TESTAMENTO
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
ALDA LARA
8 comentários:
Vale a pena ler a obra de ALDA LARA, poetisa angolana, desconhecida do grande público.
Um testamento lindíssimo.
Bonito, profundo, denso e reflexivo testamento.
Boa terça-feira, querida Elvira.
Bjs, Anete
Lindissimo poema de uma escritora que sempre admirei!
Beijinho , boa semana e tudo correndo bem!
Uma grande poetisa angolana e gostei muito deste poema bem sofrido!
Beijos e um bom dia
Que belo poema! Isto sim, é Poesia.
Não conhecia a Poetisa, mas vou já indagar junto do grande Mestre Google.
Obrigada, Elvira.
Beijinhos.
Boa tarde Elvira,
Um belíssimo poema!
Um beijinho e estimo as suas melhoras.
Ailime
Grande Alda Lara! Belo poema. Ótima escolha Elvira. Parabéns!
Abraços,
Furtado
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