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8.5.20

À MÉDIA LUZ - PARTE XVIII


Gabriel chegou nessa noite, e foi direto para casa dela. Estava cheio de saudades. Fizera todos os possíveis para a esquecer, durante aqueles dias, procurara divertir-se com outras mulheres, mas nenhuma conseguiu romper a armadura com que aquele novo sentimento o revestira. Tinha que reconhecer que estava irremediavelmente apaixonado pela sua secretária. Uma mulher admirável, com uma alma grandiosa, que por lealdade ao amor filial era capaz de tudo, até de se arriscar a ser presa. E ele queria essa capacidade de amar e de se dar, para ele. Mais do que querer. Necessitava-o com toda a sua alma. Resistira. Claro que resistira, nunca pensara em casamento, nunca sentira aquela necessidade de ter, e de se dar a uma determinada pessoa. Nos seus relacionamentos anteriores, nunca esteve nada em jogo, que não fosse o sexo, quanto mais prazeroso melhor. Com ela foi diferente desde o primeiro momento, e não porque não lhe despertasse a libido. Durante aqueles meses, tomara mais duches gelados do que em toda a sua vida. Mas sempre soube, que no dia em que se deitasse com ela, não se contentaria com menos do que o resto da sua vida. E era disso que ele tinha medo. Disso que fugira. Aqueles dias de ausência, acabaram com toda a sua resistência. Estava ansioso por chegar, por apertá-las nos braços e beijá-la até se cansar. Até se cansar? Tinha a certeza de que nunca se cansaria. Apanhou um táxi no aeroporto, e deu a morada dela. Ansioso por a ver, tocou a campainha, uma, duas, três vezes.
Sandra franqueou-lhe a passagem, surpresa com a mala que carregava. Ele entrou, largou a mala, e pegando-lhe num braço puxou-a para si, baixou a cabeça e beijou-a. Um leve toque na boca, como que um roçar de ave, que a fez suspirar e entreabrir os lábios, e logo ele a invadiu num beijo urgente e desesperado, que os deixou sem fôlego. Sandra apertava o seu corpo contra o dele, numa entrega que o enlouquecia. Finalmente afastou-a um pouco, sem deixar de a fitar, nem de a abraçar.
- Amo-te Sandra. Sabes isso, não sabes? – perguntou a voz enrouquecida pela paixão.
Ela confirmou com um gesto mudo, tentando esconder o rosto no peito masculino.
Gabriel levantou-lhe o queixo e perguntou preocupado com a sombra de tristeza, no rosto dela.
-Também me amas, mas…? 
-Não pode haver futuro para nós, enquanto o nome de meu pai, não for reabilitado. Não quero que os meus filhos saibam que o avô esteve preso, acusado de ter roubado a empresa do pai.
- Sandra, eu acredito na inocência dele. Mas não sei se conseguiremos prová-lo ao fim destes anos todos. Por favor, não condenes tu também o nosso amor.
- Talvez não seja tão difícil assim. O inspetor Pedro procurou-me hoje. Acredita que descobriu quem fez o desfalque, e pediu para arranjar um advogado e o por em contacto com ele.


20.1.18

A VIDA É ... UM COMBOIO - PARTE X





Eram duas e cinquenta de uma bela e primaveril tarde, de meados de Abril, quando Carlos e Amélia entraram no moderno edifício de escritórios, sede da empresa de camionagem, que representavam. Pelo caminho, Carlos falara da empresa para onde se dirigiam, informando-a que era a maior do país, e uma das grandes empresas do ramo, na Europa. Era segundo ele, o mais importante cliente da firma de advogados, que os empregava. Um cliente a tratar com muito cuidado, pois seria um rombo na economia da sociedade de advogados perdê-lo. O dono, um septuagenário, nunca se casara, e ao morrer fizera seu herdeiro universal, um sobrinho que ninguém conhecia, pois vivia no estrangeiro. Eles tiveram que recorrer a um dos melhores detetives para o encontrar. O investigador, localizou-o, num bar em Viena.
- Bêbado?
- Não, empregado. Pelo relatório do detetive, parece ser um espírito livre e aventureiro, que correu meio mundo, e que se não for bem assessorado, vai levar a firma à falência em três tempos, pois não deve estar minimamente preparado, para os abutres que vão tentar enganá-lo.
- Mas nós vamos fazê-lo. Afinal é para isso que nos paga, não é verdade?
- Tu vais fazê-lo, porque és muito competente e porque tens uma grande noção de lealdade. Eu estou fora da firma dentro de dois meses. Por isso quis que viesses hoje comigo. O cliente tem que saber com quem pode contar, desde o primeiro momento.
Tinham chegado. Fizeram-se anunciar à secretária, uma mulher a beirar os cinquenta anos, alta e magra, de óculos, cabelos escuros presos num coque e fato castanho, que os acompanhou ao gabinete onde o cliente os esperava, e depois de ter batido com os nós dos dedos, abriu a porta e lhes deu passagem.
- Boas tardes. Sejam bem-vindos, - disse o homem que estava sentado atrás da enorme secretária, pondo-se de pé, e encaminhando-se para eles.
- Boa tarde, - respondeu Carlos
Amélia ficou sem voz. Ali na sua frente, num impecável fato azul, estava Paulo, o “motard” que tanto a impressionara, dias atrás quando a ajudara a substituir o pneu.
- Mas que surpresa? Quando recebi a vossa carta,  a marcar esta reunião, não podia adivinhar que uma das minhas advogadas, fosse a Amélia, - disse estendendo-lhe a mão.
- Mas, já se conhecem? – Perguntou Carlos surpreendido.
- O senhor Paulo Guerra, ajudou-me há dias na estrada, trocando-me o pneu que estava furado, pelo sobressalente. Não fazia ideia de que pudesse ser o nosso cliente.
- É, a vida é cheia de surpresas,- disse estendendo a mão a Carlos. Mas por favor sentem-se. Então era na vossa firma, que o bom do meu tio confiava, para resolução dos seus problemas jurídicos?
- O seu tio trabalhou com a firma que representamos durante mais de vinte anos. Os últimos dez, assessorado por mim, e não tenho razões para crer que alguma vez tivesse razões de queixa. Como vou encerrar a minha vida profissional, dentro de dois meses, será a Amélia, a minha substituta, logo será a ela que caberá essa tarefa. Posso assegurar-lhe que é muito competente, e que confio nela como em mim mesmo. Tem algum problema com essa substituição?