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29.10.15

FOLHA EM BRANCO - PARTE VIII


                                       Foto da net


Enquanto a jovem arrumava a cozinha, na sala, Miguel foi testando as telas e juntando as que já estavam secas, tentando libertar um pouco o espaço. Nunca se tinha preocupado com isso, pois nunca levava ninguém lá a casa, e ele próprio pouco parava por lá. Agora era diferente.
Tinha de sair. Esquecera de comprar roupa para a jovem dormir. 
Se ela quisesse sair, podiam ir às compras.
Minutos depois apareceu na cozinha.
- Quando acabar, podemos sair. Quem sabe se recorda de alguma coisa algum lugar.
- Não,- quase gritou a jovem. Depois mais calma acrescentou:
Se não se importa, eu prefiro ficar. Pelo menos hoje. Tenho medo do que posso encontrar. Por favor!
-Você é que sabe. Mas não pode encerrar-se num casulo e ficar a hibernar. Mais cedo ou mais tarde terá que enfrentar o seu medo, e procurar encontrar o seu passado.
- Eu sei. Mas como fazer isso se não lembro de nada.
- Pode encontrar alguém que a conheça. Que lhe diga quem é.
- E terei que viver segundo o que me dizem, sem saber se é verdade ou mentira? O senhor mesmo, disse que não me conhece e não sabe quem sou. Mas, eu estava sozinha consigo, quando acordei. Como fui lá parar? Quem me levou? E como é que o senhor não viu nada?
- O que lhe disse é verdade, mas parece-me que não confia em mim. A única coisa que posso acrescentar, talvez sirva para a pôr mais confusa ainda. Por isso não lho disse antes. Mas talvez o devesse ter feito. Você preparava-se para saltar da falésia. Eu impedi que o fizesse, desmaiou e quando acordou foi o que sabe. Não há mais nada que eu saiba, ou que esteja a esconder.
Ante a palidez da jovem, calou-se, ajudou-a a sentar-se e preparou-lhe um copo de água com açúcar.
-Eu… eu, ia matar-me? - Balbuciou incrédula.
- A menos que tivesse algum para-quedas escondido, brincou Miguel tentando desanuviar a tensão da revelação.
- Mas porquê? O que é que eu fiz de tão errado, para querer acabar com a vida?
- As vezes, não fazemos nada. A vida é alegria e dor, e às vezes a dor é tão grande que acaba com a própria existência. Um dia saberemos o que aconteceu, não se martirize mais.
 - O senhor é um anjo.
-Longe disso, menina, longe disso. E por favor, o meu nome é Miguel.
A jovem levantou para ele os olhos rasos de água, e murmurou
- Obrigado Miguel.





14 comentários:

chica disse...

Mais um detalhe para ela...Vamos aguardando.Agora parece que confiará mais em Miguel! bjs, chica

Unknown disse...

O fio da meada vai-se desatando.
Uma surpresa em cada texto.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Ele está parecendo um anjo da guarda...
Vamos aguardar.
Abraços, uma boa noite!
Mariangela

manuela barroso disse...

Mesmo ausente, venho a tempo de admirar o diálogo vivo que nos impele a querer saber mais e mais.
aprecio imenso sua narrativa, Elvira
Beijinho

esteban lob disse...

Seguimos muy entretenidos e interesados, estimada Elvira.

Abrazo.

Rogério G.V. Pereira disse...

A rapariga
deve-lhe a vida

o que já é um bom principio
para se ser anjo

Pedro Coimbra disse...

Só quando saírem à rua poderemos começar a perceber melhor todo o enredo.
Bfds

Bell disse...

Conquistamos confiança no dia a dia e no respeito

bjokas =)

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira
Nesse mundo em que vivemos, às vezes, raspa uma vontade de sumir.
Que história triste
Ontem eu já havia lido.
Beijos
Minicontista2

Ana disse...

Lá está...um trauma grave pode provocar amnésia temporária e para querer se suicidar, a coisa foi feia. Aguardo os próximos capítulos
Abraço

Laura Santos disse...

Muito importante ter-lhe revelado a tentativa de suicídio, pode ser que assim se venha a lembrar de alguma coisa...
xx

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
AQUI E GOSTANDO.
-http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Rosemildo Sales Furtado disse...

Não sei se é impressão minha ou existe uma diferença de sentimentos quando das duas exclamações: "O senhor é um anjo." e "Obrigado Miguel."

Abraços,

Furtado.

Socorro Melo disse...


Começa a se construir a confiança. Muito bom.


Abração, amiga

Socorro Melo