- Queres dizer que meu pai perdeu a memória e por isso não
sabia da minha existência? - perguntou Matilde depois da longa explicação da
mãe. Mas porque não lho disseste tu?
Mãe e filha encontravam-se no quarto da última. Helena
acabara de fazer um resumo do que Gonçalo lhe contara, mas Matilde era uma
menina muito inteligente e um tanto precoce. Seria muito diferente se fosse uma
criança de tenra idade a quem ele se limitaria a dar uma explicação mais ou
menos romanceada para explicar a ausência paterna.
- Como acabei de te dizer, nós apaixonámo-nos nas férias.
Nem um nem outro estávamos na nossa terra, e o nosso contacto era o telemóvel
que se perdeu no acidente. Eu só sabia que o teu pai vivia em Braga e estava na
Universidade no Porto. Não tinha como encontra-lo depois dele não responder às
minhas mensagens. Na verdade, nunca mais soube nada dele até há poucos dias.
Nem sequer sabia se tinha casado, se tinha outra família.
- E casou? Tem outros filhos?
-Não. Segundo sei, um
dos amigos com quem estava de férias no Algarve quando nos conhecemos, um dia
perguntou-lhe por mim e estranhando que estando tão apaixonados eu não tivesse
ido vê-lo. Desde aí ele nunca mais deixou de pensar em mim, e por isso nunca
casou.
- E agora, recuperou a memória? E é um homem normal ou está
tontinho?
- À parte o não recordar aquela parte da sua vida, antes do
acidente, não tem nada de tontinho, é até muito inteligente.
-Bom, e agora que já o encontraste, vais-me dizer quem é? E
falar-lhe de mim? Quando vou conhecê-lo?
-Na verdade, já o conheces, filha. Lembras—te do doutor
Gonçalo, aquele médico que te deu o livro? É o teu pai.
- O quê? Não pode ser!
- Porque dizes isso? - perguntou Helena assombrada.
- Mãe, ele é moreno, tem olhos escuros, eu sou loira e
tenho olhos azuis. Não me pareço nada com ele. Como não me pareço contigo, tinha
que ser parecida com ele e não sou.
- O Gonçalo parece-se com o pai. Tu pareceste com a sua
mãe, e a sua irmã. Os filhos nem sempre se parecem com os pais. Às vezes vão
buscar parecenças aos avós e até aos bisavós. Na verdade, foi por tu seres
parecidíssima com a tua tia, que ele soube que nos encontrara.
-E agora, mãe? Como vai ser a nossa vida daqui para a
frente? Ele já sabe que eu existo, mas vai querer ser meu pai? Ou vai aparecer
uma ou duas vezes por ano e fingir que eu não existo no resto do ano? Porque se
assim for, eu vivo bem sem ele.
-Não Matilde, o teu pai não é assim. Ele que ver-te,
levar-te para conheceres a sua família, ser teu pai a sério. Ele até quer casar
comigo.
-É claro que quer casar contigo. De outro modo nunca seria
meu pai a sério, pois nunca seríamos uma família com os avós, ou o tio Sérgio.
-Não é bem assim, Matilde. Nem todos os pais vivem juntos.
Decerto tens colegas com pais divorciados – disse Helena sentindo uma angústia
enorme.
- Claro, como a Sónia. Mas a mãe dela voltou a casar e o
pai também. Tem agora duas famílias e até mais irmãos. Tu e o Gonçalo estão
sozinhos. Se ele quer casar o que te impede de o fazer? Não gostavas dele antes
de eu nascer? Ele teve culpa de ter
perdido a memória? Então porque não queres casar? – perguntou obstinada.
13 comentários:
Faço minhas as palavras da Matilde, se bem que a Lena ainda não se tenha pronunciado, que eu saiba.
Boa noite, Elvira.
Um abraço
É muito gostoso ler os seus
textos, querida Elvira. A forma
de engendrar os seus contos me
fazem invejoso. Gosto de tudo
o que faz nesse blog.
Um beijo e boa noite.
As perguntas dos mais novos são MUITO complicadas
Oi, Elvira!!
As crianças sempre acham saídas simples para tudo!! :) Veremos se há algum impedimento para ficarem juntos.
Beijus no coração!!
A passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Maravilha, Elvira. É emocionante este capítulo!!!
Acredito que haverá casamento... e os 3 viverão felizes para sempre.
Beijo.
Os miúdos, em todas as épocas, só pensam neles. :-)
Bom dia, Elvira
Mais um belo episodio! :))
Desejo que se encontre bem de saúde! 🌹
-
Sãos teus olhos o mistério escondido
-
Beijos, e um excelente dia ;)
Na torcida pra esse casamento e todos juntos ao final, mas tenho receios ainda que a autora invente algum detalhe,rs...beijos, chica
Oh, diabo! A piquena é exigente! E decidida. Para ela é tudo pão pão, queijo queijo!
Boa noite Elvira,
A Matilde é mesmo precoce e quase que coloca a mãe entre a espada e a parede.
Mas decerto que vai correr tudo bem.
Beijinhos e noite bem descansada.
Ailime
E as coisas caminham como eu gostaria...um final feliz. Estamos a viver momentos conturbados e já basta o que o médico sofreu até aqui, não só pelo acidente, mas também pelo tanto que tem trabalhado nestes tempos de pandemia ( n é medico? Então...) beijos, Elvira e que o problema dos teus olhos esteja a ser resolvido.
Emilia
A Matilde sabe o que quer, será que a mãe também sabe ?
Um beijinho e muita saúde Elvira.
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