Seguidores

26.2.21

CASAMENTO POR PROCURAÇÃO - PARTE III

 


Aviso a quem me reconhecer. A foto é minha, só porque eu casei no mesmo ano da protagonista e queria uma foto da época. Esta história, não tem nada a ver comigo.


                                                               III



Agora, passados  dez anos, o rapaz decidira casar. E como muitos outros, queria fazê-lo com uma mulher da sua terra. Escreveu aos pais, dando conta dos seus desejos.
O pai dele, era amigo do pai de Sofia, conhecia-lhe a filha desde que nascera, e fez-lhe saber que gostaria da rapariga para nora. E quando o seu pai lhe  contou, ela limitou-se a perguntar  se casava e continuava na aldeia, ou se ia ter com o marido. E quando soube que era para ir para França, aceitou imediatamente.

Ia fazer vinte anos em breve, tinha a cabeça cheia de sonhos e a alma presa à submissão do regime de então que tirava às mulheres todos os direitos que não fossem o de procriar para manter a espécie. E mesmo com os filhos, eles só eram realmente seus, enquanto estavam no ventre materno, porque uma vez paridos, era o pai que detinha sobre ele, todos os direitos. (1)

Era jovem, queria fugir dessa vida. E só o podia fazer com o pai, ou com o marido. Com o pai era impossível, logo casar-se parecia ser a solução ideal.
Às vezes passava-lhe pela cabeça, a lembrança de que ia efetuar um casamento sem amor. Mas logo afastava essa ideia, pensando que também não amava ninguém, por isso, a lógica era que viesse a amar o marido com o tempo e a convivência. E  entregava-se a Nossa Senhora das Dores, de quem era devota, para que a protegesse da infelicidade.

Não tinha irmãos, coisa rara na época,  em que os casais tinham muitos filhos. Todavia um parto complicado  e uma parteira  que não tinha experiência suficiente, para perceber de início, que alguma coisa não estava bem, para chamar uma ambulância e mandar a parturiente para a maternidade mais próxima, resultou numa situação que quase matou mãe e filha. Quando enfim, resolveu mandá-la para a maternidade já era tarde.  Os médicos conseguiram salvar mãe e filha, mas não conseguiram evitar que a mãe, ficasse incapacitada para ter mais filhos.

A prima acabou de lhe  abotoar os inúmeros botões do vestido de noiva. Nunca iria entender porque o vestido tinha que ter mais de cinquenta pequenos botões nas costas.

Quando a mãe e a tia Ilda entraram no quarto para ver se já estava pronta,  a jovem reparou que ambas tinham os olhos inchados e vermelhos. Sabia porquê. A sua família era extremamente religiosa.
Ela mesma frequentara a catequese, fizera a comunhão solene e fora crismada. E agora ia casar-se apenas no registo. O noivo pediu para ser assim e ela não se importou. 

Nenhuma rapariga na aldeia, se atrevera a casar sem ser na igreja, muito menos as da sua família. Para a mãe, e tias, o casamento pelo registo não passava dum… como é que elas diziam? Ah sim, um amancebamento. As primas colocaram-lhe a tiara e o véu que prenderam à trança enrolada no alto da cabeça. O fotógrafo já aguardava no corredor para entrar no quarto e tirar as  fotografias da noiva, antes da saída para o Conservatório onde se realizaria o casamento. 



(1) Conheci casos, em que o casal não se entendia e por isso separaram-se, mas continuavam casados, pois que em Portugal não havia divórcio.
Cada um seguiu a sua vida e arranjaram outros companheiros. Se a mulher tivesse filhos do novo companheiro, eles só podiam ser registados como filhos do marido, e se este quisesse tirar-lhos, a lei permitia-o. Uma prima minha, esteve nesta situação. Separada do marido, teve dois filhos do companheiro que foram registados em nome do marido, e só depois do 25 de Abril e da legalização do divórcio, pôde mudar o registo dos filhos.

15 comentários:

Pedro Coimbra disse...

É bom que muita gente leia a nota de rodapé porque parece que essa realidade não existiu.
Bfds

Tintinaine disse...

Bom dia!
Bom fim de semana!
E que o confinamento lhe preserve a sanidade mental!

chica disse...

Foi bom reler e a tua foto é linda! beij0s,chica

Maria João Brito de Sousa disse...

Estava muito bonita, Elvira!

Vejamos no que dá a resolução desta jovem protagonista.

Forte abraço

noname disse...

Ontem como hoje, a vida nunca foi fácil.

Bom dia, Elvira

Isa Sá disse...

A passar para acompanhar a historia!

Cesar disse...

Passando pra visita de sexta... Certas tradições machistas incomodam-me bastante.são absurdos que persistem em vários lugares, mas que precisam vir á tona. Grande abraço e cuide-se.

Jaime Portela disse...

Houve casamentos por procuração que deram certos, mas os noivos já se conheciam.
Li os 3 capítulos de seguida e fiquei convicto de que há contexto para uma boa história. Aguardemos pelos próximos capítulos...
Continuo a gostar da sua narrativa e da forma como vai descrevendo as situações.
Bom fim de semana, querida amiga Elvira.
Beijo.

Beatriz Pin disse...

Primeiro de tudo, voçé com o seu precioso vestido de noiva. Mais que raínha!
A historia descreve bem como era daquela, tão differente a agora.
Seguirei lendo para ver que se passa!
Abraço e boa finde. Se

Cidália Ferreira disse...

Gostei do episódio. Conheci de perto um caso idêntico :)
-
"Coisas de uma Vida
-
Um excelente dia. Beijo :)

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Não posso deixar passar que o seu vestido de noiva era deslumbrante!
E lá temos a noiva pronta para o casamento civil, que realmente na época era quase inconcebível!
Os meus avós maternos eram casados apenas pelo registo civil, o meu avô não era católico e tinha ideias muito próprias, até que um dia através de um grupo de frades capuchinhos que estiveram a evangelizar na aldeia lá deram o nó pela Igreja, tinha eu seis anos;))!!
Beijinhos e bom fim de semana com saúde.
Ailime

A Paixão da Isa disse...

mas que bonita que estava com esse lindo vestido tambem gostei do que li bjs saude

teresadias disse...

Elvira, começo por lhe dizer que foi uma linda noiva, e o vestido era belíssimo.
Quanto à história, vou seguindo curiosa e encantada.
Beijo, bom fim-de-semana.


Olinda Melo disse...


Era comum as raparigas casarem para fugirem da autoridade
paterna e ter outra visão da vida. Só que na maior
parte das vezes iam para uma dependência ainda pior...
E também o casamento por procuração era frequente...

Esta história promete. Farei os possíveis por
acompanhá-la.

Elvira, linda foto. Está uma noiva belíssima.

Beijos
Olinda

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Noiva linda, parabéns Elvira! E a história muito envolvente!
Abraços fraternos!