Estavam no cemitério. Fernando caminhava atrás de uma carrinha funerária. Ele e meia dúzia de pessoas. Um homem pouco mais velho do que ele, e dois outros bem mais velhos. E três mulheres. Todas idosas. Percebeu que uma delas seria a mãe do outro homem. As duas restantes, as esposas dos outros dois. Ele estava sozinho. Atrás deles algumas pessoas importantes.
Ele conhecia alguns. O doutor, o presidente da junta de freguesia, o dono do talho. Sentia-se triste, como sempre que entrava num cemitério. Embora naquela altura não soubesse o que fazia ali. Perguntou-se quem seria o defunto, mas não encontrou resposta para a sua própria pergunta. O carro funerário parou. Ao lado havia uma cova. Dois homens estavam ao lado dela com duas pás. Outros dois seguravam em cordas. A urna foi retirada da carrinha e colocada sobre uma banca ao lado da cova. Um padre aproximou-se e encomendou a Deus a alma do defunto.
Depois o homem da funerária abriu a urna, para uma última despedida. O choro das velhas aumentou. Ele ia aproximar-se, para ver quem estava lá, mas o outro homem empurrou-o, e fechou a urna.
Nesse momento alguém gritou.
-Mamã... mamã…
Era uma voz de criança e chorava. Acordou em sobressalto. Saltou da cama e saiu disparado em direção ao quarto de Diogo, quase chocando com a mulher que acudia aflita ao grito do filho.
Encontraram o menino, sentado na cama com o rosto banhado em lágrimas.
-Pronto, filho a mamã está aqui. Foi só um sonho, meu amor, não tenhas medo, -dizia Helena abraçando-o e beijando-o para o acalmar.
Fernando sentou-se na cama, e passou a mão pela cabeça do menino.
- Então Campeão, o que é isso? Um menino tão corajoso como tu, tem medo de quê?
-Não tenho medo, tio Fernando, -disse o menino empertigando-se.
- Bem me queria parecer, Diogo. Mas sabes uma coisa? É noite, e de noite as pessoas dormem. E os meninos que não têm medo, também. Vamos dormir?
A criança subitamente calma, deitou-se e Fernando aconchegou-lhe a roupa, e deu-lhe um beijo na testa, perante o espanto da mãe.
11 comentários:
Isto está cada vez mais intrincado.
Boa noite, Elvira
Quem seria o defunto? E qual a ligação entre o pesadelo do menino e o sonho de Fernando?
Ai, que ainda vamos ter a Elvira a escrever histórias paranormais que, se o Tarantino ou James Wan descobrem, ainda as vão querer adaptar ao cinema.
Estou a gostar disto!
Boa noite, Elvira.
Ai, ai, ai, ai...mas que complicação, Elvira!!! De facto, não sei nada desta história, como no inicio imaginava. Há muitos anos que sigo o teu blog e só encontro uma explicação para não ter conhecido este conto. Ia ao Brasil muitas vezes e na casa dos meus pais n havia internet e só pode ter sido essa a razão. Ficava lá sempre um mês ou mais e , claro, só quando ia a casa do meu irmão tinha oportunidade de dar um passeio pelos blogs. Elvira, eu já sou " velha " aqui nesta casa..., pelo menos há uns dez anos, não? Bem...agora o que importa é a vida deste Fernando!!! Vamos lá ver o que nos reservas. Beijinhos e SAÚDE!
Emilia
Sempre ouvi dizer "quem meus filhos beija minha boca adoça"...
Boa semana
A vida é mesmo assim. Morte e vida muitas vezes a rondar.
Gostei da ternura para que o menino adormecesse.
Um beijinho, Elvira, e um dia muito bom.
As memórias vão voltando aos poucos, já não falta muito para saber quem é.
Boa semana!
Mais um excelente capitulo, gostei.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Gostei, mas achei triste!:)
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Silêncios do tempo...
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Beijos, e uma excelente semana!
Boa noite Elvira,
Gostei deste belo capítulo, com muita criatividade e imaginação.
Será que este sonho vai ajudar Fernando a saber quem é?
Beijinhos e boa semana.
Ailime
Gostando e aguardando os próximos acontecimentos.
Abraços,
Furtado
Depois do pesadelo o carinho...
Muito belo!
Bjs.
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