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7.7.17

ROSA - PARTE IX


Esta foto mostra uma mesa, da Seca de Bacalhau da Azinheira. A foto não é minha, retirei-a da net,  mas conheço
este sitio como a mim mesma.  Ao fundo à direita é a malta dos homens, que eu já mostrei em fotos minhas. À esquerda um dos armazéns de recolha do Bacalhau. As trabalhadoras, são a Idalina  (que foi a porteira, depois da reforma da minha mãe) e a Vitória. Com ambas trabalhei alguns anos. A foto é antiga, hoje a Seca está desativada, o espaço das mesas de seca, está preenchido por árvores, e não se sabe ainda se o local, virá a ser uma reserva museológica. Por enquanto está aberto apenas para visitas de estudo.




IX




No dia seguinte, quando viu Amália lavando roupa no tanque foi até lá para ajudar. E também, porque queria conversar com a futura cunhada, longe de interrupções.
Pegou numas calças, mergulhou-as no tanque e disse:
- Vim ajudar com a roupa, Amália.
- Não carece Rosa.
- Mas eu quero ajudar. E também queria falar consigo. Saber se é verdade que o seu irmão, quer casar comigo e porquê.
- Saber se é verdade? Tens dúvidas?
- Foi muito estranho o que aconteceu.
- Vai-te habituando. A vida tem muitas coisas estranhas. Tu por exemplo, não te pareces em nada com o que tenho ouvido falar das mulheres que levam a vida que levavas.
Sem se conter, Rosa deu livre curso às lágrimas. Amália ficou espantada.
- Que se passa agora? Porquê esse choro? Não disse nenhuma mentira, ou disse? Não estavas numa casa de “meninas”?
Ela assentiu com a cabeça e depois perguntou:
- Posso confiar em si?
- Claro, mulher! Afinal vamos ser cunhadas. Mas antes deixa de me tratar por você. Que diabo, não estou a tratar-te por tu? Faz o mesmo.
Então, Rosa abriu o seu coração e contou tudo desde aquela fatídica tarde no monte.
-Juro-lhe, por tudo quanto há de mais sagrado, que digo a verdade – terminou Rosa ao perceber o ar incrédulo da outra.
- Pois então agradece a Deus, que te livrou de um destino que não desejavas. Às vezes ELE escreve direito por linhas tortas.
E então falou-lhe da ida de João para os Açores, da promessa que ele fizera e de como a família se sentia preocupada com a mulher que ele iria arranjar. Nunca lhes passou pela cabeça, dissuadi-lo. Isso não! Promessa é sagrada. O Sr. Padre, sempre lhes dissera “Muitas graças a Deus e poucas graças com Deus” e terminou:
 -Vamos rapariga lava aí essas lágrimas e prepara-te para enfrentares a vida que te espera. Não será fácil. Somos pobres, vivemos do trabalho quando o há e quando não. O que eu quero dizer é que aqui se trabalha seis meses por ano e tem que se guardar para os outros seis meses. Felizmente, o João tem trabalho todo o ano na fábrica, e já se inscreveu para a C.U.F. Se tiver a sorte de entrar, vai ser muito bom. Lá ganham melhor, fazem muitos turnos. Não tens nada para a tua casa e nós não poderemos ajudar grande coisa. Talvez uma panela ou uns pratos. Se quiseres trabalhar, segunda-feira podes ir ao escritório da Seca. O trabalho é duro mas sempre podes comprar alguma coisa para a casa.
- É claro que vou.  Trabalho, foi coisa que nunca me meteu medo. Obrigada por me acolher e me aconselhar.
- Então, agora vamos lá fazer o almoço que está na hora. À tardinha uma de nós vem apanhar a roupa.


R:  à GI  
Antigamente os homens não iam buscar mulheres ao bordel para casar. Eram muito ciosos da virgindade da mulher. Com medo da guerra, João fez uma promessa e cumpriu-a.




16 comentários:

Tintinaine disse...

O João, pagador de promessas, parece que vai ter um papel muito secundário neste filme. Ou estarei enganado?

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Aquela fotografia está fantástica mostra uma industria que empregava muita gente na zona de Aveiro.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Os olhares da Gracinha! disse...

A seca do bacalhau proporciona belos olhares e facilmente se imagina toda a atividade em torno desta!
Gosto do modo descritivo da sua escrita!
Bj

António Querido disse...

Lembro-me perfeitamente que da Gala para a Figueira passávamos ao lado da seca de bacalhau da Morraceira e que cheirinho a bacalhau!
Não sei se lá trabalhava alguma Rosa, porque não podíamos falar com elas, por falar em Rosas, hoje foram duas para o Barreiro,
e levaram o meu abraço.

Joaquim Rosario disse...

sempre que posso não perco pitada deste conto que me esta a entusiasmar .
até amanhã .
JAFR

Edum@nes disse...

Por uma promessa cumprida,
o Cravo encontrou a sua Rosa
para seres felizes na vida
que lhes tenha sido amorosa!

Tenha um bom dia amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Majo Dutra disse...

Conheci o caso de um casamento semelhante. mas sem promessa,
só por convicção...
Muito bom, Elvira.
Abraço
~~~

Anete disse...

Rosa está vivendo uma nova realidade... Interessante promessa feita pelo João!
Cada caso de amor tem suas origens, às vezes, inacreditáveis... O mundo dá muitas voltas e os romances acontecem inevitavelmente...
Rsss....
Bom fim de semana... Bjs

Silenciosamente ouvindo... disse...


Desejo tudo de bom a esta Rosa e sigo com
interesse o desenvolvimento da história.
Bjs.
Irene Alves

Cantinho da Gaiata disse...

Estou entusiasmada com a história, só espero que não dê o ara o torto, ela merece ter uma boa vida.
Bj

AC disse...

A Elvira consegue dar sempre um toque muito próprio às suas histórias, com o sentido de humanidade - vivemos todos no mesmo vale de lágrimas - sempre presente.
Parabéns!

lis disse...

Elvirinha,querida
Tenho estado em absoluta falta de tempo de acompanhar os contos poéticos que gosto tanto.
Rosa _um nome que dá margem pra poesia.
Espero poder voltar com calma e permanecer aqui ,lendo todos os capitulos ok?
Com carinho,deixo meu abraço

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Estou a gostar do desenrolar da história.
Beijinhos,
Ailime

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA CONTINUO LENDO OU MELHOR, RELENDO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

redonda disse...

A irmã do João parece simpática...

Rui disse...

Tal como eu previa, a rosa irá tentar emprego na "seca do Bacalhau" ! :)