- Já. Escolhi o Raul. Parece-me ter mais capacidade de encaixe com as novas técnicas e outras inovações que espero introduzir.
E de repente como que numa súplica:
- Passa o Natal comigo!
Estremeceu. Aquele homem desconcertava-a. O que é que pretendia dela? Levá-la à loucura? Fazer com que esquecesse os oito anos de sofrimento e abandono?
- Não posso.
-Porquê? Vais passar com a tua família?
-Vou. – Mentiu, pois na verdade ia passar o Natal, em casa de Luísa.
- E não posso ir contigo? Gostava de conhecê-los.
- Não achas que é muito tarde para isso? Teria ficado muito feliz se há oito anos, tivesses aceitado o meu convite. Em vez disso, abandonaste-me de forma cobarde, enquanto eu ansiava pelo fim das festas para voltar para ti.
- Tens razão. Fui um canalha. Deixa-me provar-te que estou arrependido. Dá-me uma oportunidade de te demonstrar o meu arrependimento.
Sentia que lhe faltavam as forças, mas não podia ceder. Foram muitas noites sem dormir, muitas lágrimas derramadas. Anos e anos de sofrimento, incapaz de pensar num novo amor, o peito corroído pela rejeição.
- Por favor! Voltamos ao trabalho ou amanhã dou inicio às minhas férias, - ameaçou.
- Voltemos então ao trabalho,- suspirou ele.
Mas ambos sabiam que os seus pensamentos andavam distantes do trabalho.
Não o viu nos dois dias seguintes. Devia estar absorvido pela resolução dos múltiplos problemas que iam surgindo, e na verdade, resolvida a questão de escolha do novo chefe, e até que a "Tudilar" começasse a laborar em pleno, ela não podia ajudar em muito.
Finalmente na quinta-feira no fim da manhã, tudo ficou pronto. Ele cumprimentou cada um deles. Depois acrescentou, que após o almoço poderiam partir e voltar a dois de Janeiro para um ano de trabalho intenso. E acabou desejando um Feliz Natal a todos.