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31.12.22
PORQUE HOJE É SÁBADO
30.12.22
FELIZ ANO NOVO
Infelizmente para todos nós, os últimos anos têm-se sucedido com a rapidez de um raio trazendo consigo, as guerras, as lutas pelo poder, as doenças, as tragédias climáticas e humanas que todos conhecemos.
Mas cada vez que um ano chega ao fim, os nossos corações enchem-se de esperança, de que o próximo seja melhor, não só para nós, mas também para toda a humanidade. Sonhamos com um mundo, onde a Paz substitua a Guerra, o Amor tome o lugar do Ódio, a Saúde prevaleça sobre todos os vírus, para toda a humanidade, a par dos nossos sonhos mais pessoais, um novo emprego, aquela viagem de sonho que adiamos há anos, os filhos, ou os netos que irão alargar a família e encher de alegria os nossos corações.
E porque a esperança é a última a morrer, agora que este ano chega ao fim, eu desejo para cada um de vós, que 2023 seja aquele ano mágico, com que sempre têm sonhado.
Aproveito para agradecer a todos a paciência e o carinho que me têm dedicado neste que tem sido um ano muito difícil a nível de saúde, não apenas meu, mas daqueles que trago no coração.
Bem Hajam!
29.12.22
CONTOS DE NATAL - O PRESÉPIO
Havia quase um ano que estava na loja, mercearia num bairro escuro, em que mal entrava de esguelha, como espreitando a medo, um raio de sol, entre as casarias muito altas da rua tortuosa. Com doze anos, que saudades tinha da aldeia, da família, dos antigos companheiros de escola, dos cães amigos que ladravam de noite a vigiar a casa!
Lembrou-se de fazer muito misteriosamente um presépio. O segredo em que havia de trabalhar mais o animava na tarefa. Todos os dias, muito a medo, enquanto o patrão almoçava ou saía da loja algum instante, vinha à porta, se não havia freguês a servir, espreitava, corria, apanhava um nadinha de barro nas escavações do cano. Escondia-o, e debaixo do balcão, quase às apalpadelas, ia fazendo as figurinhas. Assim modelou o menino Jesus, que deitou num berço de caixa de fósforos, Nossa Senhora de mãos postas, São José de grandes barbas, os três Reis Magos a cavalo, e os pastores, um a tocar gaita de foles, outro com um cordeirinho às costas, e uma mulher com uma bilha. Não se pareceriam lá muito; mas ele deu provas de que sabia puxar pela imaginação. Sempre lhe faltava alguma coisa. Havia problemas difíceis de resolver.
Aos anjos fez asas com as penas de uma galinha que depenou para um jantar de festa que não comeu. Moeu vidro para fingir as águas do rio, e no papel de embrulho recortou um moinho que só havia de armar à última hora. Levou nisso parte de Novembro e Dezembro todo, até ao Natal. Escondia os materiais debaixo da enxerga e, de vez em quando, revia-se na obra.
Andava nessas campinas,
Esta noite, um querubim.
Tão enlevado cantava, que nem ouviu o patrão abrir a porta, entrar na loja, chegar ao desvão. Acordou-o do êxtase um pontapé. — Isso... Agora larga-me fogo à escada!... Varre-me já esse lixo! E ele, a chorar, levantou-se, foi buscar a vassoura. O bruto continuava aos pontapés. — Vá?... Vá! Mas quando se deitou, encontrou na enxerga uma figurinha. Apalpou-a, conheceu-a logo: era a do Menino Jesus. Beijou-a muito. Pior vida levara do que ele... Sentiu de repente um dó muito grande do patrão, que não vira nada, nem que era tão bonito aquele Menino, com um olhar tão meigo nos seus olhinhos picados.
D. João da Câmara.
Contos tradicionais Portugueses
28.12.22
CONTOS DE NATAL - UM NATAL CHEIO DE TERNURA
Centenas de patinhas de veludo atiraram-se ao trabalho: os ursinhos treparam a telhados, varandas, caleiras, chaminés, goteiras e correram para dentro das casas. Em seguida, aspiraram o ar com os seus delicados focinhos e foram direitos aos presentes que se encontravam debaixo dos pinheiros.
Decidiram vestir os casacos e pôr-se a caminho.
Un Noël de tendresse
Zurich, Editions Nord-Sud, 2000
(Tradução e adaptação
27.12.22
POESIA ÀS TERÇAS - JOÃO COELHO DOS SANTOS - NATAL DE QUEM?
NATAL DE QUEM?
Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do perú, das rabanadas.
-- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!
- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive teto nem afeto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!
