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27.9.21

SINFONIA DA MEMÓRIA - PARTE XXIV




Estavam no cemitério. Fernando caminhava atrás de uma carrinha funerária. Ele e meia dúzia de pessoas. Um homem pouco mais velho do que ele, e dois outros bem mais velhos. E três mulheres. Todas idosas. Percebeu que uma delas seria a mãe do outro homem. As  duas restantes, as esposas dos outros dois. Ele estava sozinho. Atrás deles algumas pessoas importantes. 

Ele conhecia alguns. O doutor, o presidente da junta de freguesia, o dono do talho. Sentia-se triste, como sempre que entrava num cemitério. Embora naquela altura não soubesse o que fazia ali. Perguntou-se quem seria o defunto, mas não encontrou resposta para a sua própria pergunta. O carro funerário parou. Ao lado havia uma cova. Dois homens estavam ao lado dela com duas pás. Outros dois seguravam em cordas. A urna foi retirada da carrinha e colocada sobre uma banca ao lado da cova. Um padre aproximou-se e encomendou a Deus a alma do defunto. 

Depois o homem da funerária abriu a urna, para uma última despedida. O choro das velhas aumentou. Ele ia aproximar-se, para ver quem estava lá, mas o outro homem empurrou-o, e fechou a urna. 

 Nesse momento alguém gritou.
-Mamã... mamã…
Era uma voz de criança e chorava. Acordou em sobressalto. Saltou da cama e saiu disparado em direção ao quarto de Diogo, quase chocando com a mulher que acudia aflita ao grito do filho.

Encontraram o menino, sentado na cama com o rosto banhado em lágrimas.
-Pronto, filho a mamã está aqui. Foi só um sonho, meu amor, não tenhas medo, -dizia Helena abraçando-o e beijando-o para o acalmar.  

Fernando sentou-se na cama, e passou a mão pela cabeça do menino.
- Então Campeão, o que é isso? Um menino tão corajoso como tu, tem medo de quê?
-Não tenho medo, tio Fernando, -disse o menino empertigando-se.
- Bem me queria parecer, Diogo. Mas sabes uma coisa? É noite, e de noite as pessoas dormem. E os meninos que não têm medo, também. Vamos dormir?
A criança subitamente calma, deitou-se e Fernando aconchegou-lhe a roupa, e deu-lhe um beijo na testa, perante o espanto da mãe.






11 comentários:

noname disse...

Isto está cada vez mais intrincado.

Boa noite, Elvira

Janita disse...

Quem seria o defunto? E qual a ligação entre o pesadelo do menino e o sonho de Fernando?
Ai, que ainda vamos ter a Elvira a escrever histórias paranormais que, se o Tarantino ou James Wan descobrem, ainda as vão querer adaptar ao cinema.
Estou a gostar disto!

Boa noite, Elvira.

Emília Pinto disse...

Ai, ai, ai, ai...mas que complicação, Elvira!!! De facto, não sei nada desta história, como no inicio imaginava. Há muitos anos que sigo o teu blog e só encontro uma explicação para não ter conhecido este conto. Ia ao Brasil muitas vezes e na casa dos meus pais n havia internet e só pode ter sido essa a razão. Ficava lá sempre um mês ou mais e , claro, só quando ia a casa do meu irmão tinha oportunidade de dar um passeio pelos blogs. Elvira, eu já sou " velha " aqui nesta casa..., pelo menos há uns dez anos, não? Bem...agora o que importa é a vida deste Fernando!!! Vamos lá ver o que nos reservas. Beijinhos e SAÚDE!
Emilia

Pedro Coimbra disse...

Sempre ouvi dizer "quem meus filhos beija minha boca adoça"...
Boa semana

Maria Dolores Garrido disse...

A vida é mesmo assim. Morte e vida muitas vezes a rondar.
Gostei da ternura para que o menino adormecesse.
Um beijinho, Elvira, e um dia muito bom.

Tintinaine disse...

As memórias vão voltando aos poucos, já não falta muito para saber quem é.
Boa semana!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um excelente capitulo, gostei.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Cidália Ferreira disse...

Gostei, mas achei triste!:)
-
Silêncios do tempo...
-
Beijos, e uma excelente semana!

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Gostei deste belo capítulo, com muita criatividade e imaginação.
Será que este sonho vai ajudar Fernando a saber quem é?
Beijinhos e boa semana.
Ailime

Rosemildo Sales Furtado disse...

Gostando e aguardando os próximos acontecimentos.

Abraços,

Furtado

teresadias disse...

Depois do pesadelo o carinho...
Muito belo!
Bjs.