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20.11.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XVI





Dias depois, também Laura se despediu desta vez por pouco tempo. Faltava-lhe apenas uma semana para o término do estágio e não podia deixar de o acabar para que pudesse constar do seu currículo.
Gil dirigia-se todos os dias ao hospital. Via a filha e ia-se embora deixando Inês no hospital, para que pudesse estar com a bebé todo o tempo que lhe era permitido. Quando este terminava, ela apanhava um táxi para se dirigir à residência do seu patrão, onde agora também morava.
Inês era uma mulher de estatura média, de grandes e expressivos olhos castanhos, cabelo curto e de um bonito tom de mel. Apesar de ser magra, tinha as formas bem definidas.  Era educada, com as outras empregadas da casa, mas falava com elas apenas o estritamente necessário, embora tivesse a noção de que elas a achavam arrogante e empertigada.
Inês não se importava com o que elas pudessem pensar. O seu trabalho seria cuidar da bebé e isso ela faria com todo o seu saber e amor. Sim porque ela adorava crianças.
A sua vida, tudo o que passara até chegar ali, era a sua vida e só a ela interessava.
O patrão não lhe fizera perguntas, mas a irmã, sim. E foram tantas as que não respondeu, que se admirou quando ela lhe telefonara a dizer que o lugar era seu. Afinal ela não tinha outras referências que as do hospital pediátrico onde trabalhara, e cujo emprego se vira obrigada a deixar, para se poder esconder de um marido extremamente violento. O que mais a entristecia, era estar separada do filho, Jorge, de cinco anos. Não podia tê-lo consigo, nem levá-lo para casa dos seus pais, pois seria o primeiro lugar onde o ex-marido o procuraria. No centro de apoio onde se acolheram, arranjaram-lhe um lar de acolhimento onde poderia estar um máximo de seis meses, até que ela conseguisse resolver a sua situação.
Apesar do divórcio e da proibição feita ao marido de não se poder aproximar dela, Inês tinha muito medo. Estava cansada de ouvir notícias de homens que matavam as mulheres, apesar de estarem proibidos de se aproximarem delas. Ela não temia por ela, mas pelo que ele podia fazer ao filho, sabendo que isso a faria sofrer muito mais do que qualquer coisa que lhe fizesse a ela.
Alheio a toda esta situação, Gil pensava, se a irmã tinha feito bem em contratar para cuidar da sua filha, uma mulher que parecia estar zangada com o mundo inteiro. Por isso quando a irmã regressou,
não pôde evitar a pergunta.
- Que te levou a contratar aquela mulher para cuidar da minha filha? Que referências te deu?
Os dois irmãos encontravam-se sentados na sala que era simultaneamente biblioteca e escritório, no piso inferior da moradia. Laura encarou o irmão e perguntou:
- O que é que ela fez? Não tem ido ver a menina? Fizeram alguma queixa dela, no hospital?
- Não. Mas está sempre com uma expressão, que parece que todos lhe devem e ninguém lhe quer pagar. E tenho notado que não fez amizade com nenhuma das empregadas da casa.
-Bom, as referências do hospital onde trabalhou, foram as melhores. Sabes que é divorciada? A vida dela não deve ter sido nada fácil. O Alcides foi à morada que ela me deu e sabes o que era? Uma casa de apoio às vítimas de violência doméstica. Como a psicóloga de lá é conhecida dele, conseguiu saber que quando chegou lá com o filho, apresentava várias marcas de espancamento. 

15 comentários:

noname disse...

Esta história está a ser uma maravilha, uma história abrangente do mundo, nem sempre bom, em que todos nos inserimos.
Parabéns, Elvira
Um bom descanso

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um episódio emocionante abordando, entre outros, o tema da violência doméstica, infelizmente tão atual.
Bejinhos e até amanhã.
Ailime

Pedro Coimbra disse...

A cara quase sempre mostra o que sente o coração.
Abraço

Tintinaine disse...

Violência doméstica é assunto que está na moda. No mundo moderno há cada vez menos amor e mais interesse, o que explica, em parte, esta doença social.

Larissa Santos disse...

Pois. Uma pessoa que sofreu de violência, por norma é mais cautelosa com a "amizades" que faz, porque se fecha por vergonha e medo. Ela vai dar a volta :))

Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo presente e a acompanhar.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Acompanhando e gostando!! Beleza! beijos, chica

Maria João Brito de Sousa disse...

Cá estou de novo, posta em dia a leitura de OS SONHOS DE GIL GASPAR.

Forte abraço, amiga!

" R y k @ r d o " disse...

Boa tarde:- Sem dúvida uma leitura muito agradável de seguir
.
…………… Poema ……………
^^^ Impuros Desejos ^^^
.
Deixando um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Eu acho que o Gil vai dar-se bem com o Silêncio dela! :)
Amei!

Beijos e um excelente dia!

Manuel Veiga disse...

gosto muito da sua de narrar, minha amiga
e tenho pena de não acompanhar desde inicio esta interessante narrativa.

beijo

Edum@nes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edum@nes disse...

Agora na baila está a Inês. Divorciada e vitima de ameaça doméstica. Seja lá como for, o que mais agora ao Gil interessa é que ela seja uma boa ama para sua filha. E com o decorrer do tempo poderá ser mais do que isso?

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Kique disse...

A cada capitulo mais gosto desta historia
Bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - Urgências...irá melhorar

João Santana Pinto disse...

Um tema real e realmente preocupante que merece ser sempre retratado e divulgado por forma a passar a mensagem que a violência não é aceitável.

Mais um drama dentro de um drama, um enredo bem trabalhado em várias frentes onde até os personagens secundários acabam por marcar