Desde os seis
anos de idade que José ansiava ter um porquinho-da-Índia, mas, de cada vez que
começava a falar do assunto, a mãe dizia imediatamente:
— Os
porquinhos-da-Índia cheiram mal.
Ou:
— O lugar dos
porquinho-da-Índia é no Parque Biológico.
Ou:
— Pobre bichinho,
numa casa tão pequena…
E coisas
semelhantes…
Nesse ano, José
tinha jurado a si mesmo que o seu desejo iria finalmente realizar-se.
— Apostas em como
recebo um porquinho-da-Índia pelo Natal? — disse ao seu amigo Tiago. — Vais
ver…
E arranjou um
plano.
Finalmente chegou
dezembro.
— Já só faltam 24
dias para o Natal — disse a mãe. — É altura de colocares à janela a tua carta
para o Pai Natal.
José assentiu,
mostrando uma expressão o mais inocente possível, e começou a tarefa.
“Querido Pai
Natal,” escreveu, “gostava muito, muito de ter um hipopótamo.”
Colocou
ordeiramente a carta do lado de fora da janela e esperou, com expectativa, o
que iria seguir-se. Logo na manhã seguinte constatou que o plano tinha
resultado. Ao abrir a janela bem cedo para ver se o bilhete fora levado,
encontrou algo muito estranho.
“Deves estar
maluco!” tinha alguém escrito a letras vermelhas fluorescentes num papel de
carta, que vinha assinado a vermelho com letras grandes “Pai Natal”.
“Ótimo!”, pensou
José. Guardou a carta e escreveu um novo bilhete. “E um crocodilo? Podia nadar
na banheira.”
Mais uma vez o
resultado foi excelente. Uma nova carta de Pai Natal saltou-lhe à vista na
manhã seguinte.
“Infelizmente não
fazemos envios de crocodilos,” vinha escrito, desta vez a letras verdes.
“Tanto melhor!”
pensou José. Pegou na carta e escreveu o novo pedido no bilhete: “Um casal de
cangurus”.
“Não trabalhamos
com marsupiais”, foi a resposta.
Dali para a
frente, foi tudo muito simples. José só teve de pensar em alguns animais
esquisitos e tudo decorreu sem problemas.
“Três preguiças”,
escreveu no dia seguinte.
“Que palermice”,
foi a resposta.
E continuou.
Durante doze dias esteve ocupado a escrever novos bilhetes e a recolher as
respostas do Pai Natal. A troca de bilhetes durou precisamente até à noite de
Natal. Todos os pedidos foram recusados deste modo:
Dia 12 de
dezembro pediu “ Um chimpanzé.” E a resposta que recebeu foi “E quem compra as
bananas?”; no dia 13 “ Um leão do Atlas.”, logo veio “Já ouviste falar de felinos
que comem humanos?”; no dia 14 “Então uma hiena malhada.”, com direito a “E
onde é que ela vai dormir?”; no dia 15 “Uma ovelha merino.”, para ler “Tu é que
me saíste uma boa ovelha…”; no dia 16 “ Um cachalote.”, de imediato ”Ficaste
doido?”; no dia 17 “Uma cobra piton.” e obteve “Animais rastejantes não são
bem-vindos…”; no dia 18 “Uma cabra doméstica.”, seguido de “O leite de cabra
tem um sabor horrível.”; no dia 19 “Peço então urgentemente uma
zebra-da-montanha.”, argumentado com “E onde é que há montanhas por cá?”; no
dia 20 “De certeza que um dromedário não se ia sentir mal aqui…”, negado
ironicamente “E, já agora, um camelo, não achas?”; no dia 21 “Tudo bem.
Decidi-me por uma girafa.”
No dia seguinte
aconteceu finalmente o que José há muito esperava. No parapeito da janela não
só estava a habitual resposta curta, como também uma carta séria, de quase meia
página, escrita à pressa com uma banal esferográfica azul.
Querido José, –
estava escrito – como podes ver no calendário, depois de amanhã é Natal. Até
agora não me fizeste um único pedido razoável e todos os animais que
mencionaste não cabem num apartamento. Venho pedir-te imediatamente que sejas
mais simples e te restrinjas a espécies animais mais pequenas.
