Fernando entrou no quarto, abriu o armário, e encontrou um pijama, um robe e uns chinelos. Despiu-se, vestiu o pijama e o robe, calçou os chinelos que lhe deixavam parte do calcanhar de fora, e foi à casa de banho que a dona da casa lhe tinha indicado para utilizar.
Lá encontrou, um copo, uma pasta de dentes, uma escova, espuma para a barba, loção e lâminas de barbear. Via-se que a sua anfitriã, tinha cuidado de todos os pormenores para lhe proporcionar uma estadia condigna. Como se fora o seu anjo da guarda. E de certo modo era, pois se ali estava, vivo, devia-o a ela.
Quem sabe quantos carros teriam passado antes dela, sem parar? Podia ser uma emboscada. E ela fizera-o, pondo em risco a sua segurança e a do próprio filho. E continuava a fazê-lo trazendo-o para o remanso do seu lar. Era uma mulher extraordinária. Uma mulher que ele gostaria de ter nos braços, de beijar e de levar pelos caminhos do amor.
Mas ele não podia permitir-se qualquer veleidade. A última coisa que Helena precisava era de uma aventura. Era mãe. E como mãe solteira, o que precisava era de um homem que assumisse o seu filho e a ajudasse a criá-lo. Coisa que ele não poderia fazer. Como poderia pensar nisso se nem sequer sabia o próprio nome?
Não. Decididamente tinha que afastar aquelas ideias da cabeça. E deixar de pensar em cenas eróticas com a doutora. Terminou de lavar os dentes e olhou a sua imagem no espelho com uma certa apreensão. O que haveria para além daquela aparência de homem jovem e bonito?
Era quase meia-noite, quando se deitou. Mas ainda não tinha sono. Pegou no livro que trouxera da sala e leu duas páginas. Voltou a fechá-lo, preso de um grande desassossego. Apagou a luz e fechou os olhos, tentando conciliar o sono.
Fernando saiu do carro e entrou no átrio do monumental teatro. Estava em cima da hora, quando ele se dirigiu apressado para a sala, onde ia decorrer o concerto. Não sabia exatamente onde estava, mas a enorme sala estava completamente cheia. No palco vazio estava um piano. De súbito as luzes apagaram-se sem ele ter encontrado ainda o seu lugar. Ficou de pé encostado à parede. Procuraria o seu lugar no intervalo.
Um homem alto entrou no palco, e dirigiu-se para o piano. E de súbito uma música elevou-se no espaço. Fernando levou apenas alguns segundos a identificá-la. Tratava-se da Sinfonia nº 40 de Mozart. Apesar de estar de pé, o que era um tanto incómodo, escutou com muita atenção. A interpretação era muito boa. A música foi-se apoderando dele, e sentiu-se transportado para um mundo mágico, cheio de música e cor.
Quando a música terminou, a plateia aplaudiu de pé durante largos minutos. Então o pianista pôs-se de pé e virou-se para o público para agradecer, fazendo com que a assistência silenciasse de espanto.
O pianista, não tinha rosto.
14 comentários:
Ai, ai, ai...este pianista sem rosto não estava nos meus planos. Estou a ver que não lembro nada da história que de certeza já li. Sou muito antiga, nesta casa e portanto conheci-a, Valha-me a santa...a memória está ruinzinha, Amiga. Beijos e boa noite. Amanhã, então teremos festa...cá estarei! Até...
Emília
Uma branca total.
Novela às quintas é novidade! Quererá isso dizer que já há uma nova história na forja? Esperemos que sim, seria um sinal de saúde e disponibilidade da autora.
Um bom dia para todo o Barreiro, terra de fuzileiros, desde 1961!!!
Mais um belo capitulo, gostei de ler.
Um abraço e um Bom Setembro.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Um pianista sem rosto? ui ui...
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Beijo, e um excelente dia.
Fernando é o pianista, certo?
Desmomoriado, como está, não cnsegue, ainda, fazer a ligação. Mas ele vai lá.
Nunca tinha lido esta história, e está a sair-me muito melhor do que encomendei :-)
Bom dia, Elvira
Empolgante chegar nessa parte do pianista! Vamos acompanhando! beijos, lindo dia! chica
O final deste capítulo é de mestre do suspense...
Fico à espera da continuação.
Continuação de boa semana, amiga Elvira.
Um beijo.
Existem sonhos assim...quase pesadelos.
É o nosso subconsciente a querer tomar lugar na consciência da gente. Sobretudo, de alguém como o Fernando, perdido em si mesmo.
Gostei desta forma de ficar à espera até segunda-feira, Elvira...Pelo menos uma luzinha brilhou, neste firmamento da fantasia. :)
Um abraço e agora...venha a Festa!
Boa tarde Elvira,
Magnífico capítulo, que li de um fôlego e me deixou num enorme "suspense"!
Gostei imenso.
Um beijinho e saúde.
Ailime
A passar por aqui para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Tenho que ler as publicações anteriores para estar a par das novidades!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Pianista sem rosto, sem memória, sem história, decerto é ele! Muito legal!!!
Abraços!
Pianista?
Talvez. Eu espero para saber.
Beijo.
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