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24.2.21

CASAMENTO POR PROCURAÇÃO - PARTE II

 


 




 A mãe, arrumou o quarto, pegou no vestido de noiva que estava pendurado no armário e estendeu-o em cima da cama alisando-o para ver se não haveria alguma ruga que lhe estragasse o brilho. Satisfeita com o resultado saiu e dirigiu-se à sala, onde as irmãs, cunhadas e sobrinhas esperavam. 
-Celeste e Maria João, - disse dirigindo-se às duas sobrinhas, a Sofia está a tomar banho, decerto agradeceria a vossa ajuda para se vestir e pentear, eu vou-me vestir.

Entrou no quarto de casal, onde o marido andava às voltas com o nó da gravata, e procurou no armário o fato que ia levar ao casamento da filha. Estava muito nervosa. A falar verdade não lhe agradava nada aquele casamento arranjado entre o marido e o pai do noivo. É verdade que eles eram amigos desde sempre, e que ele era boa pessoa. Mas o rapaz fora para a França ainda miúdo sabe-se lá no que se teria tornado. Não se conformava. Nem percebia porque a filha tinha aceitado aquele disparate.
  
Não conseguia aceitar a ideia, de que aquele  casamento,  ia levar a sua menina para o estrangeiro, sem saber quando voltaria a vê-la. Já tinha brigado com o marido, mas ele dizia-lhe, que apenas fizera uma proposta à filha, que ela aceitara. Não a forçara, nem sequer a aconselhara a aceitar. A decisão fora só dela, e  se era isso que ela desejava, eles não se podiam recriminar.

Já no quarto, depois do duche tomado, Sofia retirou da comoda um conjunto de peças íntimas, branco e um saiote comprido engomado, que serviria para armar a saia do longo vestido de noiva, e deu início à tarefa de se vestir, ajudada pelas duas primas.
-Não vestes combinação? - perguntou Celeste admirava.
-Não
Sabia que a mãe iria ralhar com ela, fazia-o sempre que ela não vestia combinação, mas era uma peça com que embirrava, e que pensava nunca mais usar a partir do seu casamento.

-Meu Deus Sofia, não sei como tens coragem de casar assim sem sequer conheceres o rapaz, - disse Maria João enquanto escovava o cabelo da prima. Eu não seria capaz.
-Eu também não, - disse Celeste, acariciando a seda do vestido. Ainda mais ir para tão longe, numa terra estranha, sem pai ou mãe, que te ajudem a ambientares-te. És muito aventureira.

Sofia limitou-se a sorrir. Estava feliz. Não porque estivesse apaixonada, ela nunca sentira tal sentimento por nenhum homem, apesar de sonhar com o amor.
Qual é a mulher que não sonha?  As mulheres sonham com o amor, antes mesmo de começarem a pensar em homens. Só muito mais tarde, quando se enamoram, dão ao sonho um rosto, põe um nome ao  amor. 

Mas ela mal conhecia o futuro marido. Lembrava-se dele, apesar de ainda não ter nove anos, quando ele com quinze, fora visitar uns tios que tinham emigrado há muitos anos para a França. E por lá ficou com eles. Afinal a visita, não passara de um estratagema, para fugir do país e da mais que certa ida para a guerra do Ultramar. Com aquela idade não foi muito difícil, dois anos mais tarde, seria impossível. Teria que recorrer à fuga clandestina.


Nota: Esta história será publicada às Segundas, Quartas e Sextas
.

13 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Não era França, era Angola.
Estava lá o tio Luís e foi lá ter a tia Nela que já tinha "casado" com o irmão, o meu pai.

chica disse...

Relendo e acompanhando! beijos, tudo de bom,chica

Tintinaine disse...

Bom dia, Elvira!
Que Deus lhe conserve a vista para termos direito a uma novela nova. Entretanto vou relendo a velha, pois também não guardei na minha memória grande coisa do enredo.

Maria João Brito de Sousa disse...

A esta história, leio-a pela primeira vez. E promete!

Forte abraço, Elvira.

Cidália Ferreira disse...

Esperemos que este casamento dê certo, Vai dar!:)
-
Abro a janela e deixo a brisa entrar
-
Beijo e um dia feliz!

noname disse...

Capítulos I e II lidos, peguei o comboio atrasada, mas já estou na viagem.

Bom dia, Elvira

AC disse...

Como sempre, cada história começa com um enquadramento credível, semeando no leitor uma natural curiosidade. Que fica a aguardar, com vontade de mais.

Um abraço e muita saúde, Elvira :)

Teresa Isabel Silva disse...

Voltarei na sexta para acompanhar!

Bjxxx
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Emília Pinto disse...

Querida Elvira, cá estou eu a acompanhar esta estória que, sendo eu tua seguidora antiga, já não me lembro muito bem deal. Mas, sabes, eu sou dessa época, dos casamentos por procuração e da guerra colonial; o meu irmão e o meu, agora marido estiveram na Guiné. O meu pai, taxista de aldeia, levou alguns até determinado lugar onde depois fugiam " a monte " para a França. Tempos dificeis, Amiga! Também sou do tempo da combinação, embora a minha mãe não me obrigasse a uså-la . Vou gostar de recordar esses tempos, Amiga e por isso, cá estarei. Um beijinho e SAÚDE!
Emilia

redonda disse...

Será que vai correr bem?

teresadias disse...

Uma história destas cativa logo nos primeiros capítulos.
Casamento arranjado? Casamento por procuração?
Hoje estranha-se, há uns anos não.
Elvira, gosto do seu contar de histórias.
Beijo, fique bem.



Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Então lá temos a noiva finalmente a preparar-se para o casamento por procuração.
Tenho uma cunhada com quem me dou muito bem que casou nessa época e nessas circunstâncias, mas foi para a África.
Eu seria incapaz.
Beijinhos,
Ailime

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Acompanhando e gostando muito!
Beijos!