Isabel abriu o portão e disse ao homem que estava no jardim, que ia por causa da vaga de secretária. Ele pediu-lhe para esperar, e entrou em casa. Voltou pouco depois e levou-a ao escritório. Ela ia olhando para a casa. Estava bonita, mais moderna, mas mais impessoal. Tão diferente daquilo que ela se recordava.
O homem abriu a porta, deu-lhe passagem e fechou-a atrás dela. Na sua frente, Hélder encontrava-se recostado num cadeirão, com o cão a seu lado. Tinha vestido umas calças cinzentas, e um polo azul-escuro.
Mentalmente fez as contas. Se ela tinha vinte e seis anos, ele tinha trinta e seis. Parecia mais velho. Tinha já alguns fios de cabelo branco. O rosto moreno, continuava bonito, apesar dos óculos escuros, que escondiam os outrora brilhantes, olhos castanhos.
- Bom-dia, - saudou. - Venho por causa da vaga de secretária.
- Bom-dia. A agência não me informou de que tinham mandado alguém.
- Bom, é que não vim mandada pela agência.
- Como assim?
- É que ouvi um comentário no talho, em que diziam que estava à procura de uma secretária. Eu estou a trabalhar num escritório de advocacia na cidade, mas como moro aqui se conseguisse empregar-me cá, era muito melhor para mim. Assim resolvi tentar a minha sorte.
- E diz que trabalha num escritório de advocacia? Naturalmente vai dar-me o nome e número de telefone para que possa confirmar e tomar referências.
- Claro, sem problema.
- Bom, se decidir dar-lhe o lugar, quero que saiba que não quero mexericos, não quero saber que a minha vida ande na praça pública. Também poderá, uma ou outra vez, sair mais tarde. De qualquer modo será sempre compensada monetariamente cada vez que o seu dia, vá para além do horário normal.
- Não tenho por hábito falar da vida de ninguém,- retorquiu ela
- Já nos conhecemos? Parece-me que reconheço a sua voz, - disse franzindo a testa, como a procurar recordar-se.
- Passei por si, ontem na praia e saudei-o. Deve ser daí – apressou-se a dizer Isabel.
- Talvez, – não parecia muito convencido. - Como disse que se chamava?
- Não disse. Chamo-me Isabel Antunes.
Era o apelido de sua mãe, antes do casamento. Tinha a certeza que apesar de não poder mudar o nome, ele não associaria aquele apelido a ela. Se é que ele se lembraria dela.
- Bom, deixe-me os seus dados, e o número de contacto. Terá notícias em breve.
Ela já estava preparada para isso. Retirou a folha da mala e estendeu-lha. Ele rodou o braço na procura do papel e encontrou-o.
- Bom dia, senhor, - disse ela voltando-se e encaminhando-se para a porta. Abriu-a e saiu. Mal chegou ao jardim ligou para o escritório e falou com a telefonista da empresa, dizendo-lhe que era provável que lhe ligassem para pedir referências sobre ela. Devia dar as melhores, como secretária, e de maneira nenhuma dizer que era advogada. Só então se dirigiu à casa da avó.
“A sorte está lançada. Vamos ver onde me levará” – murmurou.
16 comentários:
A voz, normalmente os invisuais não esquecem a voz
Bom dia Elvira,
Decerto Isabel vai conseguir o lugar.
Um beijinhos e ótimo dia com saúde.
Ailime
Mais um excelente capitulo.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Bom dia e muita atenção ao Capitólio. Hoje vai-se o trump, entra o Biden e tudo pode acontecer. Ainda não ouvi o Biden referir-se à OMS e repor a situação pré-Trump e vejo isso como mais importante do que autorizar os muçulmanos a viajar para oa States.
Quer a gente goste ou não temos que ter os USA em conta!!!
Adorei e pouco a pouco a memória vai lembrando ...beijos, chica
Lançados os dados da sorte não sei omde levarão a Isabel, mas seguramente que a nós nos vão levar a uma história muito, muito, interessante.
Um abraço.
Sorte e Saúde, Elvira.
Estou a gostar do conto!:))
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Árvores despidas, no sombrio nascer do dia
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Beijo, e uma excelente tarde. :)
Hélder não viu a Isabel, mas pela voz reconheceu-a. Muito em breve, Se for admitida, ele descobre-lhe a careca!
Tenha uma boa tarde, com saúde, amiga Elvira. Um abraço.
Muito prometedor, o enredo. Aguardemos.
Um abraço, Elvira
Espertinha a Isabel!
Estou a gostar, Elvira, estou a gostar!!
Beijo, protejam-se.
Precisei reler de novo para melhor entender o enredo!!! 👏👏👏
Mentira costuma ter perna curta mas, vamos ver se Isabel tem sorte, até que a coisa se descubra.
Boa noite, Elvira
Li os dois capítulos, Elvira
E gostei do tamanho da confusão que pode dar essa mentirinha da menina_ mas está interessante.
Espero voltar em tempo mais real do próximo, estou curiosa.
beijinho, amiga, Fica bem, com saúde, ok?
Estou a sorrir porque a Noname já respondeu por mim... Está tudo a fluir muito bem, o encadeamento é natural e há uma sequência lógica até nos factos que acabam por nos surpreender.
Os contos da Elvira têm por hábito temas importantes "escondidos" no enredo, um já apanhei, estou a aguardar pelo que mais irá acontecer.
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