Três semanas mais tarde, no supermercado da sua zona, Luísa acabara de colocar um saco com cenouras, ao lado da alface, no carrinho onde já tinha outras compras, e dirigiu-se à bancada das frutas a fim de comprar maçãs. No momento em que ia a chegar, um homem que estava à sua frente, voltou-se para por no seu carrinho de compras, um saco com laranjas, e o seu coração acelerou ao ver que era Nuno Albuquerque. Ele também a viu e esboçou um sorriso, que no entanto não iluminou os seus olhos escuros.
Sem poder recuar, nem fingir que não o tinha visto ela cumprimentou-o:
- Olá, como estás?
- Bem. E tu?
- Também. – Tirou um saco e começou a por nele algumas maçãs. Pelo canto do olho, olhou à volta, procurando alguma figura feminina que pudesse ser a mulher dele, mas não viu ninguém.
-Costumas vir às compras aqui? – perguntou ele, vendo como ela dava um nó no saco das maçãs, e as colocava junto das outras compras.
- É o que fica mais perto da minha casa. E tu?
- Estou na mesma situação.
Era estranho. Por razões diferentes, ambos gostariam de não se terem encontrado. Mas agora que o acaso, os juntou, nem um nem outro tinha vontade de partir. Ambos queriam saber mais do outro, mas ali estavam falando de trivialidades, sem se atreverem a fazer as perguntas que verdadeiramente lhes interessavam. De súbito ambos esticaram a mão para agarrar uma caixa de morangos, e as mãos tocaram-se. Sentindo um tremor percorrendo-lhe o corpo, como se tivesse levado um choque elétrico, Luísa apressou-se a retirar a mão recuando. Como era possível que dezasseis anos depois, ele lhe provocasse semelhante reação?
Claro que Nuno percebeu perfeitamente a perturbação feminina. Arqueou uma sobrancelha num sinal claro de estranheza. Não era possível que ela se tivesse sentido perturbada com um simples toque, tantos anos depois. Ou seria? Se assim fosse era a oportunidade de ele se vingar. Seria interessante, seduzi-la e fazer com que se apaixonasse por ele, e depois deixá-la, como ela fizera no passado. Este pensamento fez com que um sorriso sedutor lhe iluminasse o rosto, enquanto lhe estendia a caixa de morangos.
-Toma. Eu tiro outra para mim. Estás muito bonita.
- Obrigado. Desculpa, tenho de ir. Já acabei as minhas compras.
- Eu também vou.
- Estás… sozinho?
- Estamos conversando, portanto estou contigo, - disse sorrindo. - Com quem achas que devia estar? Já sou grandinho para precisar de ama. E mesmo acreditando que não te interesse, informo-te que não tenho qualquer compromisso, a não ser com os meus doentes. E tu?
- Também não.
- Então podíamos combinar alguma coisa. Queres almoçar comigo?
- Não acho que seja boa ideia, Nuno.
Chegaram às caixas, e entraram em filas diferente acabando assim a conversa.
10 comentários:
Repito que o caminho para o coração passa sempre pelo estômago ...
Amor a quanto obrigas!
Bom dia com muita saúde!
Gostando e tomara ela aceite se encontrar e conversar...beijos, chica
Ora muito bem. Adorei :))
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A Subtileza das águas...
Votos de um excelente dia. Beijo.
Gostei muito.
Beijinhos
Boa noite Elvira,
Ambos desconfiados e de pé atrás.
Aguardemos o que virá ate caírem nos braços um do outro;).
Beijinhos e saúde.
Ailime
Seguindo... empolgada.
Bjs
Bom toque a ideia do supermercado e a final moram perto um do outro, conveniente (sorrisos)
Sempre muito interessante o relato. Acho que o final não será o que ele está planejando.
Abraços,
Furtado
Emoções adormecidas sempre afloram!
Beijos!
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