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1.7.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE XXXVII





Isabel acordou muito cedo na manhã seguinte. Saiu da cama com cuidado, para não acordar o marido, tomou banho vestiu-se e saiu do quarto fechando a porta suavemente. Eram sete horas, Matilde costumava acordar mais ou menos por aquela hora. Foi ao quarto da menina, mas esta, talvez cansada das emoções da véspera ainda dormia. Foi para a cozinha. Enquanto cortava duas fatias de pão para por na torradeira, pensava em como a sua vida tinha mudado desde que decidira aceitar a proposta de casamento do agora marido. Ricardo estava a ser um marido e um pai maravilhoso. Atento, preocupado com o bem-estar delas, carinhoso. Como amante era tudo o que uma mulher podia sonhar. Então porque é que ela não se sentia a mulher mais feliz do mundo? Porque é que quando estava sozinha como agora, sentia vontade de chorar?
No fundo do seu coração ela sabia porquê. Porque se apaixonara como uma tonta, por um homem que lhe disse várias vezes que não acreditava no amor. A culpa não era dele, nunca a enganou. Dissera-lhe que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para que o seu casamento desse certo, e para que a menina crescesse num ambiente de harmonia. Mas que não lhe pedisse amor, o seu coração estava seco para esse sentimento.   
E ela pensara que era o suficiente. Todavia agora, dava-se conta de como fora ingénua. O seu coração carente e virgem de afetos, entregara-se por completo ao marido e sangrava cada vez que ela calava o amor que sentia, para não lhe ouvir a resposta de que não conseguia retribuir-lhe.
Sacudiu a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos e dedicar a sua atenção à manteiga que espalhava na torrada, quando Matilde apareceu à porta da cozinha com o urso Tobias num braço e a boneca no outro.
Isabel poisou a faca no pires e baixou-se para acolher nos braços a menina.
-Bom dia, filha. Dormiste bem? – perguntou beijando-a.
- Sim. E o Bias e a boneca também. Mãe, ela não tem nome?
-Não. Mas nós vamos já tratar disso. Queres escolher o nome para ela enquanto preparo a tua papa? – perguntou sentando-a na sua cadeira, e prendendo-lhe o cinto.
Voltou-lhe as costas e pôs a aquecer a água para confecionar a papa, maravilhada com o desenvolvimento da menina, nos últimos meses. No final do verão, mal dava uns passinhos, agarrada às coisas, agora corria a casa toda. E a cada dia o seu vocabulário aumentava. Certo que fizera há dias, dezoito meses. E nestas idades o desenvolvimento é muito rápido, especialmente quando são muito estimuladas e Matilde era-o.
- Mãe… posso chamá-la “Suana”?
Estremeceu e quase deixou cair o prato com a papa que acabara de fazer e se preparava para por na mesa.
- Susana?
- Sim. Posso?
- Podes querida. A mãe só gostava de saber porque escolheste esse nome.
-  Quando vou ao paque com a vó Taia tá lá uma menina Suana e nós bincamos juntas”. Eu gosto da Suana”
-Está bem querida, então a boneca passa a ser Susana. Agora vamos comer a papa está bem?
- E o pai?
- Não acordou ainda.
- Eu não o afirmaria, - disse Ricardo sorrindo à entrada da cozinha.

22.7.17

SINFONIA DA MEMÓRIA - PARTE XII


O menino que conversava animado com a mãe, sobre as peripécias da festa de aniversário do seu amiguinho, calou-se quando entrou na sala, olhando espantado para o homem que ali se encontrava. A mãe, deu-lhe a mão e disse:
- Diogo, este é Fernando, um amigo da mãe, que veio passar uns dias connosco.
- Olá campeão, - disse ele ajoelhando para ficar à altura do menino e estendendo-lhe a mão. A tua mãe fala muito de ti, mas não pensei que fosses um menino tão bonito.
Sorrindo o garoto estendeu a mão, mas depois como quem muda de ideia, estendeu os braços para o pescoço do homem e deu-lhe dois beijos. Surpreso Fernando retribuiu o abraço tentando esconder a emoção, sem saber se sempre tinha sido assim sensível, ou se isso se devia ao acidente.
- Vamos filho, deixa o Fernando sossegado, está quase na hora de jantar, e tens que tomar banho.
-Jantar? Eu não tenho fome, mamã.


- Calculo. Mas pelo menos tens de comer uma sopa. Anda, vamos tomar banho.
Os dois afastaram-se, deixando Fernando inquieto. Aquilo não podia estar a acontecer, era demasiado surrealista, decerto era um pesadelo do qual acordaria em algum momento. Tentou embrenhar-se na leitura, mas não conseguiu. Desde que recuperara a consciência, não lhe saía da cabeça a mesma pergunta. Quem raio era ele, e como fora aparecer numa estrada deserta, meio morto? A polícia dissera que não foi encontrado nas redondezas, nenhum automóvel acidentado. Teria ido a pé, e alguém o atropelara? Mas para onde ia a pé, se a polícia dissera que do local onde fora encontrado, até à cidade iam dez quilómetros? Por outro lado, também lhe disseram que as suas roupas embora meio despedaçadas, eram roupas caras. As suas mãos também não eram mãos de trabalhador. Então onde estava o carro? E porque ninguém avisava a polícia do seu desaparecimento?Será que ele era sozinho no mundo? Eram demasiadas perguntas sem resposta.
O menino voltou para a sala, de pijama e robe, e a mãe avisou que ia apenas aquecer a comida para jantarem. Ele pousou o livro e dando a mão ao menino, disse.
-Vamos ajudar a mãe, campeão?
- A mamã não me deixa ajudar, desde que uma vez quebrei um prato, -
lastimou-se a criança.