Muitos
cumprimentos
O Pai Natal
José soube
imediatamente o que fazer. Centenas de vezes treinara em pensamentos a palavra
que escreveria agora. Pegou na folha mais limpa que encontrou e escreveu o seu
melhor bilhete desde há vinte e dois dias:
Querido Pai
Natal, – escreveu – por favor, desculpa ter sido tão impertinente. Reconheço
ter exigido muito de ti e juro portar-me melhor. Assim, peço somente um
minúsculo porquinho-da-índia, de preferência um como o do Tiago, branco com
pintas pretas. O Tiago diz que os porquinhos-da-Índia não dão trabalho nenhum.
Além do mais, eu acho-os tão queridos! Desde já, muito obrigado.
José, Rua do Vale
do Moinho, nº 7
No dia seguinte,
José foi à janela mais cedo do que nunca, porque, com a excitação, não
conseguia esperar mais. Será que, desta vez, o Pai Natal também lhe iria
responder? Mas o parapeito da janela estava vazio. Só viu alguns flocos de
neve, pois tinha começado a nevar.
— Então? —
perguntaram os pais quando foi tomar o pequeno almoço. — Já estás ansioso pelo
dia de amanhã?
— E de que
maneira! — respondeu José.
Com a excitação,
não conseguiu dizer mais.
Finalmente chegou
o grande dia.
24 de dezembro,
estava escrito no calendário por cima da cama.
José olhou
fixamente para a folha por um momento, pensando no seu porquinho-da-Índia.
Será que o Pai
Natal ia finalmente compreender o seu pedido?
E o momento
chegou.
A porta para a
sala foi aberta, e José viu algo que era mais bonito do que todas as bolas do
pinheirinho e as velas de Natal e bolachas e nozes juntas! Viu um minúsculo
porquinho-da-Índia preto, às pintinhas, dentro de uma caixa por baixo da árvore
de Natal. Farejava, curioso, o aroma do pinheiro, e era tão parecido com o
porquinho do Tiago!
— Esperemos que
não cheire mal — disse a mãe.
— Sempre é melhor
do que dromedários e girafas! — disse o pai.
Mas José não
ouvia o que diziam. Estava demasiado ocupado a pegar no seu porquinho-da-índia
e a agradecer ao Pai Natal — em pensamento, claro.
E sentia que o
Pai Natal sabia do truque que usara: um Pai Natal sabe tudo, ou não?
E o
porquinho-da-índia chiava baixinho…
Parecia mesmo que
estava a sorrir…
Roswitha Fröhlich
Sophie Härtling (org.)
24 Weihnachtsgeschichten zum Vorlesen
Frankfurt am Mein. Fischer
Schatzinser, 2001
(Tradução e
adaptação)
9 comentários:
Que amor! Lindo e doce conto! beijos,chica
Obrigada Elvira, pela partilha de mais um conto lindo!
Confesso que não li todos os contos que publicou. Talvez os leia em voz alta para a minha netinha Carolina, nos próximos dias.
Querida amiga, desejo-lhe um SANTO NATAL e um NOVO ANO com muita saúde, felicidade, paz e amor. Continue escrevendo. As suas palavras chegam ao coração de quem as lê. Ao meu, chegam todas!
Beijo.
Foi com muita dificuldade - cada vez vejo pior... - mas com um grande sorriso nos lábios que li este conto de Roswitha Fröhlich, amiga.
Para si e para todos os seus, um muito Feliz Natal!
Gran cuento, excelentemente adaptado, Elvira.
(Feliz Navidad, amiga, junto a toda tu familia).
Bom dia de quadra natalina, querida amiga Elvira!
O Menino Deus esteja presente em seu lar.
Conto muito bonitinho e alegre para o dia que se inicia.
Tenha dias lindos e abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
:-)
É difícil não sorrir com um conto de natal tão simpático e engraçado. DE facto, o natal é mesmo para as crianças…
Querida Elvira,
E o que eu hoje lhe conto é que lhe vim trazer o meu CARTÃO DE BOAS FESTAS 🎄
(por favor clicar no link)
Beijinhos Natalícios
(^^)
Se queres muito uma coisa deves insistir, insistir e nunca desistir.
Enviar um comentário