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18.6.21

COMEÇAR DE NOVO - PARTE XXI

 




Helena chegou ao hospital às treze horas. Dirigiu-se ao quarto andar, piso para onde a filha fora levada depois da cirurgia. Tinha falado com a filha pelo telemóvel, mas Matilde não lhe soubera dizer se tinha ou não alta nesse dia. De qualquer modo ela tinha uma muda de roupa no carro pronta para o caso da filha ter alta.

Entrou no quarto, no momento em que a auxiliar deixava o tabuleiro com o almoço, em cima da mesa. Era uma estrutura metálica em forma de S  com rodas, e uma base de madeira em cima,
que servia para os doentes que não se podiam levantar comer confortavelmente na cama. Aproximou-se da cama e depois de beijar a filha perguntou:

-Bom dia! Como está a minha princesa? Tens dores?

-Não. Mas estou ansiosa para ir para casa. Isto não vai impedir-nos de irmos para a aldeia, pois não?

-Penso que não, filha, todavia não sei quais são as recomendações médicas. – disse ajeitando a almofada atrás da menina, ante, de empurrar o carro-mesa com o almoço para frente dela. E acrescentou:

-- Tens que almoçar antes que fique frio. A avó telefonou ontem. Estranhou que não fosses ao telefone como é habitual. Não quis preocupá-la e disse que tinhas ido ficar em casa da Rita. E que hoje falavas com ela. É melhor não lhe dizer que foste operada até que ela veja com os seus próprios olhos que estás bem. Ainda não sei se tens alta hoje. O médico já veio ver-te?

- Ainda não eram onze horas veio o doutor Gonçalo. Trouxe-me um livro, - disse apontando para a gaveta da mesa de cabeceira ao lado da cama. – É muito simpático. Além de perguntar como me sentia, conversou comigo, sem aquela forma irritante de superioridade que os adultos têm e que parece gritar que não passamos de crianças, que não sabemos nada da vida e que eles é que sabem tudo. Como se eles nunca tivessem sido crianças, algum dia. Gostei muito dele, mas quando lhe perguntei se ia para casa hoje, disse que era o doutor Nuno que sabia, e que ainda não tinha falado com ele.

Enquanto a filha falava, Helena abriu a gaveta e viu o livro. Tratava—se de “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry, um livro que ela lera há muitos anos e que ainda hoje ao recordá-lo se deixava encantar.

- É um livro muito bom, vais adorar lê-lo, - disse devolvendo—o à gaveta. - E então, o doutor Nuno já veio?

-- Há uma meia hora atrás. A enfermeira removeu o penso, ele olhou, perguntou se tinha dores, eu disse que não e ele disse à enfermeira para retirar o dreno e fazer um novo penso, disse que eu estava ótima e que podia ir para casa, mas que tinha que ter cuidado, durante uns dias não podia correr nem saltar, nadar, nem agarrar em pesos. A enfermeira disse que depois do almoço, fosses falar com ela, - disse levando à boca o último pedaço da maçã reineta assada.

Vendo que a filha acabara de comer, Helena afastou o carro-tabuleiro e puxou uma cadeira para junto da cama. Antes de se sentar perguntou:

-Queres que a mãe baixe a cabeceira um bocadinho?

-Não – disse com um ar aborrecido. -- Fiquei com as férias estragadas. Não posso brincar com os primos, nem ir nadar no rio. E eu estava tão contente em ir para a aldeia. Já não estou com os primos desde o Natal. E é sempre tão divertido estar com eles. É tão frustrante ser filho único. Por isso, gosto tanto de acampar, e por isso não te avisei logo quando começaram as dores.

Helena sentiu um aperto no peito. Nunca se dera conta da solidão que a filha sentia.

- Queres ler um pouco? Vamos ter que esperar que nos deem os documentos da alta para poderes sair.

- Não. Esqueci-me de te dizer. O doutor Gonçalo, disse que precisava falar contigo, e deixou um cartão para lhe telefonares. Está dentro do livro. Fiquei a pensar, se haveria alguma coisa de errado comigo, mas ele disse que é qualquer coisa relativo ao teu trabalho. Não sabia que ele era teu cliente.

E com essas palavras a menina encostou-se para trás e fechou os olhos.

Com mãos trémulas, Helena apressou-se a pegar no livro e a procurar o cartão que guardou na sua carteira.

 

 

 

15 comentários:

noname disse...

Curiosa com o que virá a seguir :)

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Um cartão no interior do Princepezinho?
Vem aí magia.
Bfds

Tintinaine disse...

Aproxima-se a hora da verdade! Vai correr tudo bem, não precisas de estar tão nervosa!
Bom fim de semana!

Maria João Brito de Sousa disse...

BONITA, ESTA IDEIA DE DEIXAR UM CARTÃO DENTRO DA OBRA-PRIMA DE SAINT ÉXUPÉRY :)

FORTE ABRAÇO, ELVIRA!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei deste capítulo.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Muito lindo mais esse capítulo,que nos faz esperar mais e mais! beijos, chica, lindo fds e te cuida!

Janita disse...

Tomara que a medrosa Helena encare os factos de frente e saiba ouvir o que o pai da filha tem para lhe dizer, ou melhor, tem para lhe perguntar. O pobre médico desnorteado e desmemoriado, com tudo o que se passou, deve ter mais para perguntar do que para responder, penso eu de que.

Um abraço, bom fim de semana.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Um belo capítulo!
Que fará Lena? Ligará?
Está num momento crucial a história.
Um beijinho e bom fim de semana.
Ailime

Edum@nes disse...

Helena, telefona já para o Dr. Gonçalo, não deixes passar mais tempo, porque o tempo passa a correr e não espera por ninguém.

Com saúde e alegria tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço

teresadias disse...

Lindo, lindo este capítulo!
E como sempre, quando acabei de o ler quis logo ler mais...
E que bom foi ver aqui «O Principezinho».
Beijo, bom fim-de-semana senhora contista.

Cidália Ferreira disse...

Maravilhoso episódio. Adorei :)
*
Traço as linhas do meu horizonte
-
Beijos e um bom fim de semana.

Emília Pinto disse...

A história está a correr bem, Elvira. Desejo-te um bom fim de semana, com SAÚDE. Um beijinho
Emilia

aluap disse...

Vê-se que o Gonçalo tem berço, daí não ter seguido o conselho do amigo e ainda deixar o seu cartão dentro do livro. Desconfio que a próxima conversação entre os dois virá e aí vão "pôr os pontos nos i's"!
Bom fim de semana.
Um abraço.

lourdes disse...

Mais um bocadinho...
O que será que o Gonçalo lhe vai dizer? Aguardemos pelo desenvolvimento.
Bjs

Fê blue bird disse...

Bem, a Matilde já conheceu o Gonçalo e gostou dele o que é positivo.
Agora falta a mãe telefonar para saber o que Gonçalo tem para lhe dizer.
tudo se está a compor .

Abraço, saúde e continuação de bom fim de semana, Elvira.