Daniela só foi trabalhar de tarde. Tinha conseguido minimizar o efeito das horas de choro, mas o seu semblante tinha perdido a alegria. Surpreendeu-se por vê-lo sentado na secretária, em frente do computador.
- Boa-tarde
Não obteve resposta. Sentou-se à secretária, abriu o
computador, e então ele falou.
-Já comprei as novas máquinas. A primeira será instalada para a semana.
Vou investir um bom capital na fábrica e assumir a gerência. Quero que me
ponhas a par de tudo e informes o pessoal que a partir de agora se devem
dirigir exclusivamente a mim para todos os assuntos. Volto a propor-te a venda
da tua parte na empresa, o que nos livra a ambos de presenças indesejáveis.
“Chegou a hora da vingança” pensou ela com amargura. Tinha que ser.
Tinha que a ferir no que ela mais amava, naquilo por que lutou toda a vida. O seu instinto sempre lhe
dissera que não devia misturar sentimentos com a relação laboral.
Desde início sempre soube que ele era demasiado forte
como inimigo. Sentiu que as lágrimas lhe vinham aos olhos, mordeu os lábios até
sentir o sabor a sangue na boca, mas respondeu com voz firme.
- Não vendo.
- É pena. Porque não vou ter piedade.
-Agradeço o aviso. Vou convocar uma reunião para dentro de meia hora. Parece-te bem?
- Sim.
-Vou dizer à Madalena que passa a ser tua secretária. Ela
pode passar para aqui e eu vou ocupar o gabinete dela.
- Não.
O coração dela encheu-se de ternura ao compreender que ele queria vingar-se dela,
mas não queria humilhá-la perante as empregadas. O que mostrava que apesar de se sentir tremendamente ferido, ainda sentia por ela um sentimento de respeito e talvez carinho. Sorriu com tristeza. Se
ela tivesse coragem para lhe abrir o coração. Para se expor à rejeição dele.
Mas não, não. Isso era impensável. Carregou no intercomunicador.
- Madalena, convoca uma reunião com todo o pessoal, para daqui a meia hora na sala do refeitório. Obrigada.
Desligou o aparelho e voltando-se para ele perguntou:
- E a tua empresa? Quem a vai dirigir?
- A Rita, dá perfeitamente conta do recado. E se houver
alguma dúvida, sabe que para ela, estou sempre contatável.
À sim, a Rita – murmurou ela. Quem diabo era aquela Rita
em quem ele confiava tanto? - Interrogou-se sentindo uma pontada no peito.
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´Pelos vossos comentários, parece que a maioria dos leitores se esqueceu que Daniela já foi casada, dos quatro anos de sofrimento, e da rejeição do ex-marido pelo facto de ser estéril.
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´Pelos vossos comentários, parece que a maioria dos leitores se esqueceu que Daniela já foi casada, dos quatro anos de sofrimento, e da rejeição do ex-marido pelo facto de ser estéril.