Apesar da saúde da mãe que se ia degradando cada vez mais, foi uma alegria quando conseguiu o primeiro contrato. Uma campanha publicitária para uma grande superfície. Fez sucesso e logo veio uma outra para um telemóvel. E essa campanha mudou o conceito publicitário no país. Foi um sucesso tão grande, que em breve não conseguia dar conta de tantos contratos sozinha, e teve que arranjar uma assistente para a ajudar, até porque nos fins-de-semana tinha que cuidar da mãe e andava muito cansada. Foi nessa época que contratou Amélia, que se veio a revelar ser de grande valia, uma assistente competente e confiável, que se tornou mais tarde, também numa grande amiga.
Menos de dois anos depois a mãe partiu. O pai ficou muito abalado e a sua saúde, já débil, ressentiu-se ainda mais. Isabel desdobrava-se para conseguir cumprir datas no trabalho e cuidar do pai que uma noite caiu da cama e ficou ainda mais dependente. Ermelinda continuava cuidando de tudo de dia, mas de noite e nos fins-de-semana era sempre ela quem cuidava do pai. Lembrou-se da primeira vez que lhe deu banho. O pai chorou o tempo inteiro de vergonha.
Foram três anos muito cansativos. Um certo dia Isabel teve conhecimento de um concurso internacional de marketing que ia decorrer na Alemanha, e decidiu concorrer. O seu trabalho foi premiado e teve que viajar para lá.
O pai estava cada dia pior e ela viu-se obrigada a procurar um lar onde o pôr. Não podia viajar de outro modo.
Depois desse trabalho Isabel teve outros trabalhos para a Europa e outras viagens. Sempre que estava no país passava todas as tarde duas horas com o pai. No escritório, agora apenas dela, já que Irene se casara e fora viver para Coimbra, além de Amélia, sua assistente, tinha uma jovem estagiária, que acabou ficando a trabalhar com ela durante mais de quatro anos, até que decidiu trabalhar por conta própria A vida profissional de Isabel progredia a olhos vistos mas a vida pessoal praticamente não existia.
Deu mais uma volta na cama, ajeitou a almofada e por fim adormeceu.
No início de 2007, o pai partiu. Morreu serenamente enquanto dormia.
Depois do funeral Isabel pôs à venda a casa dos pais e foi viver para um moderno apartamento perto do escritório. Talvez para compensar a sua solidão embrenhou-se ainda mais no trabalho.
Claro que muitas vezes se sentia sozinha. Por vezes ao olhar os casais de namorados que se cruzavam com ela na rua, sentia uma certa nostalgia, e até porque não um pouco de inveja.
Ela queria ter um homem a seu lado, a quem amasse, e que a fizesse sentir-se amada. Que, como um rio, penetrasse nos recônditos da sua alma sequiosa de amor, transformando a aridez da sua vida, num oceano de novas sensações e emoções.
Era normal. Afinal era uma mulher na plenitude da vida, a quem já fora dado a conhecer, os prazeres de uma vida de amor e paixão. Não era freira, e naqueles vinte anos que passaram desde a morte de Fernando, teve alguns relacionamentos. Breves, sem mais intimidade que a troca de um ou outro beijo, mas logo terminadas, por não conseguirem despertar-lhe qualquer emoção.
“Por esse andar, um dia vais acordar velha e sozinha” costumava dizer-lhe Amélia sua assistente, amiga e confidente, sempre a seu lado quase desde o primeiro trabalho.
Aquele era um cenário, que não lhe agradava nada. Mas que fazer, se ela ainda não esquecera Fernando? Ela nunca conseguiria partilhar a sua vida com um homem a pensar noutro. Nem acreditava que uma união assim fosse feliz, para qualquer dos dois.
Veio-lhe à memória a imagem do marido, mas pela primeira vez em quase duas décadas, o seu rosto aparecia esbatido, como que envolto em neblina.Deu mais uma volta na cama, ajeitou a almofada e por fim adormeceu.
19 comentários:
Olá, Elvira!
Não tenho acompanhado a história, tenho ficado na roça e lá fica muito complicado blogar.
No entanto, esse trecho demonstra o compromisso que isabel tinha com seu pai, por mais que ficasse distante. Às vezes, deixamos de segyir nossos sonhos por medo do que acontecerá em nossa ausência, mas de qualquer forma não temos o controle da vida.
Beijinhos.
Tudo indica que em breve haverá uma mudança e, quem sabe, voltará a sorrir atendendo as ordens do coração. Gostando e aguardando os acontecimentos.
Abraços e uma ótima semana para ti e para os teus.
Furtado
Posso dizer por experiência própria que acontece onde e quando menos se espera.
Boa semana
Bom dia
Esta historia tem tanto de normal como de especial .
Um relato das vidas do dia a dia de quem quer ser feliz , mas que o destino assim ainda não o quis .
J R
Estou segura de que Isabel dará a volta por cima, ou não fosse ela a protagonista de uma história sua, Elvira.
Forte abraço!
Pondo a leitura em dia... torço pela felicidade dela!!!
Bj
Também a mim custou adormecer, na noite passada, mas não pelas mesmas razões.
Bom dia, Elvira!
Lindo te acompanhar...Belo capítulo! bjs, chica
Continua muito interessante e muito bem escrito com atenção a todos os detalhes.
Gosto!
Beijinhos
:)
O que reservará a Elvira para Isabel... edstou cada dia mais curiosa.
Bom dia, Elvira
Mais uma fantástico episódio!
Beijo e uma boa tarde!:)
Aqui está uma descrição pormenorizada acerca da vida e sentimentos da nossa heroína, que em nada enfadou. Muito pelo contrário. De palavra fluída e escorreita, soube a Elvira aguçar-nos o apetite por mais.
Muito bom. Adorei!
Agora é seguir em frente, para moça descobrir o homem da praia e ser novamente feliz. Afinal, como canta o Caetano Veloso: "No peito dos desafinados também bate um coração"...e que coração! :)
Abraço.
O passado já lá vai. Quem partiu para sempre não volta mais. Mas ficam as recordações e as saudades que durarão até ao fim da vida de quem as sente. Sendo isso que se passa com Isabel.
Tenha uma boa tarde amiga Elvira. Um abraço.
PS: Fantástica a nova imagem do Blog.
Boa noite Elvira,
Gostei deste episódio confirmando que Isabel têm bons sentimentos.
Merece ser feliz.
Beijinhos,
Ailime
Continuo a acompanhar com deleite
Bjs
Kique
Hoje em Caminhos Percorridos - Como elogiar uma mulher...
pois... foi isso mesmo. Li primeiro o último :))))
Não faz mal dei para perceber o perfeita ligação que o Elvira fez com a imagem do marido da Isabel e o sonho que inicia o último post.
Um abraço, Elvira. :)
Curiosa com o que se seguirá :)
Abraço Elvira
Regressando para retomar a leitura desse conto!
Beijos!
Um conto que retrata a vida...
outro tema, ou vários, mesmo e bastante delicados, quer pelo papel dos pais quer para o papel do cuidador.
A sociedade moderna nunca conseguiu dar resposta e no passado, quer pela dimensão das famílias, quer por haver sempre alguém em casa, havia um acompanhamento, enquanto que nos nossos dias, poucos podem custear condições dignas...
um texto que parece terminar a história passada da personagem, dura como a vida.
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