Gonçalo encontrava-se sentado no sofá da sua sala. A
Televisão estava desligada, a garrafa de cerveja, estava quase cheia. Já
“morta” pois a Primavera já fazia lembrar o Verão e há mais de três horas que a
abrira. Desde que chegou a casa, apenas
tomou banho, enfiou uns bóxeres, pegou numa garrafa de cerveja e sentou-se ali
a pensar nos acontecimentos daquele dia. Ainda não acreditava que fora capaz de
ir ter com aquela mulher e assim sem mais nem menos dizer-lhe que queria falar
com ela.
A mulher devia ter pensado que estava doido. E será que não
estava mesmo a enlouquecer? A infrutífera busca de uma lembrança, durante aqueles
quase catorze anos, não estariam mesmo a dar com ele em doido? Ele não a conhecia. Então porque o seu
coração disparava quando ela estava perto? E porque é que a filha dela, se
parecia com a sua irmã como duas gotas de água? Se a sua sobrinha Sara, não
fosse tão parecida com o pai, ele poderia pensar numa troca de crianças na
maternidade, mas assim nem essa hipótese era plausível
“Esquece as semelhanças da criança com a Laura, Gonçalo –
dizia-lhe a voz da razão. – Estás farto de saber que há pessoas parecidíssimas
sem que tenham qualquer vínculo familiar. Nunca ouviste falar em sósias?”
Passou a mão pela testa.. É claro que ele sabia que havia
pessoas muito parecidas, e até já vira em revistas e televisão sósias de alguns
atores famosos.
Mas não era só isso. Ele viu surpresa e medo no olhar
daquela mulher, quando tropeçou nele à porta da escola, antes de fugir a
correr. E se não se conheciam não havia razão para essa reação.
Em desespero, apertou a cabeça entre as mãos. E nesse
momento o telemóvel tocou. Olhou o ecrã. Fernando Novais. Atendeu.
- Estou…
- Gonçalo, estás de serviço, ou em casa?
- Porquê?
- Lembras-te do Ernesto Vieira, aquele gajo, da Guarda que terminou
o curso connosco?
- Lembro-me.
-Encontrei-o hoje por acaso. O tipo está há seis anos num
hospital em Londres. Casou com uma inglesa, e foi pai o mês passado. Veio
apresentar o bebé aos avós. Perguntou
por ti e pelo Paulo Antunes. Pediu para vos dizer que gostaria de se encontrar
connosco amanhã à noite, para beber uns copos e matar saudades. Estás
disponível?
- Estou, embora para te ser sincero, não ande muito
animado.
- Que se passa, pá? Alguma coisa com a tua irmã?
Notou a ansiedade na voz do amigo.
-Não.
- Ouve lá, precisas de ajuda? Queres que vá até aí? Não
tenho nada combinado para esta noite.
Fernando era psiquiatra e um bom amigo. O único aliás que
conhecia o seu problema.
- O quê, não tens um programa para hoje? A uma Sexta-feira?
Estás a ficar velho, amigo.
- Vai-te lixar, Gonçalo. Precisas ou não de um amigo?
- Acho que preciso mais de um psiquiatra, - respondeu quase
num murmúrio
- Quinze minutos e
estou aí – disse desligando.
Gonçalo, pousou o telemóvel, foi ao quarto, enfiou umas
velhas calças de ganga e uma T-shirt. Sentiu fome. Afinal não jantara. Mas o
Fernando devia estar a chegar. O bom do Fernando, filho único de um casal
vizinho e amigo dos seus pais.
Os dois eram amigos e companheiros de brincadeiras desde a
mais tenra idade. Apaixonara-se pela sua irmã desde a primeira vez que a viu,
era ela apenas um bebé de dois dias de idade. Podia ser um amor fraternal, e
provavelmente fora-o, pela menina que punha de lado as bonecas e andava sempre
atrás dos dois querendo participar nas brincadeiras deles. Mas à medida que os
anos se passavam, esse amor transformou-se numa paixão que ele nunca confessou,
primeiro porque Laura era muito jovem e ele tinha receio de a assustar com o
seu amor. Resolvera esperar e, entretanto, a irmã conhecera Joaquim e todos os
outros homens deixaram de existir para ela.
Gonçalo suspeitava de que o amigo continuava apaixonado
pela sua irmã. A campainha da porta tocou e ele apressou-se a ir abrir.
14 comentários:
Apesar de se terem reencontrado, Gonçalo e Lena continuam desencontrados.
Ele porque a não reconheceu completamente e ela porque pensa ter sido esquecida. Raio de vida!
Um abraço.
Estou a pôr fé nesse encontro de amigos, quem sabe saem dali novidades.
Boa noite, Elvira
Amores impossíveis cruzados?
Boa semana
Muito legal ,mas nós continuamos a acompanhar e torcer pelo entendimentos deles. beijos, chica
Quem será que está a tocar?
Gosto deste suspense.
Um abraço, Elvira, e um dia com boas histórias.
Mais um belo capitulo.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Muito bem. Vamos ver quem vem por aí?! :))
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Não desejo se a deusa do teu mar...
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Uma excelente semana
Beijos
Gostei deste capítulo. Com a ajuda do psiquiatra a coisa, agora, vai dar um salto em frente.
Boa semana!
É agora que o Gonçalo vai recuperar memórias.
Elvira, esta história é brilhante!
Beijo, boa semana, muita saúde.
Boa noite Elvira,
Não deve ser fácil o dilema com que se defronta Gonçalo!
Aguardemos os próximos capítulos!
Um beijinho e uma bom semana, com saúde.
Ailime
O telefonema do amigo Fernando, terá interrompidos os seus pensamentos. Resta agora esperar pelo próximo capitulo, para saber o que terá acontecido e o que mais a seguir irá acontecer.
Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.
E nada dos dois se reencontrarem ... a Elvira está criando um suspense formidável, rs como sabe bem !
Adorando!
abraço e boa semana
Temos aqui o amigo e o profissional ideal para ajudar a despoletar a lembrança de quase 14 anos?
Aguardemos...
Boa semana c saude.
Acho que a visita do seu amigo Fernando vai ajudar o Gonçalo, a colocar a "cabeça no lugar". E o encontro com o Ernesto, também , vamos ver :)
Um abraço, Elvira!
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