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10.8.21

POESIA ÀS TERÇAS -- TESTAMENTO - DE ALDA LARA


 TESTAMENTO



À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...

Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,

Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua... 


ALDA LARA

8 comentários:

ematejoca disse...

Vale a pena ler a obra de ALDA LARA, poetisa angolana, desconhecida do grande público.

Pedro Coimbra disse...

Um testamento lindíssimo.

Anete disse...

Bonito, profundo, denso e reflexivo testamento.
Boa terça-feira, querida Elvira.
Bjs, Anete

São disse...

Lindissimo poema de uma escritora que sempre admirei!

Beijinho , boa semana e tudo correndo bem!

Fatyly disse...

Uma grande poetisa angolana e gostei muito deste poema bem sofrido!

Beijos e um bom dia

Janita disse...

Que belo poema! Isto sim, é Poesia.
Não conhecia a Poetisa, mas vou já indagar junto do grande Mestre Google.
Obrigada, Elvira.

Beijinhos.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Um belíssimo poema!
Um beijinho e estimo as suas melhoras.
Ailime

Rosemildo Sales Furtado disse...

Grande Alda Lara! Belo poema. Ótima escolha Elvira. Parabéns!

Abraços,

Furtado