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12.2.21

SONHO AO LUAR - PARTE XVI






- Deves estar muito contente.
- Por voltar a ver, sim. Mas vinha doido para ver a sua neta. Que se passa com ela?
- Não sei, Hélder. Diz-me tu, porque a queres ver? Desde quando sabias que era ela?
- Quase desde o primeiro dia. A dona Lucinda conhece-me desde sempre. Sabe da amizade que me unia à sua neta. Também sabe como fiquei meio perdido quando os meus pais morreram. Sei que pode parecer estranho que tenha sido uma miúda, a fazer com que me reencontrasse, eu que era, já na altura um homem.

- Mas foi o que aconteceu. Ela era encantadora, tão simples, tão natural, e eu sentia-me feliz a orientá-la nas leituras, a mostrar-lhe o mundo como eu o via. Era como se tivesse uma irmã mais nova, para amar e proteger. E esse sentimento levou-me a recuperar da dor e desorientação em que a morte dos meus pais, daquela forma trágica, me tinha deixado.

- Por muito estranho que pareça, dada a nossa diferença de idades,  durante quatro anos, fomos os melhores amigos do mundo. Depois um dia descobri que se tinha apaixonado por mim. Fiquei zangado. Foi como se a vida me tivesse roubado de novo, como se a minha irmãzinha tivesse morrido. E de certa forma assim foi, já que desde esse dia, nunca mais fui capaz de a ver, ou de pensar nela, da mesma maneira. 

 -Fui para Lisboa, empreguei-me numa loja, e aluguei um pequeno apartamento com outro colega. Comecei a escrever. Sempre gostei muito de o fazer, mas nunca pensei que a minha vida seguisse esse rumo. Mas o livro foi um sucesso estrondoso, e de repente, o livro era traduzido em várias línguas, as edições sucediam-se, até se projetava um filme baseado nele, e então deixei o emprego e dediquei-me apenas à escrita. 

-A recordação de Isabel nunca me abandonou. Era algo muito íntimo. Fazia parte de mim. estava sempre à espera de poder voltar a vê-la. Depois sofri o acidente deixei de ver, e durante muito tempo estive apenas centrado na tentativa de recuperar a visão. Quando perdi a esperança, voltei para casa. E de novo Isabel, veio e me salvou. Porque foi desde que tive a certeza que ela estava comigo, que a minha visão começou a dar sinais de querer voltar.  

-Durante estes meses, eu descobri porque é que nunca me interessei a sério, por nenhuma mulher nestes dez anos. O amor pela sua neta enchia o meu coração. Neste último mês, vivi entre o Céu e o Inferno, com o desejo de lhe confessar o meu amor, e o medo de não poder oferecer-lhe, nem sequer um olhar apaixonado. E agora que os meus olhos lhe podem mostrar o que me vai na alma, ela não quer falar comigo, e estou desesperado.

Calou-se. A senhora estava emocionada.
- Sabes de uma coisa, Hélder? Vocês hoje em dia são demasiado complicados para o meu gosto. A Isabel ama-te desde menina e foi-se embora em desespero, convencida de que nunca corresponderias ao seu amor.
- Convencê-la-ei do contrário. Só não sei onde encontrá-la.

- Eu sei. E vou ajudar-te. Mas tens que me prometer trazê-la de volta. Estou velha, não gostava de morrer, sem a ver feliz.
Inclinou-se para a mesa, apanhou um bloco e escreveu uma morada. Depois arrancou a folha, e deu-lha. Ele abraçou a idosa e deu-lhe dois carinhosos beijos.
- Fico-lhe eternamente grato, avó. Parto depois do almoço.

15 comentários:

Janita disse...

Tão lindo, Elvira!
Sinto-me a adolescente que fui um dia, com o mesmo encantamento, de quando lia os romances de amor da Corin Tellado. :)

Um abraço.

chica disse...

Beleza e leveza nesse lindo capítulo! Adorando reler! beijos, tudo de bom,chica

Tintinaine disse...

Aí vai ele a toda a velocidade! Não há Covid que o pare!
Bom fim de semana!!!

noname disse...

Nada como a cumplicidade de uma avó :)

Bom dia, Elvira

Emília Pinto disse...

E vai conseguir recuperar o amor de Isabel, é sö abrir o coração como fez com a avó. Amiga, espero que estejam todos bem de saúde e cá estarei para mais um capítulo. Beijinhos
Emilia

Maria João Brito de Sousa disse...

Isto vai de vento em popa :)

Forte abraço, Elvira!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei deste capitulo e principalmente da ternurenta foto que o ilustra.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Artes Ideias e Dicas disse...

Olá fico aguardar o novo capitulo .Está a ser interessante. Beijos e saúde.

Isa Sá disse...

A passar para acompanhar a história.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
A história está a tomar um rumo muito bonito.
Estou a gostar bastante.
Beijinhos e bom fim de semana.
Ailime

isabel disse...

O AMor é lindo é um uma benção poder estar rodeado dele :)
Um bom fim de semana em segurança minha querida Elvira

Cidália Ferreira disse...

Mais um capitulo fantástico!! :))
-
Quero deambular, livre do meu medo
-
Beijo, e um bom fim de semana.

teresadias disse...

Elvira, parabéns pela qualidade da sua escrita.
É um gosto lê-la.
Agora, faça com que o Hélder encontre a Isabel, e ela volte para junto da avó.
É pedir muito? Não!
Beijo, bom fim-de-semana.

Edum@nes disse...

Isabel desesperada, Hélder desesperado. Daqui a nada o amor que sentem um pelo outro. Os juntará para sempre.

Tenha um bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.

João Santana Pinto disse...

Um momento que encanta com a avó a os chamar de complicados (sorrisos)

O memento da explicação do que tinha corrido menos bem no passado e as peças de um puzzle a aparecer.

Vou continuar.