abril, sempre!
Beijinhos e saúde.
Ailime

Rogério G.V. Pereira disse...

Teu texto
merece comentário
cuidado
e não estou em condições
de dá-lo

Amanhã o farei!