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23.12.22

UM NATAL DE OUTROS TEMPOS




 Um Natal de outros tempos

Era o primeiro Natal que Clara passava na casa da avó depois que se formara. Em criança, vivera ali muitos anos. Na verdade, depois que o seu pai morrera, quando ela tinha apenas oito anos, fora a avó Emília quem cuidara dela, uma vez que a mãe tinha poucos instintos maternais e pouco se preocupava com ela.  Assim Clara vivera com a avó até entrar na Universidade. E depois que terminara o Curso de Direito, resolvera estabelecer-se na vila, a dez minutos da aldeia e da casa da avó

Os dias antes do Natal eram de grande azáfama na aldeia.  A terra estava em festa, pois as famílias estavam todas reunidas. Todas as casas tinham alguém de fora. Era um marido que chegara da França, um irmão que vinha do Canadá, uns sobrinhos da Alemanha. Nunca, nem mesmo em agosto, havia tantos emigrantes na aldeia. Até na Casa Grande, como toda a gente chamava a casa da sua avó, havia gente nova

Clara pensou com tristeza que gostaria de que essa gente fosse a sua mãe, mas não. A mãe ficara na sua casa com atual marido, a preparar a viagem a Paris que ele lhe oferecera de prenda de anos, dois dias atrás.

 A avó tinha dois empregados, António o caseiro, e Arminda a mulher que era simultaneamente a empregada e a melhor amiga da avó.

E as visitas em casa da avó, eram o Carlos e a mulher que vinham mostrar o seu rebento aos avós. O Carlos era o único filho do António e da Arminda, que estava emigrado em França e que há dois anos não vinha à terra.

 A avó tinha o hábito, de fazer a Ceia de Natal com os empregados, como se todos formassem uma só família. Tinha sido um hábito instituído pelo seu falecido marido, há mais de quarenta anos. E quando ele morreu a viúva manteve a tradição.

Clara adorava a avó, e achava muito interessante a maneira como ela vivia o Natal. Uma das coisas que para a avó era sagrada, era deixar a mesa posta, com as rabanadas, o arroz-doce, as broas, o bolo-rei, enfim todos os doces tradicionais do Natal, toda a Santa Noite. Dizia a avó, que na noite de Natal, os espíritos tinham autorização para visitarem os seus familiares que ainda estavam na terra. Por isso a mesa ficava posta para os receber.

 Depois da ceia foram todos à Missa do Galo. Clara nunca tinha visto a pequena igreja tão cheia. A um canto os meninos do coro, todos vestidos de branco, entoavam lindos cânticos. Na homilia, o Padre Miguel, lembrou a história do nascimento de Jesus, chamando a atenção para o bonito presépio montado num dos lados do altar, e regozijou-se com a presença dos emigrantes presentes.

No adro da igreja, ardia um enorme madeiro, junto da qual estavam vários homens a conversar. Para eles a Missa tinha sido um pretexto para conviverem, enquanto as mulheres lá dentro oravam ao Criador.

O dia de Natal, começou com a missa matinal, no fim da qual, cumpriu-se o ritual do beijo ao Menino Jesus, que o Padre Miguel retirou do presépio e passou entre os presentes.

Terminada a cerimónia, Clara e a avó, Carlos e os pais, regressaram a casa, onde a sua mulher ficara com o bebé.

Depois do almoço em família, cansada a avó foi deitar-se um pouco, enquanto Clara ajudava a arrumar a cozinha e António e o filho saíam até ao único café da aldeia.

Mais tarde, regressaram enregelados e juntaram-se às mulheres na sala, onde a lareira acesa fazia esquecer o frio que se fazia na rua.

 

 Elvira Carvalho in Lugares e Palavras de Natal, editora Lugar da Palavra.

9 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Beijar o menino.
Em tempos de Covid até tem piada recordar essa tradição.
Feliz Natal

Tintinaine disse...

Conto muito simples a condizer com a realidade! Quem o escreveu não precisa de adjectivos bombásticos para dourar a pílula.
Feliz Natal!!!

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Um Natal bonito e simples mais talvez dos mais puros Natais .

JR

Fatyly disse...

Que bonito este teu conto veridíco...outros tempos amiga.
Beijocas e um bom dia

Emília Pinto disse...

Era mesmo assim o Natal na minha aldeia, Elvira. Um bom Natal para todos vós, Amiga!
Beijinhos
Emilia

Cidália Ferreira disse...

Mais um bonito conto :)

.
Um beijo/abraço fraterno a quem de direito. Sejam muito felizes hoje e sempre. Um 2023 cheio de positividade.

Maria João Brito de Sousa disse...

Belo conto, minha amiga! Apenas conheci os natais das aldeias através das narrativas de terceiros, nunca os pude conhecer ao vivo.

FELIZ NATAL e um forte abraço!

- R y k @ r d o - disse...

Adorei a publicação que muito gostei de ver, e ler. Quero deixar votos de um FELIZ E SANTO NATAL, extensivo à sua família e amigos
.
Poema de Natal: “” Jesus, é a luz, o caminho “”
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Pensamentos e Devaneios Poéticos

XKY France disse...

Feliz navidad y próspero año nuevo a todos los lectores de todo el mundo. Estaré eternamente agradecido con el Dr. Itua, médico herbolario que me curó de cáncer de colon y herpes después de beber su tratamiento a base de hierbas durante 31 días y hoy estaré eternamente agradecido porque no lo haré. estar entrando en el nuevo año con un cuerpo enfermo y poco saludable. El Dr. Itua es un médico herbolario muy poderoso que cura las siguientes enfermedades como herpes, VIH / SIDA, cáncer, enfermedades crónicas, hepatitis a, b, c Diabetes y puede contactarlo si no se siente bien en su cuerpo, lo prometí. Dr. Itua que compartiré su gran trabajo con el mundo después de salvarme y es lo que haré durante el año para salvar muchas vidas aquí.
Contacto de correo electrónico del Dr. Itua: drituaherbalcenter@gmail.com
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