Cláudio chegou ao hotel às onze e cinquenta. A mãe ia ter alta às quinze, e ele tinha prometido ao pai que estaria no hospital a essa hora, para regressarem a casa. Também lhe tinha dito que iria almoçar com a jovem e a levaria ao hospital para a apresentar aos pais. Depois no caminho para casa deixá-la-iam no hotel. Ele ainda não tinha analisado os seus sentimentos, nunca acreditara em amor à primeira vista, nem sabia se o que sentia era amor. O que sabia é que nunca nenhuma outra mulher o interessara tanto. Não era pela beleza. Helena era uma mulher bonita, mas ele tinha visto centenas de mulheres tão bonitas ou mais que a jovem. Mas havia qualquer coisa nela que mexia com ele, despertando-lhe sentimentos nunca antes experimentados, ou talvez já esquecidos. E ele tinha trinta anos e nunca tivera hábitos de frade. Olhou o relógio. Já passavam três minutos do meio-dia. Não era atraso significativo, as mulheres costumavam atrasar-se, mas algo lhe dizia que não era o caso. Dirigiu-se à receção.
- Boa tarde. Tenho um encontro marcado com a menina Helena Trindade. Por favor podia avisá-la que já cheguei?
- Boa tarde. Lamento senhor, mas a menina Helena Trindade abandonou o hotel esta manhã às dez. Deixou esta carta para lhe entregarmos quando viesse procurar por ela, -disse estendendo-lhe um envelope.
-Muito obrigado.
Aceitou o envelope e virou costas dirigindo-se para o seu automóvel. Aí chegado, rasgou o subscrito e leu.
Bom dia, Cláudio.
Como te disse ontem, parti esta manhã.
Lamento sinceramente se esperavas encontrar-me e te dececionei. Não posso nem devo, ficar. Nunca estaria à tua altura, não podia criar ilusões, que me iam fazer sofrer depois. Posso parecer-te cobarde, mas não quero mais sofrimento na minha vida.
Agradeço-te as horas e o carinho que me dedicaste. Conhecer-te foi uma das coisas mais bonitas que me aconteceu. Parto agora, para que possa recordar-te sempre com a mesma emoção que me fizeste sentir.
Do coração, desejo que sejas muito feliz.
Helena.
Amarfanhou o papel entre os dedos. Ela tinha-se ido embora sem deixar um endereço, número de telefone, ou qualquer outra pista que permitisse, encontrá-la. Sentia-se frustrado. Voltou a alisar a folha, dobrou-a e guardou-a na carteira. Apertou o cinto de segurança e ligou o motor. Arrancou sem destino. Tinha que parar num sítio qualquer para almoçar. Não lhe interessava onde, naquele momento a única coisa em que conseguia pensar, era em Helena, nas horas que tinham passado juntos no dia anterior, no beijo que trocaram na despedida. Ele tinha a certeza de que a emoção que sentira fora recíproca. Acabou por almoçar num restaurante perto do hospital, enquanto a TV mostrava imagens da tragédia Síria, e dos refugiados. Não percebia a ideia de alguns restaurantes terem televisões ligadas enquanto os clientes comiam. Os noticiários só transmitiam tragédias, o dia todo, as pessoas teriam tempo de as ver sem ser à hora da refeição.
Estava-se no último dia do mês de Agosto, num dos anos mais quentes e secos do último século. E as televisões levavam os dias a mostrar os incêndios, E quando chegava a hora das notícias, aos incêndios nacionais somava-se a tragédia do povo sírio, forçado a fugir muitas vezes para acabar por morrer no mar.
Gente, fiz hoje o meu EEG . Na verdade segundo a médica que mo fez, foram dois exames um enquanto desperta, o outro a dormir, Não sei só sei que demorou uma hora e quarenta minutos. E que vou levantar dia 23. Entretanto comecei esta tarde a fisioterapia. Depois de uma noite sem dormir, e do ginásio, estou mais morta que viva. É mais fácil subir às árvores quando a neta manda.
Rsrsrs

