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8.12.22

CONTOS DE NATAL - O SUAVE MILAGRE - PARTE III


No Povo de Yakob repousava uma larga caravana, que conduzia para o Egito mirra, especiarias e bálsamos de Gilead; e os cameleiros, tirando a água com os baldes de coiro, contaram aos servos de Obed que em Gadara, pela lua nova, um Rabi maravilhoso, maior que David ou Isaías, arrancara sete demonios do peito duma tecedeira, e que, à sua voz, um homem degolado pelo salteador Barrabás se erguera da sua sepultura e recolhera ao seu horto. 


Os servos, esperançados, subiram logo açodadamente pelo caminho dos Peregrinos até Ganara, de altas torres, e ainda mais longe até às nascentes da Amalha... Mas Jesus, nessa madrugada seguido por um povo que cantava e sacudia ramos de mimosa, embarcara no Lago, num batel de pesca, e à vela navegara para Magdala. E os servos de Obed, descoroçoados, de novo passaram o Jordão na ponte da Filhas de Jacob. 

Um dia, já com as sandálias rotas dos longos caminhos, pisando já as terras da Judeia Romana, cruzaram um fariseu sombrio, que recolhia a Efraim, montado na sua mula. Com devota reverência detiveram o homem da lei. Encontrara ele por acaso esse profeta novo da Galileia que, como um Deus passeando na terra, semeava milagres? A adunca face do fariseu escureceu enrugada e a sua cólera retumbou como um tambor orgulhoso:

- Oh escravos pagãos! Oh blasfemos! Onde ouvistes que existissem profetas ou milagres fora de Jerusalém? Só Jeová tem força no seu templo. De Galileia surgem os néscios e os impostores...

E como os servos recuavam ante o seu punho erguido, todo enrodilhado de dísticos sagrados - o furioso doutor saltou da mula, e, com as pedras da estrada, apedrejou os servos de Obed, uivando: Racca! Racca! e todos os análtemas rituais. Os servos fugiram para Enganim. 

E grande foi a desconsolação de Obed porque os seus gados morriam, as suas vinhas secavam -, e todavia radiantemente, como uma alvorada por detrás de serras, crescia, consoladora e cheia de promessas divinas, a fama de Jesus da Galiléia.

Por esse tempo, um centurião romano, Publius Septimus, comandava o forte que domina o vale de Cesarea, até à cidade e ao mar. Publius, homem áspero, veterano da campanha de Tibério contra Partos, enriquecera durante a revolta da Samaria com presas e saques, possuía minas na Ática, e gozava, como favor supremo dos deuses, a amizade de Flacous, legado imperial da Síria. 

Mas uma dor roía a sua prosperidade muito poderosa, como um verme rói um fruto muito suculento. Sua filha única, para ele mais amada que vida e bens, definhava com um mal subtil e lento, estranho mesmo ao saber dos esculapios e mágicos que ele mandara consultar a Sidon e a Tiro. Branca e triste como a lua num cemitério, sem um queixume, sorrindo pàlidamente a seu pai, definhava, sentada na alta esplanada do forte, sob um velário, alongando saudosamente os negros olhos tristes pelo azul do mar de Tiro, por onde ela navegara de Itália, numa opulenta galera. Ao seu lado, por vezes, um legionário entre as ameias apontava vagarosamente ao alto a flexa, e varava uma grande águia, voando de asa serena, no ceu rutilante. A filha de Septimus seguia um momento a ave, torneando até bater morta sobre as rochas; - depois, com um suspiro, mais triste e mais pálido, recomeçava a olhar para o mar.

Então, Septimus, ouvindo contar, a mercadores de Chorazin, deste Rabi admirável tão potente sobre os espíritos, que sarava os males tenebrosos da alma, destacou três decurias de soldados para que o procurassem pela Galiléia, e por todas as cidades da Decapola, até à costa e até Ascalon. Os soldados enfiaram os escudos nos sacos de lona, espetaram nos elmos ramos de oliveira - e as suas sandálias ferradas apressadamente se afastaram, ressoando sobre as lajes de basalto da estrada romana, que desde Cesarea até Lago corta tôda a Tetrachia de Herodes. 



Gente, estou pior dos olhos. Estou a tentar uma consulta num oftalmologista particular, pois não quer ir para as urgências do Hospital Santa Maria.
Vamos ver se consigo.
Bom feriado, que Nossa Senhora da Conceição vos proteja.

11 comentários:

Emília Pinto disse...

Querida Elvira, fiquei triste com a noticia que nos dás,Espero que consigas a consulta o mais rapidamente possivel e que melhores. Que a Nossa Senhora da Conceição te ajude. Um beijinho, Amiga!
Emilia

Rogério G.V. Pereira disse...

"Nossa Senhora da Conceição
faça sol, chova não!"

Marota, não ligou à minha oração

(Cuida-te, os olhos são um bem precioso...)

Pedro Coimbra disse...

Cuidado com os olhos.
Isso é o mais importante.

Tintinaine disse...

Cuidado com os olhos que são a nossa maior riqueza! Viver às escuras o resto da vida deve ser a maior tristeza do mundo!

Isa Sá disse...

Não conhecia, mas gostei.
Espero que melhore rápido.
Bom feriado!
Isabel Sá
Brilhos da Moda

chica disse...

O conto lindo,mas triste a notícia da piora dos teus olhos,Elvira!
Ficamos rezando pra que tudo fique bem e te livres desse problema que tanto vem incomodando, não é?
beijos, boa sorete, chica e TE CUIDA!

Cidália Ferreira disse...

Bonito e interessante conto :))
.
Surge, a voz do silêncio ...
.
Beijo. Boa quinta-feira.

Jaime Portela disse...

Já conhecia este conto.
Mas gostei de o reler, pois já foi há muitos anos.
Espero que melhore dos olhos rapidamente.
Bom fim de semana, amiga Elvira.
Beijo.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Continuando a seguir este conto.
Que coisa ter piorado dos olhos.
Desejo que encontre um bom médico que encontre solução para as suas melhoras.
Beijinhos e saúde.
Ailime

Ana Freire disse...

Um conto que estou a acompanhar com crescente interesse!
Votos de rápidas melhoras... pois já sei que está a ser medicada, Elvira... mas se calhar, também será aconselhável esforçar menos a vista, por uns dias, enquanto a medicação faz efeito, não? Digo eu...
Um beijinho grande e votos de tudo a correr pelo melhor!
Ana

teresadias disse...

Continuo gostando do conto.
Elvira, desejo para si rápidas melhoras.
Beijo.