Bernardo e Soraia, tinham ficado na mesma sala,
adoravam a educadora e estavam radiantes com a escola e os novos amiguinhos.
Clara programara para o próximo sábado uma ida ao
centro comercial, pois os dias tinham arrefecido bastante, e ela verificara que
as roupas do inverno anterior já não serviam às crianças. Tiago também
precisava algumas coisas e o melhor era irem todos e passar lá o dia.
Podia ser que estivesse em exibição algum filme
infantil, e era uma maneira deles se distraírem num dia em que não tendo
escola, iam de certeza sentir mais a falta do pai que não voltara a dar
notícias.
A primeira mensagem, por correio eletrónico, chegou
naquela sexta-feira, pouco antes de ela sair de casa para ir buscar os miúdos à
escola.
Nela, Ricardo falava das saudades que tinha de todos,
perguntava se os filhos estavam a gostar da escola, se perguntavam por ele, se
já tinham começado as aulas do Tiago. Depois falava do trabalho que estavam
fazendo ali, das dificuldades do dia-a-dia resultantes de duas mentalidades e
costumes tão díspares como eram os seus e dos seus homens e os afegãos.
Terminava com um beijo.
Como tinha que ir buscar as crianças deixou para
responder mais tarde.
Chegou à escola um pouco antes do toque de saída.
Posicionou-se junto ao portão e tirou o telemóvel para fotografar os miúdos,
dentro do recinto escolar, com as suas batas, de xadrez azul para mandar depois
ao pai. A escola que frequentavam começava com quatro salas de crianças em
idade pré-escolar, e seguia com as salas do ensino básico até ao quarto ano. Só
os alunos da “pré” usavam bata, todas de xadrez, na cor correspondente à sala
que frequentavam. Bernardo e Soraia tinham ficado na sala azul, daí a cor das
suas batas. Porém na confusão da saída com todas as crianças correndo em conjunto,
não se atreveu a tirar a foto, com receio de que algum dos pais presentes,
interpretasse mal o gesto. Acabou por os fotografar no quarto antes de os
despir e de lhes dar banho. Depois do jantar e de os ter adormecido, não sem
antes lhes ter contado uma história, Clara desceu à biblioteca e ligou o
computador, e enviou para ele a foto que tirara às
crianças.
E então começou a responder à mensagem recebida nessa
tarde. Tal como ele fizera, ela falou de como os dias iam passando na quinta.
Contou como foi o primeiro dia de aulas das crianças, de como eles gostavam
da escola, de como andavam contentes nela, de que nunca se
esqueciam dele, e a prova é que ainda há momentos, antes de adormecer, tinham
pedido ao Anjo da Guarda para o proteger e trazer de volta para eles. Contou
que no dia seguinte, ia passar o dia nas compras pois eles precisavam de roupas para
o Inverno que se aproximava, e também que estava a pensar contratar uma nova empregada
para a casa, Antónia andava aflita com uma dor ciática, e com as constantes
idas à escola, ela não tinha muito tempo para a ajudar. De resto a casa era
bastante grande para uma só empregada, e Antónia já não era nova.
“Tem cuidado contigo. Sentimos muito a tua falta. Um
beijo”
Anexou então a foto que tirara nessa tarde, e enviou a mensagem.
Anexou então a foto que tirara nessa tarde, e enviou a mensagem.
Esta história, volta segunda-feira.