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12.10.18

ENTRE O AMOR E A CARREIRA - PARTE XXVI


Na semana seguinte começaram as aulas, e uma nova rotina se impôs na vida dos habitantes da quinta. Logo pela manhã, Clara levava as crianças e o irmão à escola. Voltava para casa, onde se entretinha a ajudar Antónia com as lides domésticas. Perto do meio-dia, voltava à escola a recolher os alunos para o almoço, e levava-os uma hora depois, pois as crianças tinham o horário até às três. Tiago tinha um horário mais incerto, quase sempre almoçava na escola e voltava para casa de autocarro.
Bernardo e Soraia, tinham ficado na mesma sala, adoravam a educadora e estavam radiantes com a escola e os novos amiguinhos.
Clara programara para o próximo sábado uma ida ao centro comercial, pois os dias tinham arrefecido bastante, e ela verificara que as roupas do inverno anterior já não serviam às crianças. Tiago também precisava algumas coisas e o melhor era irem todos e passar lá o dia.
Podia ser que estivesse em exibição algum filme infantil, e era uma maneira deles se distraírem num dia em que não tendo escola, iam de certeza sentir mais a falta do pai que não voltara a dar notícias.
A primeira mensagem, por correio eletrónico, chegou naquela sexta-feira, pouco antes de ela sair de casa para ir buscar os miúdos à escola.
Nela, Ricardo falava das saudades que tinha de todos, perguntava se os filhos estavam a gostar da escola, se perguntavam por ele, se já tinham começado as aulas do Tiago. Depois falava do trabalho que estavam fazendo ali, das dificuldades do dia-a-dia resultantes de duas mentalidades e costumes tão díspares como eram os seus e dos seus homens e os afegãos.
Terminava com um beijo.
Como tinha que ir buscar as crianças deixou para responder mais tarde.
Chegou à escola um pouco antes do toque de saída. Posicionou-se junto ao portão e tirou o telemóvel para fotografar os miúdos, dentro do recinto escolar, com as suas batas, de xadrez azul para mandar depois ao pai. A escola que frequentavam começava com quatro salas de crianças em idade pré-escolar, e seguia com as salas do ensino básico até ao quarto ano. Só os alunos da “pré” usavam bata, todas de xadrez, na cor correspondente à sala que frequentavam. Bernardo e Soraia tinham ficado na sala azul, daí a cor das suas batas. Porém na confusão da saída com todas as crianças correndo em conjunto, não se atreveu a tirar a foto, com receio de que algum dos pais presentes, interpretasse mal o gesto. Acabou por os fotografar no quarto antes de os despir e de lhes dar banho. Depois do jantar e de os ter adormecido, não sem antes lhes ter contado uma história, Clara desceu à biblioteca e ligou o computador, e enviou para ele  a foto que tirara às crianças.
E então começou a responder à mensagem recebida nessa tarde. Tal como ele fizera, ela falou de como os dias iam passando na quinta. Contou como foi o primeiro dia de aulas das crianças, de como eles gostavam da escola, de como andavam contentes nela, de que nunca se esqueciam dele, e a prova é que ainda há momentos, antes de adormecer, tinham pedido ao Anjo da Guarda para o proteger e trazer de volta para eles. Contou que no dia seguinte, ia passar o dia nas compras pois eles precisavam de roupas para o Inverno que se aproximava, e também que estava a pensar contratar uma nova empregada para a casa, Antónia andava aflita com uma dor ciática, e com as constantes idas à escola, ela não tinha muito tempo para a ajudar. De resto a casa era bastante grande para uma só empregada, e Antónia já não era nova. 
“Tem cuidado contigo. Sentimos muito a tua falta. Um beijo”
Anexou então a foto que tirara nessa tarde, e enviou a mensagem.




Esta história, volta segunda-feira. 



30.4.17

OS CAMINHOS DO DESTINO - PARTE XII




Três meses depois, Beatriz saiu do centro de emprego com uma carta para apresentação num escritório de uma agência de publicidade.
O escritório ficava num segundo piso de um arranha-céus. Apresentou a carta a uma das empregadas e ela conduziu-a a um gabinete, onde foi recebida por um homem ainda jovem.
O homem que lhe fez a entrevista, insistiu no facto de precisarem de alguém com experiência, coisa que ela não tinha, de modo que a jovem sentiu que não ia ficar, e o seu bonito semblante entristeceu-se.
O homem, moreno, olhava-a com os seus penetrantes olhos cinzentos, tão fixamente que a jovem se sentiu incomodada e se levantou.
- Por favor sente-se. Ainda não acabei. Para este escritório, preciso de alguém com muita prática, é um facto, mas tenho uma proposta para lhe fazer.
Que proposta, poderia ele fazer-lhe, depois de levar todo o tempo desde que ela entrara a mirá-la, daquele jeito estranho,  e praticamente lhe dizer que no escritório não tinha lugar para ela? Corou até à raiz do cabelo, e ia protestar, mas ele não lhe deu tempo.
- Diz o seu currículo que é educadora de infância. É verdade?
- Sim, -respondeu sem entender a pergunta
- E porque quer trabalhar num escritório, e não numa escola ou creche?
- Porque até agora nunca trabalhei, e não é fácil conseguir uma vaga para esses sítios a meio do ano e sem experiência. E preciso trabalhar, - respondeu sem saber bem onde o homem queria chegar, ou que espécie de proposta lhe iria fazer.
- Tenho uma filha de três anos. A minha mulher morreu há pouco tempo. A menina está em casa entregue aos cuidados da avó. Porém a minha irmã, vai ser mãe, e quer a nossa mãe junto dela. Fico sem ninguém para cuidar da minha filha, e não quero nem posso nesta fase, pô-la numa creche. Preciso de alguém que cuide dela, e lhe dê a atenção que ela precisa, ao mesmo tempo que a vá educando e motivando para que tenha um crescimento físico e mental, saudável. E ninguém melhor para isso que uma educadora de infância. Interessa-lhe?
- Claro que sim. Adoro crianças.
- E tem disponibilidade para começar amanhã?
- Sim.
- Muito bem. Antes de passarmos a falar do contrato preciso saber mais uma coisa.
- Por vezes chego tarde a casa. Por isso o seu horário não poderá ser um horário fixo. Por outro lado, quando saio em viagem, se a minha mãe, não puder na altura ficar com a Matilde, teria disponibilidade para dormir lá em casa?
- Toda a disponibilidade do mundo.
Ele olhou-a com curiosidade. Era muito jovem. E gente jovem, gosta de sair divertir-se, namorar. Seria um risco confiar-lhe a sua filha?
Avançou com as condições do contrato que ela aceitou.
- Muito bem. Vou mandar redigir o contrato. Se puder passar por cá um pouco antes da uma, assina o contrato e levo-a a minha casa para que conheça a minha mãe e a Matilde. Creio que não lhe disse o meu nome. César Ferreira, - disse levantando-se e entendendo-lhe a mão.
Apesar de saber que ele tinha o nome dela no currículo,  retribuiu o cumprimento, repetindo o nome, antes de se retirar.