João Coelho dos Santos
in Lágrima do Mar - 1996
26.12.22
CONTOS DE NATAL - O NATAL DAQUEL ANO
O Francisco frequentava o terceiro ano de escolaridade
25.12.22
PORQUE HOJE É DIA DE NATAL
24.12.22
23.12.22
UM NATAL DE OUTROS TEMPOS
Um Natal de outros tempos
Era
o primeiro Natal que Clara passava na casa da avó depois que se formara. Em
criança, vivera ali muitos anos. Na verdade, depois que o seu pai morrera,
quando ela tinha apenas oito anos, fora a avó Emília quem cuidara dela, uma vez
que a mãe tinha poucos instintos maternais e pouco se preocupava com ela. Assim Clara vivera com a avó até entrar na
Universidade. E depois que terminara o Curso de Direito, resolvera estabelecer-se
na vila, a dez minutos da aldeia e da casa da avó
Os
dias antes do Natal eram de grande azáfama na aldeia. A terra estava em festa, pois as famílias
estavam todas reunidas. Todas as casas tinham alguém de fora. Era um marido que
chegara da França, um irmão que vinha do Canadá, uns sobrinhos da Alemanha.
Nunca, nem mesmo em agosto, havia tantos emigrantes na aldeia. Até na Casa
Grande, como toda a gente chamava a casa da sua avó, havia gente nova
Clara
pensou com tristeza que gostaria de que essa gente fosse a sua mãe, mas não. A
mãe ficara na sua casa com atual marido, a preparar a viagem a Paris que ele lhe
oferecera de prenda de anos, dois dias atrás.
A avó tinha dois empregados, António o
caseiro, e Arminda a mulher que era simultaneamente a empregada e a melhor
amiga da avó.
E
as visitas em casa da avó, eram o Carlos e a mulher que vinham mostrar o seu
rebento aos avós. O Carlos era o único filho do António e da Arminda, que
estava emigrado em França e que há dois anos não vinha à terra.
A avó tinha o hábito, de fazer a Ceia de Natal
com os empregados, como se todos formassem uma só família. Tinha sido um hábito
instituído pelo seu falecido marido, há mais de quarenta anos. E quando ele
morreu a viúva manteve a tradição.
Clara
adorava a avó, e achava muito interessante a maneira como ela vivia o Natal.
Uma das coisas que para a avó era sagrada, era deixar a mesa posta, com as
rabanadas, o arroz-doce, as broas, o bolo-rei, enfim todos os doces
tradicionais do Natal, toda a Santa Noite. Dizia a avó, que na noite de Natal,
os espíritos tinham autorização para visitarem os seus familiares que ainda
estavam na terra. Por isso a mesa ficava posta para os receber.
Depois da ceia foram todos à Missa do Galo. Clara
nunca tinha visto a pequena igreja tão cheia. A um canto os meninos do coro, todos
vestidos de branco, entoavam lindos cânticos. Na homilia, o Padre Miguel,
lembrou a história do nascimento de Jesus, chamando a atenção para o bonito
presépio montado num dos lados do altar, e regozijou-se com a presença dos
emigrantes presentes.
No
adro da igreja, ardia um enorme madeiro, junto da qual estavam vários homens a
conversar. Para eles a Missa tinha sido um pretexto para conviverem, enquanto
as mulheres lá dentro oravam ao Criador.
O
dia de Natal, começou com a missa matinal, no fim da qual, cumpriu-se o ritual
do beijo ao Menino Jesus, que o Padre Miguel retirou do presépio e passou entre
os presentes.
Terminada
a cerimónia, Clara e a avó, Carlos e os pais, regressaram a casa, onde a sua mulher
ficara com o bebé.
Depois
do almoço em família, cansada a avó foi deitar-se um pouco, enquanto Clara
ajudava a arrumar a cozinha e António e o filho saíam até ao único café da
aldeia.
Mais
tarde, regressaram enregelados e juntaram-se às mulheres na sala, onde a lareira
acesa fazia esquecer o frio que se fazia na rua.
22.12.22
CONTOS DE NATAL - UM CONTO DE DOIS NATAIS
UM CONTO DE DOIS NATAIS
E
o Grinch cismou como é que aquilo podia ser?
Viera sem fitas. Viera sem rótulos. Viera sem embalagens, caixas ou
sacos.
Cismou tanto que a sua máquina de cismar ficou cansada.
Então, o Grinch pensou em algo que nunca tinha pensado antes.
E se o Natal não viesse de uma loja.
E se o Natal significasse um pouco mais…
Dr.
Seuss
Tenho
muitas memórias felizes do Natal de quando era criança, mas há duas em
particular que se destacam das outras. A primeira ocorreu quando eu estava no
sexto ano; a segunda, um ano mais tarde.
Depois
de termos ido para a cama na véspera de Natal, o meu pai alinhou cinco cadeiras
da cozinha na sala, uma para cada um dos filhos. De cabides de roupa fez
ganchos e pendurou-os nas costas de cada cadeira; em cada um, pendurou as
grandes meias de Natal vermelhas e verdes que a minha mãe tinha tricotado para
cada um de nós. Os presentes demasiado grandes para caber nas meias foram
colocados em cima ou por baixo das cadeiras.
