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5.7.17

ROSA - PARTE VI


Deixou-a sozinha. Rosa estava espantada. Foi até ao outro quarto. A tina para o banho era enorme. Devia caber lá dentro uma pessoa estendida. E ela estava habituada a tomar banho num alguidar. Tirou a roupa e meteu-se dentro de água. Estava fria mas não se importou. Afinal estava-se no fim de Setembro e o tempo ainda não ia muito frio. A toalha era tão macia, que se enxugou deliciada. Depois, procurou no armário alguma coisa para vestir e, entre os vários fatos que lá estavam, escolheu um vestido azul. Olhou-se no espelho e achou-se estranha, com o grande decote e a saia quase pelo joelho. Mas enfim se era assim que se vestiam na cidade…
Tinha acabado de se vestir quando a mulher a veio buscar para jantar. Na casa de jantar, já estavam quatro jovens a quem a mulher a apresentou dizendo que eram companheiras de trabalho. Ficou espantada. Devia ser uma casa muito rica para ter tanta criada.
Durante o jantar, enquanto a mulher foi atender o telefone, uma das raparigas perguntou-lhe se ia para a sala nessa noite.
-Fazer o quê? – Perguntou
- Esperar os clientes. A maioria vem de dia, mas alguns vêm sempre à noite.
- Clientes? Do quê?
A outra viu que ela não sabia do que se tratava e apressou-se a calar-se não fora a “madame” zangar-se.
Quando a mulher voltou, Rosa perguntou-lhe quando começava a trabalhar. Ela não se importava de começar já. Podia lavar a loiça e arrumar a cozinha. As outras raparigas olharam-se entre si espantadas.
- Falamos quando acabarem de jantar - disse a mulher
No fim do jantar, chamou-a a uma pequena sala e aí disse-lhe:
 -Aqui não terás que fazer trabalhos domésticos. Só terás que atender alguns clientes e seres simpática com eles. Em troca, terás comida, roupa e até algum dinheiro no fim do mês. Só não poderás sair à rua sozinha.
- Mas simpática porquê? Tenho que vender alguma coisa?
- Ó rapariga, mas de onde diabo vens tu? Ainda não percebeste? Isto é uma casa onde os homens vêm em busca de umas horas de prazer, ou de alguma fantasia que as mulheres não lhes fazem em casa. A “mercadoria são vocês”.
- Mulher da vida? – Perguntou a medo lembrando-se de quando ouvira a palavra lá na aldeia e perguntou à avó do que se tratava.
- Ah! Afinal sempre sabes alguma coisa.
- Não quero. Quero ir- me embora – gritou.
- Podes ir! - Disse a mulher com estranha calma. Vai dormir para o jardim onde te encontrei. A meio da noite, terás que aguentar os homens que por lá passem e sem que te paguem. Bem podes gritar, que se alguém aparecer e chamar a polícia ainda vais presa. Aqui, podes descansar hoje e amanhã começas a trabalhar. És muito bonita. Não vão faltar interessados.
Rosa, completamente destroçada, muda de espanto e medo, recolheu ao quarto e atirou-se para a cama a chorar desconsoladamente.


20 comentários:

Odete Ferreira disse...

Há pessoas que nascem já com o destino traçado...
(Estou a acompanhar com interesse. Um retrato de uma época que a narradora bem relata e, se não avisasse, diria que era caso real.)
Bjinho

redonda disse...

Será que alguém a pode salvar?



um beijinho e boa noite

Pedro Coimbra disse...

Vivo numa cidade onde muitas meninas são atraídas por supostos empregos bem remunerados para acabarem envolvidas em redes de prostituição das quais dificilmente saem.
Um abraço

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
bem ! parece que vamos aqui ter pano para mangas.
que mais irá acontecer á pobre miúda !!!
JAFR

O meu pensamento viaja disse...

E agora?
Bj

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhas a história.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Tintinaine disse...

A dura realidade!
Veremos se ela sabe lidar com ela.
Volto amanhã para descobrir o que se passou!

Anete disse...

Uau... Que surpresa desagradável para Rosa... Mais um sufoco pelo caminho! Gostaria que não mergulhasse nessa vida,MAS... Vamos ver o que vem a seguir... (?)
Tanta gente entra nesse "trabalho" por falta de opção, lamentável!...

Bjs e boa 4ª feira...

Os olhares da Gracinha! disse...

O azar persegue_a!!!
Bj

Manu disse...

Triste sina para quem não está preparada nem sabe destas andanças do mundo.
Estou a gostar da história.

Beijinhos Elvira

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, estou convencido que a seguir algo vai acontecer de bom para Rosa.
Continuação de boa semana,
AG

Silenciosamente ouvindo... disse...


Puxa vida, por esse caminho não.

Vou ver o desenvolvimento.

Bjs.

Irene Alves

António Querido disse...

Que sorte macabra! Encontrar um emprego desses não é para todas.

Abraço

Edum@nes disse...

Rosa, inocente não desconfiou. Qual seriam as intenções da angariadora em lhe arranjar trabalho. Diz-se que de boas intenções o inferno está cheio!

Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Graça Sampaio disse...

Era o destino de tantas e tantas raparigas! Que tempos horrorosos!

Gaja Maria disse...

Ooooh! Nem sei o que diga,mas que karma o desta rapariga :(

Rui disse...

Capítulos 3 a 6 :
Costuma dizer-se que um azar nunca vem só ! ...
Que sorte madrasta a desta pobre Rosa ! :(( ... a violação, a morte da avó, o ficar sozinha e sem nada e ainda o ir meter-se na "boca do lobo" a ver-se confrontada com a possibilidade que mais odiaria no mundo ! :((

Um estória muito real para a época ! ... Quantas e quantas teriam passado por esta situação, ou pelo menos parte dela, sem que houvesse a coragem, ou mesmo a possibilidade de a denunciar e ter que ficar remetida a o silêncio ! :(

Será que quem se escandaliza é gente nova que não viveu aquela época ?... Claro que é um tremendo drama, mas nada que não seja previsível naqueles tempos !

Amanhã tentarei ler os próximos, Elvira !
Muito realismo nesta história !!!

Ailime disse...

Triste destino.
Coitada da pobre Rosa.
Beijinhos,
Ailime

Cantinho da Gaiata disse...

Quero acreditar que ela vai ter um fim digno, mas por agora vai ter que penar muito.
Bjs