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5.2.21

SONHO AO LUAR - PARTE XIII

A avó viu-a entrar. Leu-lhe o desespero no olhar. Uma sombra de tristeza, perpassou-lhe pelos olhos cansados. Conhecia aquele filme. Tinha-o visto dez anos antes. E dessa vez ficou cinco anos sem ver a neta. Se a história se repetia, tinha a certeza de que nunca mais a veria. Esperou um pouco e foi ter com ela ao quarto. Ouviu o choro da jovem. Abriu a porta, e sentando-se na cama, perguntou:

- Que aconteceu, Isabel? Há uma hora atrás, parecia que estava tudo bem.
- Ele lembrou-se de mim, avó.
- Lembrou-se? Como assim?
-Disse que se esqueceu de perguntar-te pela tua neta, que sempre estava por cá nesta altura.
- E isso que tem, Isabel? Eram tão amigos, é natural que se lembre. Filha se não te explicas, não consigo perceber, porque é que isso te faz chorar. Afinal a minha neta, és tu.

- É que ele disse que a amava como uma irmã. Como uma irmã, avó. Entendes? Foi assim que ele me viu há dez anos, foi assim que sempre me amou. Em contrapartida, eu sempre o amei como homem. Desde os doze  anos, antes mesmo de saber que era  amor, aquilo que sentia. Não me consigo imaginar com mais ninguém. E não penses que nestes dez anos, não tentei. Eu pensei que se fosse trabalhar com ele, sem ele saber quem eu era, podia fazer com que se apaixonasse por mim. Todavia ou sou a sua secretária, ou a amiga, com quem gosta de conversar. Nunca mostrou qualquer interesse pela mulher que sou. Acreditas que nunca me tocou?

-Nunca te tocou, como?
- Tu sabes que os invisuais sentem as coisas com a ponta dos dedos. Ele nunca me pediu para tocar o meu rosto. Porquê? Porque na verdade, não lhe interessa se sou bonita ou feia, se tenho a pele lisa, ou cheia de rugas.

-Ele não acabou, já o livro? Então o que tens a fazer, é deixá-lo e seguires com a tua vida. Ainda que agora te pareça impossível, um dia acabarás por esquecê-lo. O tempo é um excelente remédio. Não queiras transformar-te numa heroína da Idade Média. Hoje em dia já ninguém morre por amor. Vamos lá, levanta dessa cama vai lavar a cara e vem ajudar-me com o jantar.

Levantou-se e dirigiu-se para a porta. Embora sentindo-se impotente perante o sofrimento da neta, tinha que ser firme. Gostava do jovem. Conheceu-o de garoto, viu-o crescer e fazer-se homem. Depois os pais morreram, ele ficou sozinho, e de vez em quando, visitavam-se. Confiava tanto nele, que nem se preocupou com a admiração que a neta tinha por ele, nem com os constantes passeios dos dois. Sabia que ele nunca lhe faria mal, nunca lhe passou pela cabeça que o perigo para a neta, viria dos seus próprios sentimentos. Nem mesmo quando mais tarde suspeitou disso, sempre pensou que era uma paixoneta de garota que logo esqueceria. Agora estava assustada com a força daquele sentimento.

15 comentários:

chica disse...

A avó se dando conta da coisa... Lindo capítulo... Há muito por vir! bjs, chica

Janita disse...

Nunca se esquece o primeiro amor! E de amor, e por amor, também ainda se morre. Não só na Idade Média. Morre-se em vida, o que é pior.
Uma vez mais me deixei envolver pela força desse sentimento tão forte, que a nossa protagonista sente pelo escritor.
Gostei.

Um abraço, Elvira.
Tenha uma boa noite.

lis disse...

Assim como a Janita estou a envolver-me também rs
Desejando que ele a perceba e que o amor dela o faça despertar também para a luz dos seus olhos.
Gostando ,Elvira muito!
meu abraço

Pedro Coimbra disse...

Não era paixoneta, era paixão.
Bfds

Tintinaine disse...

Cá vou aparecendo todos os dias, à espera de uma nova novela!
Bom fim de semana!!!

Alexandra disse...

Aqui, a Elvira escreve realmente com o sentimento de AVÓ, no sentido mais bonito da palavra.

Gostei muito.

Um abraço e saúde.

Maria João Brito de Sousa disse...

Pobre Isabel... na minha opinião, está completamente iludida em relação à aparente indiferença do seu amado. Aguardemos.

Forte abraço, Elvira!

noname disse...

Não sei ao certo se ele já descobriu quem é a secretária, ou se o soube desde sempre. Também não acredito numa completa indiferença, mas talvez medo, medo de ser rejeitado. Para um cego tardio a vida não segue, como para um cego de nascença, é completamente diferente.

Belo capítulo este.
Beijinho

A Paixão da Isa disse...

para mim ele sabe quem ela é so que nao quer é dizer mas penso que sim que ele vai dizer mais um lindo capetulo ca fico a espero do resto bjs saude

Cidália Ferreira disse...

...As "Avós" sentem sempre o que se passa sem contarem nada. Gostei muito :)
-
Já anseio por uma nova Primavera
-
Beijo e um excelente fim de semana! :)

Isa Sá disse...

A passar para acompanha a história e desejar bom fim de semana!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

teresadias disse...

Paixão de neta; preocupação de avó - aqui muito bem descrita.
Gostando!!!
Beijo Elvira, bom fim-se-semana.

AFlores disse...

...O amor é assim, lá diz a canção.
Passando e deliciando-me com a(s) história(s).
Tudo de bom.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um capítulo muito bonito.
Eu penso que ele sabe quem é a sua secretária.
Beijinhos e bom fim de semana.
Ailime

João Santana Pinto disse...

Um texto que reforça momentos anteriores e que penso estar feito para manter o leitor na dúvida.

Há amor, nem que seja como irmã, mas lá está um amor isento de desejo e há que saber a razão... neste momento estou a abrir inúmeros cenários.

Por outro lado, aposto que ele já saberá quem ela é mas talvez não saiba como sair do ponto em que se encontram.
Gostei muito, vou passar ao textos seguinte