Nessa manhã de
Natal em particular, os meus pais estavam sentados no sofá, numa das
extremidades da sala de estar, a ver-nos arrancar os embrulhos. Gritos
entusiasmados de “Vejam o que eu recebi!” juntavam-se à balbúrdia que fazíamos,
enquanto brincávamos com cada brinquedo por breves momentos, antes de o largar
e atacar outro presente. Não me lembro dos presentes que recebi, mas não foram
eles que tornaram aquele Natal memorável.
Tínhamos
acabado de abrir o último presente quando o John, o meu irmão mais novo, e eu,
olhámos por acaso para os nossos pais, que estavam ainda sentados no sofá. As
caras de ambos estavam iluminadas por sorrisos radiantes.
— Mãe e Pai, porque estão a
sorrir? — perguntou, confuso, o meu irmão. — Vocês não receberam nada.
Na
altura, não dei muita atenção à pergunta do meu irmão ou às reações dos meus
pais. Afinal de contas, eu tinha recebido o que queria. Tudo estava bem no
mundo, e eu esperava que os futuros Natais — por causa dos presentes que iria
receber — me trouxessem ainda mais alegrias.
A
quadra festiva seguinte começou como todas as outras. Os meus amigos e eu
recordávamos uns aos outros, diariamente, quanto tempo ainda faltava para o
Natal. As semanas transformaram-se em dias, até que por fim chegou a véspera de
Natal. Era o dia antes do “Grande Dia.” Nessa noite, fui para a cama empolgado
como nunca. O pensamento de todas as preciosidades que iria receber em breve
enchia-me totalmente a cabeça. No entanto, lá consegui forçar-me a dormir.
Por
fim, chegou a manhã de Natal. Sendo o mais velho, senti que era minha obrigação
solene liderar a correria até aos presentes — e assim fiz. O rasgar dos papéis
era pontuado pelos habituais guinchos excitados de felicidade e os gritos de
“Vejam o que eu tive!”, enquanto os meus irmãos e irmãs exibiam com algazarra
os seus presentes novos acabadinhos de abrir.
Estava eu a rasgar o embrulho do meu segundo presente,
quando senti que algo estava errado. Fiz uma pausa e dei-me conta de que a
minha excitação febril da noite passada tinha desaparecido. Afinal de contas, o
primeiro presente tinha sido a habitual lata de amendoins dada pelo meu pai.
Talvez o presente que estava a abrir agora trouxesse de volta o meu entusiasmo.
Encorajado por esse pensamento, acabei de abrir o
embrulho. Lá dentro estava um foguetão de plástico. Podia-se encher
parcialmente com água, pressurizar com a bomba de plástico já incluída, depois
lançá-lo ao ar a cerca de 9 metros. O John, o meu irmão mais novo, estava
praticamente a salivar de inveja, mas eu nem sequer queria aquilo…
Um terceiro e último presente provou ser igualmente
desinteressante. Aborrecido, peguei nos meus brinquedos e levei-os para a mesa
da sala de jantar.
Os meus pais aperceberam-se do meu olhar cabisbaixo.
— Terry — disse o meu pai — falta-te ver um presente. Está debaixo
da tua cadeira.
Sem qualquer entusiasmo, abri uma caixinha branca,
quadrada, de cerca de cinco centímetros. Dentro estava um relógio de bolso da
marca Westclox. Embora nunca tivesse tido um relógio antes, continuei muito
desapontado.
Estava a tentar aceitar este vazio inexplicável quando, de
repente, me lembrei da pergunta que o meu irmão tinha feito aos meus pais no
Natal anterior: “Porque é que estão a sorrir? Vocês não receberam nada.”
Então algo aconteceu dentro de mim. Olhei de relance
os meus pais, que continuavam sentados no sofá. O mesmo sorriso radioso de
antes mantinha-se nas suas caras. Talvez eles soubessem algo que eu
desconhecia. Caminhei até ao sofá e sentei-me ao lado deles.
E observei.
Naquele momento, um tipo diferente de Natal começou
para mim. Dei por mim a sorrir pelo encanto que um dos meus irmãos ou uma das
minhas irmãs mostravam ao abrir um presente. Senti-me particularmente
satisfeito quando uma pequena prenda que eu tinha comprado para um deles era
mais apreciada do que efetivamente merecia. Senti orgulho quando um deles se
aproximou a pedir-me ajuda para montar um brinquedo ou um jogo.
Naquele ano, tal como o Grinch do Dr. Seuss, descobri
que o Natal nem sempre vem dentro de uma caixa. Naquele ano, o Natal chegou
para mim através dos olhos brilhantes e dos sorrisos felizes dos meus irmãos e
irmãs mais novos. A minha única pena era que eles não pudessem ver o que eu
estava a ver da minha posição no sofá.
Eles nem imaginavam o espetáculo que estavam a perder!
Terry Tippets
Fonte A