Testamento
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os…
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!… Não foi de jeito…
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde…
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
( Manuel Bandeira – 29 de janeiro de 1943)
(Poesia extraída do livro “Antologia Poética – Manuel Bandeira”, Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001, pág. 126.)
6 comentários:
Bom dia Elvira.
Gosto poetizar de Bandeira e você partilhou uma bela escolha.
Uma semana abençoada amiga.
Carinhoso abraço.
Não conhecia e adorei, fiquei fã.
Gostei e não conhecia.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Bonito e tão reflexivo poema, gostei de ler neste início de terça-feira.
Meu abraço p ti, Elvira...
Boa tarde Elvira,
Excelente poema.
Gostei imenso.
Um beijinho e saúde.
Ailime
Há muito que li esse poema, Elvira, não lembrava dele! Que maravilha, Testamento!
É o que acontece, a gente lê algo tão íntimo e dá para sentir a dor do poeta. Uma linda escolha, querida amiga. Uma ótima partilha.
Uma feliz continuação de semana, beijinhos.
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