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7.4.16

MANEL DA LENHA - PARTE XLIV

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Apesar dos discursos de Salazar, e das recentes inaugurações, que vieram trazer alguma melhoria ao país, como a electrificação da linha do norte,a ponte sobre o Tejo, o novo edifício na Praça de Londres onde se sediou o Ministério das Corporações,  do término das obras de Santa Engrácia ( nome com que o povo baptizara o Panteão Nacional, pois o monumento cuja primeira pedra fora lançada em 1682, no local onde antes estivera a igreja dedicada à virgem mártir, Engrácia de Saragoça, estava desde então em construção e nunca mais ficava pronto) o povo continuava a viver de canga e mordaça. E os focos de revolta surgiam por todo o lado como cogumelos no Outono.
E deste modo terminou o ano de 66, e seguiu-se o novo ano com a mesma velha política, de inaugurações, logo em Janeiro com as instalações em Oeiras do Comimberlant.
Nesse ano, Manuel tencionava ir com a mulher  em peregrinação a Fátima. Porque no ano anterior lhe tinham aparecido uns caroços no pescoço. Foi ao médico que o mandou para o Hospital de Palhavã, onde o aconselharam a retirá-los com urgência. Temeroso de que tivesse cancro fez uma promessa de ir a Fátima se ficasse bom. Foi operado e os tumores eram benignos. De modo que ele marcou logo dois lugares na camioneta que iria a Fátima no ano seguinte e começou a pagar a importância necessária. 

Porém no final de Abril ele caiu da motorizada. Um tombo feio, que lhe partiu a perna. Como já tinha pago os bilhetes, falou com o organizador se podiam ir as duas filhas no lugar dele e da mulher.  Nesse ano era uma loucura em Fátima, pois Paulo VI veio em Maio ao Santuário. Era a primeira vez que um Papa vinha a Fátima e toda a gente queria ver o Santo Padre. E as duas filhas do Manuel, lá foram todas contentes, mais pelo passeio do que pela religiosidade do lugar. 
Se Manuel ficou muito triste por não ir a Fátima, compensou com a alegria de ouvir dias depois, o relato da final da Taça dos Campeões Europeus que nesse ano foi no Estádio Nacional do Jamor.
A par desses eventos que traziam o povo "anestesiado", a  PIDE fez uma razia nos dirigentes comunistas da margem sul.

13 comentários:

chica disse...

Aqui também a cada início de governo, muitas inaugurações e coisas pra aparecer! E também gostam que o povo se preocupe com futebol e esqueçam o que realmente importante é! bjs, chica

Edum@nes disse...

O Manuel da Lenha, mal se curava dum mal, logo outro aparecia, para o não deixar viver sossegado! Tinha mais azar do que sorte. Costuma dizer-se que o pobre tem sempre sorte, quando parte um braço, tem sorte porque não partiu os dois. Se parte uma perna tem sorte porque não parte as duas. Se parte os dois braços e as duas pernas. Tem sorte porque não morreu!

Tenha uma boa noite amiga Elvira, um abraço. Vem aí tempestade! Chuva, frio, vento forte e trovoadas!

Anete disse...

A história continua, agora o Manuel machucado da perna... O futebol traz alivios à rotina...
Vamos ver o que vem a seguir...

Boa noite, Elvira! Um abraço...

Rogério G.V. Pereira disse...

Tenho ideia
que por essa altura
toda a criatura
ouvia radio-novela

ou futebol

ou fado
pela mão do Carlos do Carmo

Pedro Coimbra disse...

Está a levar-nos numa viagem à nossa História recente.
Bfds

Jaime Portela disse...

Os tempos eram mesmo de "canga e mordaça".
Mais um excelente capítulo, gostei imenso da narrativa. Como sempre, aliás.
Bom fim de semana, querida amiga Elvira.
Beijo.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Pois é minha amiga a anestesia do povo eram os três "F" Fátima, Futebol e Fado.
Um abraço e bom fim de semana.

Unknown disse...

Aqui também é o circo, amiga. Bela narrativa.
Beijo*

Unknown disse...

Olá, Elvira.
Manuel passava a vida em sobressalto, ou por uma ou outra.
Como tão bem diz o amigo Francisco, é a anestesia dos três "F". O povo precisa se agarrar a alguma coisa para anestesiar suas dores.

bjn amg

Olinda Melo disse...


Tempos difíceis a nível nacional com incidência dramática na vida das pessoas.
Grande coragem do Manuel que procura incessantemente soluções para tudo o que acontece com uma frequência avassaladora.

Bj

Olinda

Marina Filgueira disse...

Bonito y real texto, Elvira: con acontecer cotidiano vividos en momentos difíciles, para unos más, que para otros... Lo peor siempre es la enfermedad, sea de una cosa u otra, uno siente la impotencia; y Manuel la sufre en su propia carne, aunque seguro no es una excepción, pues como él habría muchos.

Siempre es un deleite leerte, amiga.
Te dejo mi gratitud y mi estima siempre.
Un abrazo y feliz domingo. En Pontevedra viento y lluvia.

Laura Santos disse...

Os três Fs, Fátima, Fado e Futebol. E deve ter sido mesmo um grande acontecimento a vinda de Paulo VI, mas ao Manuel da Lenha teria de acontecer alguma coisa para lhe travar a ida a Fátima... Foram as filhas!
xx

Rosemildo Sales Furtado disse...

Todo início de governo é sempre assim. inaugura-se isso, aquilo e aquilo outro para enganar os bestas.

Abraços,

Furtado.