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7.6.17

JOGO PERIGOSO - PARTE XXI







Daniela só foi trabalhar de tarde. Tinha conseguido minimizar o efeito das horas de choro, mas o seu semblante tinha perdido a alegria. Surpreendeu-se por vê-lo sentado na secretária, em frente do computador.
- Boa-tarde
Não obteve resposta. Sentou-se à secretária, abriu o computador, e então ele falou.
 -Já comprei as novas máquinas. A primeira será instalada para a semana. Vou investir um bom capital na fábrica e assumir a gerência. Quero que me ponhas a par de tudo e informes o pessoal que a partir de agora se devem dirigir exclusivamente a mim para todos os assuntos. Volto a propor-te a venda da tua parte na empresa, o que nos livra a ambos de presenças indesejáveis.
“Chegou a hora da vingança” pensou ela com amargura. Tinha que ser. Tinha que a ferir no que ela mais amava, naquilo por que lutou toda a vida. O seu instinto sempre lhe dissera que não devia misturar sentimentos com a relação laboral.
Desde início sempre soube que ele era demasiado forte como inimigo. Sentiu que as lágrimas lhe vinham aos olhos, mordeu os lábios até sentir o sabor a sangue na boca, mas respondeu com voz  firme.
- Não vendo.
- É pena. Porque não vou ter piedade.
-Agradeço o aviso. Vou convocar uma reunião para dentro de meia hora. Parece-te bem?
- Sim.
-Vou dizer à Madalena que passa a ser tua secretária. Ela pode passar para aqui e eu vou ocupar o gabinete dela.
- Não.
O coração dela encheu-se de ternura ao compreender que ele queria vingar-se dela, mas não queria humilhá-la perante as empregadas. O que mostrava que apesar de se sentir  tremendamente ferido, ainda sentia por ela um sentimento de respeito e talvez carinho. Sorriu com tristeza. Se ela tivesse coragem para lhe abrir o coração. Para se expor à rejeição dele. Mas não, não. Isso era impensável. Carregou no intercomunicador.
- Madalena, convoca uma reunião com todo o pessoal, para daqui a meia hora na sala do refeitório. Obrigada.
Desligou o aparelho e voltando-se para ele perguntou:
- E a tua empresa? Quem a vai dirigir?
- A Rita, dá perfeitamente conta do recado. E se houver alguma dúvida, sabe que para ela, estou sempre contatável.
À sim, a Rita – murmurou ela. Quem diabo era aquela Rita em quem ele confiava tanto? - Interrogou-se sentindo uma pontada no peito.

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´Pelos vossos comentários, parece que a maioria dos leitores se esqueceu que Daniela já foi casada, dos quatro anos de sofrimento, e  da rejeição do ex-marido pelo facto de ser estéril. 



15.10.16

VIDAS CRUZADAS - PARTE XX


Um sorriso rompeu no rosto materno, tão luminoso como raio de sol em dia de chuva. Ela ergueu a mão, e acariciou-lhe os cabelos, com a mesma ternura com que o fazia em criança, quando o filho procurava a sua cumplicidade, nalguma travessura.
- Vai descansar, filho. Já é tarde e tens que levantar cedo. A viagem é longa. 
Obedecendo, o jovem levantou-se, e dando um beijo na face enrugada, murmurou:
- Boa noite, mãe. Durma bem.
- Deus te abençoe meu filho. Que os anjos velem o teu sono.
Ao regressar à cozinha, Maria deu-se conta de que não tinham jantado. A mesa continuava posta, esperando a hora que já passara há muito. Encolheu os ombros, guardou a janta no frigorífico, apagou a luz e foi-se deitar.


Acordou na manhã seguinte com o delicioso aroma do café invadindo-lhe o quarto. Enquanto se dirigia para o duche, os acontecimentos da noite anterior, desfilaram na sua mente, como fita em tela de cinema. Adormecera tarde e tinha a sensação de pouco ter dormido.

Deixou que a água resvalasse pelo seu corpo, como se fosse uma carícia revigorante. Depois, com o corpo envolto na toalha, iniciou o escanhoamento do rosto. Enquanto o fazia a imagem de Rita pareceu sair dos seus pensamentos, e apareceu reflectida ao lado da sua, no espelho. Fechou os olhos e imediatamente soltou um queixume. Acabara de se cortar...

Na cozinha, Maria acabara de barrar as torradas. O filho deveria estar a entrar para o pequeno-almoço. Se bem o conhecia, não devia ter dormido grande coisa. Nunca em toda a sua vida,  vira o filho apaixonado. Namoricos, quando andava na escola, sim. Tivera muitos. Era um cata-vento, muito mais interessado nos rabos de saias, do que nos estudos. Depois subitamente acalmou, e nunca mais o viu interessado em ninguém. Até à noite anterior. Aí, percebera, mais pelo seu tom de voz do que pelas palavras pronunciadas que o seu menino deixara de o ser, e era agora um homem profundamente apaixonado. Tentou imaginar como seria aquela Rita. Seria uma boa pessoa? Seria capaz de fazer o filho feliz? Não parecia dar muito crédito aos elogios do filho. Tinha idade e experiência suficiente para saber que um homem apaixonado fica cego para tudo, menos para aquilo que ele próprio idealiza.

- Bom dia, mãe. Hum que cheirinho delicioso – disse curvando-se para a beijar.

- Meu ou do pequeno-almoço? - Questionou ela rindo.

- Os dois, mãe, os dois – respondeu rindo também.