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12.9.19

VIDAS CRUZADAS - PARTE IV


Ao passar pela sala, Pedro verificou que esta se encontrava agora completamente cheia.
- Então que lhe disse o médico? - perguntou o jovem com quem conversara anteriormente.
- Que não via nada de importante. Mandou-me fazer análises e recomendou-me passeios e distracção. Voltarei cá quando tiver os resultados das análises.
-Victor Ferreira - chamou a assistente
- Então adeus e as melhoras. A menina está a chamar-me.
- Obrigado. As melhoras também para si.
O jovem acabava de passar a porta do consultório e já nem devia ter ouvido as últimas palavras de Pedro. Este aguardou a volta da assistente, pagou a consulta e saiu. Na rua respirou fundo.
A mãe já devia estar ansiosa à sua espera. Pobre mãe. Os seus setenta e um anos tinham sido bem sofridos, mas não queria que ele contratasse uma empregada. Dizia, zangada, que velhice não é invalidez.
- Boa tarde mãe. Como foi o seu dia? - perguntou enquanto a beijava.
- Normal, filho. E o teu? Foste ao médico? Que disse ele? - perguntou ansiosa e preocupada.
- Ora mãe, que queria que dissesse? Que não me encontrava nada de maior, que me distraísse. E mandou-me fazer umas análises e voltar lá quando tivesse os resultados.
- E os pulmões, filho? Viu-te lá no tal aparelho?
 – Claro, mãe. Pode ficar descansada, que não vou morrer tuberculoso, - e afastou-se rindo.
A mãe foi atrás dele.
- Não te rias filho. Andas mal-encarado e sem apetite. Sou velha, mas não sou cega. Nem quero pensar o que vai ser de mim se te acontece alguma coisa grave.
- Ora mãe, não me fale de coisas tristes. O médico disse para me distrair, e ninguém se distrai com tristezas. E mudando de conversa, o que é o jantar?
 – Pato assado.
- Ora valha-a Deus minha mãe. Então tem o meu prato favorito para o jantar e não dizia nada? Vamos lá para a mesa que já me cresce água na boca, -
disse-o rindo, mas o riso soou-lhe a falso. E mentalmente pediu a Deus que a mãe não o percebesse. Sentou-se à mesa e foi com grande esforço que conseguiu comer o suficiente para não deixar a mãe mais preocupada. Na verdade, embora fosse o seu prato preferido, não sentia qualquer vontade de comer.



20.9.16

VIDAS CRUZADAS

 A história que hoje aqui se inicia, decorre no início da década de sessenta. Muitas das coisas que vos relato, seriam impensáveis hoje em dia. Na verdade, penso que nunca em século algum, a história da humanidade evoluiu tanto, como nos últimos sessenta anos.

                                  
                                                 I
Naquele dia Pedro saíra mais cedo do emprego. Era um homem jovem, completara vinte e oito anos no mês anterior. Alto, moreno, de grandes olhos castanhos, e cabelo escuro sem chegar a ser preto, tinha uma boca grande, de lábios carnudos, que ao sorrir mostravam uma fileira de dentes perfeitos e acentuavam a covinha do queixo. Um daqueles homens que fazem suspirar as mulheres, e as põem a sonhar. Ele, no entanto, parecia nunca ter-se visto ao espelho, já que não mostrava dar-se conta do belo homem que era. Saía de casa para o trabalho e deste para casa, onde vivia com a sua velha mãe, que adorava. Na verdade, quando ele nascera, já há muito a mãe tinha perdido as esperanças de vir a ter algum dia um filho, pois beirava já os quarenta e três anos. Fora até aconselhada por algumas vizinhas a não deixar ir adiante uma gravidez tão tardia. Podia ser perigoso. Ela porém sempre respondia, que segundo a Bíblia, Sara era muito mais velha quando ficou grávida, e que a Deus nada era impossível. E a verdade é que a gestação e o parto decorreram sem problemas.
Seis anos depois dessa enorme alegria, quis Deus chamar o seu companheiro de toda a vida, o seu grande amor, e Alice viu-se sozinha com o filho para criar.
A vida era difícil mas o falecido, que fora militar,  deixou uma boa quantia, fruto de  um seguro de vida que ela nem sabia que ele tinha. Depois, sempre fora uma mulher poupada, tinha amealhado ao longo dos anos algumas economias, e assim Pedro recebeu uma boa educação, e se não foi para a Universidade foi porque não se interessou por isso e preferiu empregar-se logo que fez o quinto ano na Escola Industrial e Comercial Alfredo da Silva, no Barreiro, cidade onde vivia.
O jovem adorava a mãe, que ele sabia ter feito todos os possíveis para lhe suprimir a falta do pai, de quem nem se recordava muito bem.
 Quando fora às sortes, entregou os papéis como amparo de mãe, e assim vira-se livre de uma mais que provável ida para o Ultramar. Era um homem feliz, nunca pedira nada demais à vida. Ultimamente porém, algo de estranho se passava com ele.


Obrigada a todos. pela força.

25.11.15

FOLHA EM BRANCO PARTE XLVII




Deixou-a à porta de casa, dizendo-lhe para não o esperar, e arrancou.
Uma vez em casa, a jovem atirou-se para cima da cama a chorar.
Estava revoltada. Não sabia como lutar contra o novo inimigo que se levantara entre ela e Miguel.
Era irónico, que fosse o facto de ser muito nova, o impedimento para ser feliz. Ela que tantas vezes, se sentia demasiado velha, para a sua idade.
Enquanto isso, Miguel batia à porta, de uma casa no extremo oposto da cidade.
A porta, abriu-se:
- Boa noite, Olga!
A mulher exclamou surpresa:
- Miguel! Há quanto tempo! Entra, homem, entra.
Afastou-se para o deixar passar, e ele encaminhou-se para a sala, e sentou-se pesadamente no sofá.
Parecia conhecer bem a casa.
A mulher, de meia idade, cabelo totalmente branco,preso no alto da cabeça, vestindo uma singela bata de chita, conservava no rosto alguns traços do que devia ter sido uma grande beleza.
Seguiu atrás dele e ficou na entrada da sala, olhando-o com atenção.
-Há tanto tempo que não aparecias. Pensei que estavas no estrangeiro, até que há pouco tempo vi a reportagem da tua exposição. Parabéns por ela. Li que foi um êxito.
- Obrigado. Na verdade, voltei poucos dias antes da exposição. Estive em Roma e depois, lá em baixo no Algarve.
- Bom, mas decerto não foi para me falares das tuas viagens que vieste até cá. Vá, despeja lá isso que te atormenta, Sou toda ouvidos, - disse ela sentando-se no velho cadeirão em frente do sofá.
Então, Miguel falou. Durante quase duas horas, contou tudo o que se passara, desde aquela manhã na falésia, até à conversa dessa tarde em Sintra.
Quando terminou ela disse.
- Muito especial deve ser essa mulher, para te deixar nesse estado.
- Não sei que fazer, Olga. Estou desesperado.
- E contudo não tem nada que saber, homem. Se ela te ama, e tu correspondes, qual é o motivo desse desespero?
Mas não percebes? Eu tenho  quarenta e seis  anos e ela tem vinte.
Na mente feminina fez-se luz. 
 Sorrindo  a mulher levantou-se.  Aproximou-se de Miguel, e poisou a sua mão no ombro dele.
- E tu temes que se repita a nossa história? – Perguntou com ternura